segunda-feira, 16 de março de 2009

Contribuições da crítica

Por Ronaldo F. Cavalcante

Mais um ano que se inicia. Novas gerações chegando à escola. E nós, facilitadores, temos o semi-divino dever de, com paciência, estarmos preparados para lhes dar boas vindas, prontos para repassar-lhes tudo de bom que absorvemos com o árduo trabalho das gerações anteriores, na esperança de que essa geração receba esses conhecimentos, deles sejam dignos, incremente-os com melhora, e repasse-os integralmente às gerações futuras. Sabe-se que o educador não enche ou completa vasilha. Só acende a luz.

É mais um ano que nada muda na cantina. O que é perfeitamente compreensível, haja vista que as pessoas que decidem sobre a permanência, melhora, concorrência, e fiscalização, não são fiéis consumidores como nós, pobres mortais que saímos as vinte e duas horas do nosso trabalho. Dessa maneira não há uma avaliação (nem enquete) sobre preço, qualidade, atendimento, variedade e outros elementos necessários ao estudo de qualquer relação fornecedor-consumidor. E se há essa avaliação, devem achar que está tudo bem. Então, paciência...

Ainda estava desfrutando dessas reflexões obrigatórias dos primeiros dias de aula, em plena semana pedagógica, quando se senta ao meu lado um aluno antigo e já vai logo me provocando:

- E aí, o que o Sr. acha da possibilidade de mudança da cor tradicional da camisa da escola?

- Já tive conhecimento dessa possibilidade, e até ouvi sobre as opções esdrúxulas na qual a tradicional e centenária camisa azul celeste poderá ser abolida. Em seu lugar surgiria uma espécie de “meio-abadá”, como bem disse o anunciante do fato, com cores tipo branco gelo, verde-cana, vermelho-carmin, listas horizontais, inclinadas, e sabe lá Deus que outras aberrações podem surgir ainda nesse bloco. Espero que não tenhamos que aprender a tocar percussão. Eu sou terminantemente contra essa mudança. Não é imperativo atender o novo, “criativo” e sugestivo logotipo. Até porque a Escola tem autonomia para isso.

Que esse logotipo permaneça com suas cores e deixe em paz a nossa camisa. Porque nesse caso, não em todos, eu sou a favor da tradição, apesar de já terem escrito que tradicionalismo é idiotice. Mas, qual dirigente de país, estado, município, time de futebol e outras agremiações teriam coragem de sugerir a mudança nas cores de seus pavilhões? Tradição é tradição, como próprio nome diz, não se muda. E pt saudações (como se telegrafava antigamente. Não mudar a pontuação). Eu vou permanecer fiel ao azul celeste, pelo menos durante este restinho de tempo que tenho ainda na escola, nesse meu estágio de pé-na-cova.

- Já pensou: eu torcedor fanático do Bahia, vestindo uma farda do fluminense? Vou ser massacrado em dia de jogo – sorriu o meu interlocutor.

Alguns dias se passaram até eu ser provocado novamente. Desta vez por um professor de renome da escola, durante um almoço, acerca de um bombástico e-mail lançado na intranet, por sinal muito bem redigido, que chamava a atenção da comunidade sobre democracia na Escola.

- Não sei se você também, mas eu achei muito importante a contribuição do professor escrevendo sobre o tema “demagogia e democracia”. Acho que não tem nenhuma mentira ali, mas alguns não gostaram.

- É como você mesmo disse: não deixa de ser uma contribuição. É sabido que a crítica ajuda a melhorar o produto final, além de ser um direito de cidadania e referencial de qualquer democracia (mesmo que seja a dita radical). Como não há direitos sem obrigações, é correto dizer que as críticas devem ser acompanhadas de sugestões corretivas.

- Mas e quando não se aceitam sugestões?

- Veja bem, meu caro: Albert Einstein foi um dos maiores cientistas da humanidade. Isso não impediu que ele fosse uma das pessoas mais criticadas do mundo, e até humilhada por várias vezes. No entanto ele era um defensor ardoroso da crítica, pois achava que sem a crítica não haveria nenhum progresso em nenhuma área. E ele sempre mudava de opinião quando a crítica era razoável. Certa feita, ao ser perguntado sobre qual benefício sua lei da relatividade traria para o ser humano ele calou-se. Tempos depois estava criticando em público todas as nações que desenvolvia a bomba de hidrogênio, se comprometendo contra as armas nucleares e a favor da paz. (vídeo no rodapé).

- Sim, mas ele também disse que a fórmula para o sucesso é: trabalho + lazer + boca fechada.

- Mas nesse tempo ele ainda era jovem. Veja que já foi dito que pode não ser ético em instituições públicas serem cobradas quaisquer tipos de taxas; usarem-se artifícios para conseguir manter uma coesão entre pares; indicarem-se dirigentes visando alianças nas próximas eleições, etc., mas é legal. E isso basta, considerando que poucos têm a firmeza ou competência para mostrar que nem sempre o que é lícito é também ético.

É nesse contexto que os ditos heróis da resistência surgem para mostrar, através das críticas, aquilo que eles acham que pode melhorar. Esperam eles que essas críticas sejam respondidas pelos criticados, e não pelos D’Artagnans da vida que, na melhor das intenções, criam uma cortina de fumaça durante um embate infrutífero, dificultando um esclarecimento maior dos fatos. Daí surge uma acomodação e o pacto com Mefistófeles, qual o personagem da obra de Goethe.

- Ainda mais agora que estamos em plena adaptação dos novos rumos.

- E é aí que aparece o incontestável paradoxo: contradizer a autoridade burocrática e sobreviver academicamente; criticar e viver nesse ambiente negado. Para Tragtenberg (1993) é preciso sobrevier sem sacrificar a liberdade e o espírito crítico, mesmo sabendo das dificuldades para que isso aconteça.

IF-Bahia
Dep. III - Mecânica
Ronaldo F. Cavalcante


Conversa de Cantina n.45-Contribuições da crítica.

http://www.conversadecantina.blogse.com.br/blog/conteudo/home.asp?idblog=15843


segunda-feira, 9 de março de 2009

A Demagogia sobre Democracia, Transparência e Compromisso: Parte I

Por Marcus Vinícius Teixeira Navarro

Nos últimos 20 anos convivemos e/ou participamos (no Brasil, na Bahia e no CEFET) de diversos movimentos populares, clamando por uma tríade que seria responsável por nossa transformação em uma sociedade mais justa: Democracia-Transparência-Compromisso (com as Instituições Públicas).

Entretanto, esses movimentos populares eram, sem exceção, coordenados e aparelhados por grupos e/ou partidos políticos que, apenas utilizavam os movimentos populares como trampolim. Quando conseguiram chegar ao poder (no Brasil, na Bahia e no CEFET) implantaram práticas antidemocráticas, obscuras/nebulosas e sem compromisso com as instituições públicas, ficando muito claro que os discursos inflamados, os panfletos indignados e as passeatas gigantescas, não passavam da mais pura prática da demagogia com fins eleitorais.

Não podemos mais continuar calados diante das absurdas práticas implantadas no CEFET/IFBA, jamais vistas nos 100 anos de história Institucional. Assim, pretendo escrever 3 textos sobre cada um dos elementos da tríade, iniciando pela democracia.

Quando os atuais gestores conseguiram o poder, no CEFET/IFBA, começamos a ouvir discursos proclamando que a marca registrada da gestão, seria a radicalização da democracia.

Bem, desde então, penso sobre o que seria “radicalizar a democracia”. Inicialmente, fiquei muito animado, imaginando que seria implantado um sistema democrático, tão democrático, mas tão democrático, que talvez fosse até criado um “Prêmio Nobel da Democracia” para premiar o fato mais importante, depois da criação da própria democracia, que seria a “democracia radicalizada” ou a “radicalização da democracia”. Contudo, meu sonho durou poucos minutos e nos primeiros dias já se transformava em pesadelo, pois a decepção venceu a esperança de algo novo e transformador. A “radicalização da democracia”, na verdade, era a terrível demagogia da democracia.

Podemos dizer que esses grupos e/ou partidos políticos, descobriram a caixa de Pandora da demagogia e estão utilizando todo o seu poder, com todas as forças. Mas seu uso foi tão desmedido que, com apenas poucos anos de gestão, os poderosos mandamentos das falácias demagógicas foram revelados para o público, diminuindo seu poder e possibilitando seu fim!

Encontrei, em um pedaço de papel rasgado no chão, os 10 mandamentos para “reinar” com a demagogia da democracia, sendo eles:

1. Critique a falta de eleições nas unidades, mas, quando chegar ao poder, só realize eleições na unidade que tenha a certeza da Vitória. Nas outras unidades, indique um “pro-tempore” interventor, para que possa governar sem repartir o poder;

2. Combata o assédio moral e clame pela formação de uma comissão de ética ampla, autônoma e democrática. Mas, quando chegar ao poder, não cometa o erro de realizar eleição (nem por demagogia) e indique os seus membros. O presidente deve ser um dos que possuem cargo de direção, para garantir obediência e que nenhum dos seus será molestado;

3. Defenda o orçamento participativo. Mas, pelo amor ao poder, não cometa esta tentação! Concentre todo o poder financeiro não mão de uma só pessoa. Assim, com o poder da caneta financeira, manterá os aliados e “conquistará” outros. Para os demais, basta entregá-los os lentos trâmites burocráticos;

4. Reivindique a participação da comunidade nas reformas administrativas. Quando chegar ao poder, se precisar realizar alguma reforma administrativa, crie uma comissão ou uma discussão na internet, só para a comunidade pensar que participa (lembre sempre da máxima dos nossos mestres, não precisa ser democrático, basta parecer) e implante, na canetada, a reforma que você deseja. Melhor será se tudo for feito sem comunicar à comunidade, pois, assim, ninguém saberá quais são os novos órgãos, muito menos para que sirvam, possibilitando uma gestão sem nenhum controle da comunidade;

5. Participe de sindicatos livres e autônomos. Mas, quando chegar ao poder, aparelhe e cale os sindicatos. Estas instituições aparelhadas são de grande valia para se perpetuar no poder;

6. Discurse sobre o valor e os direitos dos recém chegados na Instituição. Faça-os se sentirem devendo um favor pelo cargo público que conseguiram. Caso algum ouse questionar o poder, utilize o instrumento, legal, da avaliação de estágio probatório para transformar os rebeldes em aliados ou em ex-servidores;

7. Denuncie a ausência discente dos conselhos. Mas, quando chegar ao poder cuidado, esses jovens podem causar muitos problemas. Assim, só fomente a eleição e participação se tiver certeza que um dos seus será eleito. Caso contrário, finja-se de morto e não toque neste assunto;

8. Clame por publicações e/ou informativos produzidos pela comunidade, principalmente dos estudantes. Mas, muita calma nessa hora, quando assumir o poder não deixe essa turma escrever o que quer, isso é um perigo!. Indique, democraticamente, um tutor para tais publicações, garantindo que não críticas não serão publicadas, nem críticas construtivas, pois nós gostamos mesmo é de elogios;

9. Afirme, constantemente, que trata todos iguais. Mas, não permita que sua equipe pratique esse erro. Nas reuniões fechadas, lembre sempre que os seus são mais iguais que os outros;

10. Lembre, a cada momento, que a demagogia lhe confere o poder divino. Assim, se algum mortal ousar dirigir alguma crítica à sua gestão, não responda. Os deuses não se comunicam com os mortais e nenhum mortal é digno de criticar o divino. Logo, deve fazer cair sobre o indigno toda a sua ira e de seus aliados, pois assim, só assim, servirá de exemplo para evitar novas blasfêmias.


Prof. Marcus Vinícius Teixeira Navarro

Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia

Núcleo de Tecnologia em Saúde – NTS

Laboratório de Física Radiológica – LAFIR

Rua Emídio dos Santos S/N Salvador-Ba

CEP 40.301-015 Fone/FAX: 55 71 2102-9451

sábado, 7 de março de 2009

AS ROSAS DO CUME

Poesia. Um momento mágico.
Esta, ouvi muitas vezes declamada por um dos tios de minha amada, senhor pra lá dos 80 e dono de um humor de moleque...

No cume daquela serra
Eu plantei uma roseira
Quanto mais as rosas brotam
Tanto mais o cume cheira

À tarde, quando ao sol posto
O vento no cume beija
Vem travessa borboleta
E as rosas do cume deixa

No tempo das invernias
Que as plantas do cume lavam
Quanto mais molhadas eram
Tanto mais no cume davam

Quando cai a chuva fina
Salpicos no cume caiem
Abelhas no cume entram
Lagartos do cume saem

Mas, se as águas vêm correndo
O sujo do cume limpam
Os botões do cume abrem
As rosas do cume brincam

Tenho, com certeza agora
Que no tempo de tal rega
Arbusto por mais mimoso
Plantado no cume, pega

E logo que a chuva cessa
Ao cume leva alegria
Pois volta a brilhar depressa
O sol que no cume abria

À hora de anoitecer
Tudo no cume escurece
Pirilampos do cume brilham
Estrelas no cume aparecem

E quando chega o Verão
Tudo no cume seca
O vento o cume limpa
E o cume fica careca

Vem, porém, o sol brilhante
E seca logo em catadupa
O mesmo sol, a terra abrasa
E as águas do cume chupa

As rosas do cume espreitam
Entre as folhagens d'além
Trazidas da fresca brisa
Os cheiros do cume vêm

E quando chega o Inverno
A neve no cume cai
O cume fica tapado
E ninguém ao cume vai

No cume dessa montanha
Tem um olho de água à beira
É uma água tão cheirosa
Que a multidão ansiosa
O olho do cume cheira.

AUTOR: Não tenho a menor idéia.

O anúncio de Olavo Bilac

O anúncio de Olavo Bilac Autoria desconhecida Certa vez, um grande amigo do poeta Olavo Bilac queria muito vender uma propriedade rural, um ...