sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

A arma de fogo é a civilização

Ela anula a tirania do mais forte e protege a integridade do mais fraco

 Marko Kloos

terça-feira, 15 jan 2019

 (Artigo extraído do MISES BRASIL,  https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2146)



Os seres humanos têm apenas duas maneiras de lidar uns com os outros: por meio da razão e por meio da força.

Se você quer que eu faça algo por você, há duas opções: ou você me convence por meio de um argumento racional ou você recorre à ameaça de violência.

Toda e qualquer interação humana necessariamente recai em uma dessas duas categorias. Sem exceção. Razão ou força. E só.

Em uma sociedade genuinamente moral e civilizada, as pessoas interagem exclusivamente por meio da persuasão. A força não é um método válido de interação social. 

Sendo assim, e por mais paradoxal que isso possa parecer para alguns, a única ferramenta que pode remover a força dessa lista de opções é uma arma de fogo pessoal.

E o motivo é simples: quando estou portando uma arma de fogo, você não pode lidar comigo por meio da força. Você terá de utilizar apenas a sua razão e a sua inteligência para tentar me persuadir. Portando uma arma de fogo, eu tenho uma maneira de neutralizar a sua ameaça ou o seu uso da força.

A arma de fogo é o único objeto de uso pessoal capaz de fazer com que uma mulher de 50 kg esteja em pé de igualdade com um agressor de 100 kg; com que um octogenário esteja em pé de igualdade com um marginal de 20 anos; e com que um cidadão sozinho esteja em pé de igualdade com 5 homens carregando porretes. 

A arma de fogo é o único objeto físico que pode anular a disparidade de força, de tamanho e de quantidade entre um potencial agressor e sua potencial vítima.

Há muitas pessoas que consideram a arma de fogo como sendo o lado ruim da equação, a fonte de todas as coisas repreensíveis que acontecem em uma sociedade. Tais pessoas acreditam que seríamos mais civilizados caso todas as armas fossem proibidas: segundo elas, uma arma de fogo facilita o "trabalho" de um agressor. 

Mas esse raciocínio só é válido, obviamente, se as potenciais vítimas desse agressor estiverem desarmadas, seja por opção ou por decreto estatal. Tal raciocínio, porém, perde sua validade quando as potenciais vítimas também estão armadas.

Pessoas que defendem a proibição das armas estão, na prática, clamando para que os mais fortes, os mais agressivos e os mais fisicamente capacitados se tornem os seres dominantes em uma sociedade — e isso é exatamente o oposto de como funciona uma sociedade civilizada. 

Um criminoso só terá uma vida bem-sucedida caso viva em uma sociedade na qual o estado, ao desarmar os cidadãos pacíficos, concedeu a ele o monopólio da força. Quando as armas são restringidas por lei, não há nenhum motivo para se acreditar que criminosos irão obedecer a esta lei. Pessoas que utilizam armas para infringir a lei também infringirão a lei para obter armas. A máxima segue irrefutável: se as armas forem criminalizadas, apenas os criminosos terão armas.

E há também o argumento de que uma arma faz com que aquelas brigas mais corriqueiras, as quais em outras circunstâncias resultariam apenas em pessoas superficialmente machucadas, se tornem letais. Mas esse argumento é multiplamente falacioso. 

Em primeiro lugar, se não houver armas envolvidas, todos os confrontos serão sempre vencidos pelo lado fisicamente superior, o qual irá infligir lesões e ferimentos avassaladores ao mais fraco. Sempre.

Ademais, pessoas que acreditam que punhos cerrados, porretes, pedras, garrafas e cacos de vidro não constituem força letal provavelmente são do tipo que acreditam naquelas cenas fantasiosas que veem nos filmes, em que pessoas tomam variados socos, pauladas e garrafadas na cabeça e ainda continuam brigando impavidamente, no máximo com um pouco de sangue nos lábios.

O fato de que uma arma de fogo facilita o uso de força letal é algo que funciona unicamente em prol da vítima mais fraca, e não em prol do agressor mais forte. O agressor mais forte não precisa de uma arma de fogo para aniquilar sua vítima mais fraca. Já a vítima mais fraca precisa de uma arma de fogo para sobrepujar seu agressor mais forte. Se ambos estiverem armados, então estão em pé de igualdade.

A arma de fogo é o único objeto que é tão letal nas mãos de um cadeirante quanto nas mãos de um halterofilista. Se ela não fosse nem letal e nem de fácil manipulação, então ela simplesmente não funcionaria como instrumento equalizador de forças, que é a sua principal função.

Quando estou portando uma arma, eu não o faço porque estou procurando confusão, mas sim porque quero ser deixado em paz. A arma em minha cintura significa que não posso ser coagido e nem violentado; posso apenas ser persuadido por meio de argumentos racionais. 

Eu porto uma arma não porque tenho medo, mas sim porque ela me permite não ter medo. A arma não limita em nada as ações daqueles que querem interagir comigo por meio de argumentos; ela limita apenas as ações daqueles que querem interagir comigo por meio da força.

A arma remove a força da equação. E é por isso que portar uma arma é um ato civilizado. 

Uma grande civilização é aquela em que todos os cidadãos estão igualmente armados e só podem ser persuadidos via argumentos racionais, jamais coagidos.



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domingo, 13 de novembro de 2022

Carta do Padre Cícero escrita em 1930




"Caríssimos fiéis:

Que a fé vos salve!
A horda vermelha ameaça, com suas garras de abutre, destruir a nossa felicidade, perturbando a paz do Brasil em seus fundamentos seculares – a própria organização da família, célula mater da sociedade cristã.

A Igreja de Jesus Cristo, que tem sido em todos os tempos visada com ódio e rancor, pelos pregadores de ideias subversivas, é nesta hora de graves apreensões para a grande pátria do Cruzeiro, o alvo predileto dos emissários de Satanás.

Acenando com a falsa bandeira do liberalismo, a besta fera do apocalipse atira suas patas de fogo, contra a estabilidade de nossas instituições! Ai daqueles que prestarem seu auxílio aos inimigos de Deus.

As lavas ardentes do vulcão bolchevista lamberão a face da terra, e sob os escombros da fé, calcinada pelas labaredas do Anticristo, ressurgirão Sodoma e Gomorra. De pé, cristãos do Brasil. Guerra de morte aos que empunharem a bandeira vermelha do liberalismo, para estancar em nossas almas a fonte perene de fé, e entregá-la inerme nos braços de Satanás. Cegos serão todos aqueles que cerrarem os olhos à evidência da verdade!

Juazeiro, fevereiro de 1930.

Ass. Padre Cícero Romão Batista"



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O que é a Janela de Overton?

O que é a Janela de Overton? 
Entenda esta estratégia de manipulação da opinião pública

11 de novembro de 2022



Redação Brasil Paralelo


Muitas pessoas pensam que têm opinião formada sobre um assunto. Na verdade, não é difícil que elas tenham sido induzidas a pensar de uma certa maneira. Estudar o que é a Janela de Overton revelará uma estratégia de manipulação da opinião pública.

Se uma pessoa está na mesma posição contemplando a paisagem através de uma janela, tudo o que ela vê está delimitado pelas esquadrias e pelo batente. À medida que se levanta e se aproxima da janela, o horizonte se amplia.

A Janela de Overton muda paisagens ou amplia limites no campo das ideias, mas com consequências na sociedade.


O que você vai encontrar neste artigo?

O que é a Janela de Overton?
Origem e conceito da Janela de Overton
É possível deslocar a Janela de Overton?
Think tanks – Os influenciadores que deslocam a Janela de Overton
Quais são as etapas da Janela de Overton? Como mudar a opinião pública?
O perigo da manipulação invisível
As consequências da Janela de Overton e os cuidados necessários
Exemplos da Janela de Overton
Teoria da conspiração


O que é a Janela de Overton?
A Janela de Overton, ou Janela do Discurso, descreve o conjunto de ideias que a população tolera. É o grau de aceitabilidade de uma opinião na sociedade.

Ela registra como a maioria das pessoas pensa em um certo momento, sobre um determinado assunto.

Os assuntos podem se deslocar entre um extremo, absolutamente contrário, para outro, absolutamente favorável. A janela é a faixa que concentra o que a maioria aceita.

“A aceitabilidade da opinião pública determina a viabilidade política de um fato”.
Emitir opiniões fora da janela social considerada aceitável pode significar ser rejeitado. Opinar sobre o que está além do pensamento da janela pode ser um desastre para a popularidade de um candidato político.

As etapas da Janela de Overton são:

Inaceitável;
Verossímil (talvez pense nisso);
Neutralidade (sem opinião formada);
Provável (é possível concordar);
Inevitável (ou aceitável).




Origem e conceito da Janela de Overton

A expressão deriva do nome de seu criador, Joseph P. Overton, ex-vice-presidente do Centro de Políticas Públicas de Mackinac, Michigan, EUA. Ele criou este termo para a segurança pública.

Em seus estudos ele explicou que diversos atores sociais podem escolher não apenas o que as pessoas pensam, mas também como elas pensam.

Para descrever o fenômeno que mais tarde seria conhecido como Janela de Overton, ele afirmou que para uma ideia ter viabilidade na sociedade, precisa passar pela “janela” social, não bastando serem apenas preferências individuais dos políticos.

Segundo Overton, a janela inclui um conjunto de políticas consideradas aceitáveis no momento em que a opinião pública as recebe. Um candidato político poderá recomendar este conjunto de ideias sem ser considerado excessivamente extremo.

O conceito demonstra o que a sociedade considera aceitável ou não em um dado momento. Se alguma figura pública quiser aceitação social, deve emitir opiniões que variem dentro da janela considerada aceitável.

Outra característica da Janela de Overton é que ela não é estática.

É possível deslocar a Janela de Overton?

A Janela de Overton não é fixa. O conceito não engloba apenas a definição, ou seja, a determinação do que a maioria aceita. Saber isto é apenas uma etapa. É possível mudar a aceitação das pessoas. É possível manipular a opinião pública.

Para que a Janela de Overton se desloque, é preciso que a população mude sua opinião sobre um tema. Isto acontecerá se as pessoas forem convencidas de novas ideias, ou pelo menos persuadidas a pensarem contra o que normalmente era aceito.

Muitas pessoas manipulam a opinião pública para aceitar o que antes era inaceitável.

As mudanças realizadas na Janela de Overton podem mudar a opinião de “inaceitável” para “verossímil”, “neutralidade” e progredir para “inevitável”. Ou vice-versa, levando as pessoas da aprovação à desaprovação de algo.

Em geral, os governos gastam dinheiro para vender “ideias” e conquistar a opinião pública. Os sentimentos sociais são detectados e começa-se um trabalho para neutralizá-los e, em seguida, mudá-los.

Os deslocamentos, por exemplo, vão desde a mudança da aceitação do cigarro em lugares públicos e fechados, por causa da propaganda antitabagista recorrendo a cientistas, até temas de cidadania, aborto, sexualidade e criminalização de drogas.

Em vários casos, é utilizada a estratégia do Cavalo de Troia. Leia mais sobre esta tática, que faz parte da estratégia de deslocamento da janela.


Think tanks – Os influenciadores que deslocam a Janela de Overton

A Janela de Overton é deslocada principalmente por políticos, assessores de imprensa, institutos de pesquisa, relações públicas, agências de lobby e demais influenciadores. Por esta razão, professores, youtubers, instagramers e similares são mobilizados.

Overton chamou esses agentes, líderes carismáticos, de think tanks, pois colaboram na formação de opinião de seu público, deslocando a janela de aceitação de uma ideia.

Um exemplo enfático que retrata como a opinião pública pode mudar, é a escravidão. Há 150 anos, as pessoas consideravam isto algo natural, normal. A mudança de opinião pode acontecer de uma forma natural ou forçada.

Os think tanks muitas vezes desviam o foco de um tema principal e começam a pautar assuntos adjacentes. Desta forma, o discurso torna-se mais aceitável até que a percepção das pessoas tenha mudado.

Considerando a escravidão, antes de ser completamente abolida, primeiro foi abolido o tráfico negreiro. A mudança aconteceu gradualmente. Foram necessários anos para aprovar leis que dificultavam cada vez mais a escravidão até que a Lei Áurea fosse assinada.

Em 40 anos, a janela da escravidão mudou no Brasil de absolutamente favorável para absolutamente inaceitável.

O jogo de influências que se profissionalizou

A influência pode ser negativa ou positiva, como no exemplo abolicionista.

Ainda assim, o jogo de influências se profissionalizou. Atualmente, foi formada uma indústria especializada em moldar a opinião pública. São assessores de imprensa, publicitários, cientistas políticos, pesquisadores, cientistas, youtubers, políticos e qualquer formador de opinião.

Por estas razões, e por causa destas estratégias, entender o que é Janela de Overton e como ela é usada, torna-se fundamental para entender a complexidade da sociedade.

Gerações podem ser envolvidas no processo de mudança de pensamento. Se não for possível mudar a concepção dos pais, as escolas tornam-se o alvo e prepara-se uma geração que aceita o que os think tanks querem desde o momento em que entram na escola ou acessam a Internet.

Em tempos pacíficos, as discussões sociais são conduzidas lenta e gradualmente. Afinal, a Janela de Overton pode ser definida como a zona de conforto da opinião pública.


Quais são as etapas da Janela de Overton? Como mudar a opinião pública?

1 – O estudo das circunstâncias

A Janela de Overton desloca-se a partir das circunstâncias. Grandes acontecimentos favorecem discursos que podem levar as pessoas a aceitarem o que não haviam pensado em aceitar.

A janela está fechada ou não se move para algum tema, extremamente rejeitado pela sociedade. Entretanto, alguns eventos de impacto podem abrir o espaço para discussão, tais como atentados, crises e doenças.

Por exemplo, após o atentado às torres gêmeas em 2001, os americanos aceitaram mais facilmente que o governo Bush ampliasse o acesso do Estado a informações privadas, novas regras em aeroportos e a guerra no Iraque.

Em 2009 e 2010, a crise econômica também levou os americanos a aceitar que o governo Obama interviesse em bancos, montadoras e seguradoras.

É possível tirar proveito do desespero, do medo, da insegurança, da ignorância e da fala de especialistas.

Por exemplo, as pessoas não estavam dispostas a usar máscaras quando não estavam doentes. Mas independentemente da lei obrigando o uso, elas aceitaram o uso por causa das falas dos especialistas e do foco midiático.

Por estas realidades, uma reflexão deve ser feita. Grandes eventos podem levar as pessoas a abrir mão de seus direitos.

Uma vez feito isto, não é tão fácil recuperá-los. Regras circunstanciais podem ser o pretexto para o estabelecimento de um novo comportamento, que pode até se tornar compulsório.

2 – A opinião se torna aceitável

O que era impensável começou a ser discutido. O próximo passo é conseguir a aceitação. O que antes era repudiado começa a se tornar normal e aqueles que discordam começam a ser mal vistos.

As percepções negativas da ideia em questão começam a deixar de ser negativas. Com o apoio da mídia, começa-se a ver como respeitável o que antes não era. A ideia se torna sensata.

3 – A popularidade da ideia aumenta




A opinião introduzida de acordo com os passos descritos, torna-se popular sendo veiculada em propagandas, filmes, novelas, séries e nos demais meios de entretenimento. Os artistas a apoiam e o novo fenômeno se torna mais presente no imaginário social.

A propagandas, por todos os meios possíveis, é uma das formas mais eficazes de atingir a opinião pública e criar um senso de unanimidade de pensamento. Antes que leis sejam compostas, os anúncios são criados.

4 – A ideia é politizada

Tal se torna a aceitação, que o legislativo propõe leis que regulamentam o que está sendo debatido.

O que começou como impensável, pela descrição da Janela de Overton, pode vir a tornar-se uma lei. A percepção pública pode ser mudada, por mais absurda que seja uma ideia.

O nazismo é um exemplo extremo desta realidade.

O perigo da manipulação invisível

A opinião pública recebe constantemente as pautas da imprensa, dos políticos e dos ativistas em geral. Muitas propagandas, discursos e apelações. As pesquisas também são comuns, sejam elas verdadeiras ou falsas.

As ideias são apresentadas como se já tivessem aceitação da sociedade, quando isto é apenas uma roupagem para que, criando a sensação de popularidade, as pessoas não se ocupem em ser contrárias.

Em 1928, no livro Propaganda, Edwards Bernays explicou que as pessoas tendem a se comportar de forma irracional ou impulsiva, especialmente quando estão inseguras. Nesta situação, discursos fortes e emotivos podem manipular suas decisões.

“Somos governados, nossas mentes são moldadas, nossos gostos são formados, nossas ideias são sugeridas, em grande parte por homens dos quais nunca ouvimos falar… Somos dominados por um número relativamente pequeno de pessoas… que entendem os processos mentais e os padrões sociais das massas. São eles que puxam os fios que controlam a mente do público, que aproveitam as velhas forças sociais e criam novas maneiras de ligar e guiar o mundo”.

O controle da sociedade através do discurso

Indústrias, empresários, governos, grupos com interesses definidos costumam ser os principais agentes que movimentam o dinheiro utilizado em propaganda para manipular a sociedade.

São feitos esforços para que seja natural para as pessoas aceitarem o que nem sequer seria uma opção.

O discurso é o principal meio. A partir dos estudos de Freud, Psicologia do Grupo e A Análise do Ego, Bernays também disse:

“Se entendemos o mecanismo e os motivos da mente grupal, não é possível controlar e regimentar as massas de acordo com nossa vontade sem que elas saibam disso?”

As consequências da Janela de Overton e os cuidados necessários

O deslocamento de opinião pode ser louvável ou condenável. Nem tudo é manipulação e a Janela de Overton não precisa ser considerada negativa em sua essência. Entretanto, é preciso ter cuidado com as ideias que os agentes sociais apresentam.

É natural que mudanças e deslocamentos aconteçam impulsionados por apelos aos fatos e à lógica, à moral e às emoções. Os casos imorais são movidos por campanhas de desinformação.

Casos notórios são:

Ideologia de Gênero;
Black Lives Matter;
Antifa.

Buscar as reais motivações por trás dos discursos é fundamental. É mais seguro não acreditar apenas no que é dito, mas procurar saber por que é dito e se não há intenção oculta por trás.

O principal esforço deve ser o de descobrir se as estratégias utilizadas para mobilizar a opinião pública envolvem mentiras.

A atenção nos debates deve estar voltada para os termos associados a algum tema, ou o foco principal. Qualquer um que queira deslocar a Janela de Overton, não irá contrariar um tema de frente, mas buscará maneiras suaves de fazê-lo.

A percepção da manipulação da opinião pública pode girar em torno de um desvio do assunto principal.

“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”
Esta frase é de Joseph Goebbels, ministro da propaganda na Alemanha Nazista. Os nazistas sabiam que, para mudar a aceitação das pessoas, seria necessário lutar no campo das ideologias.

Por esta razão, foi criado o ministério da propaganda. Os alemães eram constantemente alvejados com a ideia de que pertenciam a uma raça superior, a raça ariana.

Quando a concepção de superioridade se consolidou, a sociedade estava naturalmente menos distante da ideia de que aqueles que não eram arianos não tinham a mesma importância. Consequentemente, era mais fácil conseguir que o povo alemão concordasse com o extermínio dos judeus.

As batalhas começam no campo do discurso, mas chegam à realidade e impactam a vida de todos.

Exemplos da Janela de Overton

A seguinte sequência de exemplos é atual e reflete os acontecimentos que a maioria das pessoas experimenta no dia a dia. São a melhor forma para entender de forma aplicada o que é a Janela de Overton.

1 – Aborto




A população brasileira, em geral, é contrária ao aborto. Para que a ideia de descriminalizar o aborto seja aprovada, é necessário deslocar a janela, indo de “inaceitável” a “inevitável”. Antes, é preciso passar pela neutralidade.

Por esta razão, iniciam-se campanhas que tratam dos “direitos da mulher” e a palavra aborto começa a não ser usada. O primeiro passo é fazer a opinião pública pensar que o feto é parte do corpo da mulher e não outro ser humano.

Outra etapa consiste em conquistar os afetos das pessoas falando do número de mortes clandestinas causadas por abortos não autorizados. A tática aceita a mentira para mobilizar os sentimentos e são usados números exorbitantes.

Fala-se de crianças abandonadas por suas mães, que seriam violentadas e acabariam ameaçando a sociedade ao crescerem em uma vida de traumas e crimes.

Se os pró-vidas são silenciados e não podem alertar a sociedade sobre as mentiras usadas, a janela muda e o aborto, antes reprovado, passa a ser aprovado.

2 – Natureza

Exemplos menores também ilustram bem o que é a Janela de Overton. Basta considerar a sacola plástica no supermercado. Não se muda a ideia do consumidor dizendo-lhe que as compras serão levadas para casa em caixas de papelão.

É preciso falar da preservação da natureza.

3 – Privatizações

Em 2005, se a privatização da Petrobrás fosse discutida, a ideia seria inaceitável. Com todos os escândalos de corrupção que chegaram ao conhecimento público, a ideia de privatização saiu do inaceitável e começou a migrar para o provável nos dias de hoje.

Os Correios já se encontram no nível considerado inevitável.

Teoria da conspiração

Qualquer um que entenda o que é Janela de Overton corre o risco de se preocupar de forma exagerada. Alguns começam a considerar que tudo o que acontece na sociedade é parte de um plano estrategicamente pensado para moldar a opinião pública.

Nem tudo o que acontece é arquitetado e planejado. Muitas mudanças acontecem por causa do desenvolvimento humano natural. O conhecimento também leva a mudanças graduais.

Para saber se há ou não manipulação, é recomendável analisar os argumentos, quem está propondo as ideias e quais serão as consequências.



A Brasil Paralelo é uma produtora independente. Conheça as produções foram feitas para resgatar os bons valores, ideias e sentimentos no coração de todos os brasileiros.






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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

O susto da garotinha

O susto da garotinha

11 de fevereiro de 2022

Estava na estrada estes dias indo visitar minha mãe quando vi na cidade de Iaçu-Ba uma chaminé bem alta soltado uma fumaça branca. Imediatamente me lembrei de uma história da garotinha Alice, filha de Ângelo, um amigo luso-brasileiro e professor de química da UFRJ.
Estavam em Arembepe, litoral norte da Bahia, trecho cheio de grandes lagoas de água salobra de um lado, e do outro, o oceano atlântico.
Era fim de tarde, estavam sentados em frente a uma destas lagoas. O sol estava se pondo já bem perto do horizonte, um pouco a esquerda de onde estavam, bem na direção de uma indústria, a Tibras que produzia óxido de titânio.
Foi neste momento que Alice percebeu as chaminés soltando uma fumaça branca para o alto. Arregalou os olhos, abriu a boca como se tivesse levado um susto, ou fizera uma imensa descoberta que salvaria o mundo.
O pai perguntou "o que foi, filha?"
Alice respondeu prontamente: já sei de onde vem as nuvens. Vem dali (apontando para a chaminé), da fábrica de nuvens.

Cidade de Iaçu-Ba. Foto: José Lamartine de AL Neto


Achei esta história tão encantadora, tão fantástica, unindo a realidade e fantasia. Mas onde quero chegar com isso?
Acredito que certas capacidade que temos com o tempo vão sendo adormecidas.
A capacidade de ter a mente aberta para perceber coisas novas, se encantar com as possibilidades que a vida oferece para aprender e crescer.
Por falar em crescer, Alice hoje é uma mulher feita, adulta e sabe o que sai da chaminé. Aprendeu estequiometria. Ela sabe que além de vapor saem outras coisas também. Se tornou mais madura. A maturidade deve aperfeiçoar nosso entendimento da vida. Aquilo que víamos de um jeito, hoje é de outro.
Dos dados e fatos da realidade pode-se tirar, com método, informação. O uso adequado da informação pode-se chegar ao conhecimento, mas somente fazendo o uso do conhecimento, com acertos ou erros, se chega a sabedoria. Não é possível ter sabedoria como um castelo nas nuvens e esperar que ele sobreviva, exceto no terreno da fantasia da Alice criança. Em vez disso constrói-se em alicerce firme dos fatos e da realidade como as bases das chaminés, mesmo que sejam inspiradas em contos de fadas, ou fábrica de nuvens.

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segunda-feira, 2 de maio de 2022

Ferreira Gullar, grande poeta e crítico

22/12/2012 às 17:00 \ Política & Cia 

Ferreira Gullar, grande poeta e crítico, ex-militante do Partido Comunista: “Não tenho dúvida nenhuma de que o socialismo acabou, só alguns malucos insistem no contrário”

 


Ferreira Gullar: "O empresário é um intelectual que, em vez de escrever poesias, monta empresas" (Foto: Ernani D'Almeida)
Publicado originalmente em 27 de setembro de 2012
 
Entrevista a Pedro Dias Leite, publicado em edição impressa de VEJA


UMA VISÃO CRÍTICA DAS COISAS

 
O poeta diz que o socialismo não faz mais sentido, recusa o rótulo de direitista e ataca: “Quando ser de esquerda dava cadeia, ninguém era. Agora que dá prêmio, todo mundo é”

Um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos, Ferreira Gullar, 82 anos, foi militante do Partido Comunista Brasileiro e, exilado pela ditadura militar, viveu na União Soviética, no Chile e na Argentina.
Desiludiu-se do socialismo em todas as suas formas e hoje acha o capitalismo “invencível”.
É autor de versos clássicos — “À vida falta uma parte / — seria o lado de fora — / para que se visse passar / ao mesmo tempo que passa / e no final fosse apenas / um tempo de que se acorda / não um sono sem resposta. / À vida falta uma porta”.
Gullar teve dois filhos afligidos pela esquizofrenia. Um deles morreu. O poeta narra o drama familiar e faz a defesa da internação em hospitais psiquiátricos dos doentes em fase aguda. Sobre seu ofício, diz: “Tem de haver espanto, não se faz poesia a frio”.
 
O senhor já disse que “se bacharelou em subversão” em Moscou e escreveu um poema em que a moça era “quase tão bonita quanto a revolução cubana”. Como se deu sua desilusão com a utopia comunista?

Não houve nenhum fato determinado. Nenhuma decepção específica. Foi uma questão de reflexão, de experiência de vida, de as coisas irem acontecendo, não só comigo, mas no contexto internacional. É fato que as coisas mudaram. O socialismo fracassou. Quando o Muro de Berlim caiu, minha visão já era bastante crítica.
A derrocada do socialismo não se deu ao cabo de alguma grande guerra. O fracasso do sistema foi interno. Voltei a Moscou há alguns anos. O túmulo do Lenin está ali na Praça Vermelha, mas pelo resto da cidade só se veem anúncios da Coca-Cola. Não tenho dúvida nenhuma de que o socialismo acabou, só alguns malucos insistem no contrário. Se o socialismo entrou em colapso quando ainda tinha a União Soviética como segunda força econômica e militar do mundo, não vai ser agora que esse sistema vai vencer.
 
Por que o capitalismo venceu?

O capitalismo do século XIX era realmente uma coisa abominável, com um nível de exploração inaceitável. As pessoas com espírito de solidariedade e com sentimento de justiça se revoltaram contra aquilo. O Manifesto Comunista, de Marx, em 1848, e o movimento que se seguiu tiveram um papel importante para mudar a sociedade.
A luta dos trabalhadores, o movimento sindical, a tomada de consciência dos direitos, tudo isso fez melhorar a relação capital-trabalho. O que está errado é achar, como Marx diz, que quem produza riqueza é o trabalhador e o capitalista só o explora. É bobagem. Sem a empresa, não existe riqueza. Um depende do outro. O empresário é um intelectual que, em vez de escrever poesias, monta empresas. É um criador, um indivíduo que faz coisas novas.
A visão de que só um lado produz riqueza e o outro só explora é radical, sectária, primária. A partir dessa miopia, tudo o mais deu errado para o campo socialista. Mas é um equívoco concluir que a derrocada do socialismo seja a prova de que o capitalismo é inteiramente bom. O capitalismo é a expressão do egoísmo, da voracidade humana, da ganância. O ser humano é isso, com raras exceções.
O capitalismo é forte porque é instintivo. O socialismo foi um sonho maravilhoso, uma realidade inventada que tinha como objetivo criar uma sociedade melhor. O capitalismo não é uma teoria. Ele nasceu da necessidade real da sociedade e dos instintos do ser humano. Por isso ele é invencível.
A força que torna o capitalismo invencível vem dessa origem natural indiscutível. Agora mesmo, enquanto falamos, há milhões de pessoas inventando maneiras novas de ganhar dinheiro. É óbvio que um governo central com seis burocratas dirigindo um país não vai ter a capacidade de ditar rumos a esses milhões de pessoas. Não tem cabimento.
 
 

"O túmulo do Lenin está ali na Praça Vermelha, mas pelo resto da cidade só se veem anúncios da Coca-Cola" (Foto: ViagensImagens)
 
O senhor se considera um direitista?

Eu, de direita? Era só o que faltava. A questão é muito clara. Quando ser de esquerda dava cadeia, ninguém era. Agora que dá prêmio, todo mundo é. Pensar isso a meu respeito não é honesto. Porque o que estou dizendo é que o socialismo acabou, estabeleceu ditaduras, não criou democracia em lugar algum e matou gente em quantidade. Isso tudo é verdade. Não estou inventando.
 
E Cuba?

Não posso defender um regime sob o qual eu não gostaria de viver. Não posso admirar um país do qual eu não possa sair na hora que quiser. Não dá para defender um regime em que não se possa publicar um livro sem pedir permissão ao governo. Apesar disso, há uma porção de intelectuais brasileiros que defendem Cuba, mas, obviamente, não querem viver lá de jeito nenhum. É difícil para as pessoas reconhecer que estavam erradas, que passaram a vida toda pregando uma coisa que nunca deu certo.
 
Como o senhor define sua visão política?

Não acho que o capitalismo seja justo.
O capitalismo é uma fatalidade, não tem saída. Ele produz desigualdade e exploração. A natureza é injusta. A justiça é uma invenção humana. Um nasce inteligente e o outro burro. Um nasce inteligente, o outro aleijado. Quem quer corrigir essa injustiça somos nós. A capacidade criativa do capitalismo é fundamental para a sociedade se desenvolver, para a solução da desigualdade, porque é só a produção da riqueza que resolve isso. A função do estado é impedir que o capitalismo leve a exploração ao nível que ele quer levar.
 
Qual a sua visão do governo Dilma Rousseff?

Dilma é uma mulher honesta, não rouba, não tem a característica da demagogia. Mas ela foi posta no poder pelo Lula. Assim, não tem autoridade moral para dizer não a ele. Nesse aspecto, é prisioneira dele.
 
Como o senhor avalia a perspectiva de condenação dos réus do mensalão?

O julgamento não vai alterar o curso da história brasileira de uma hora para a outra. Mas o que o Supremo está fazendo é muito importante. É uma coisa altamente positiva para a sociedade. Punir corruptos, pessoas que se aproveitaram de posições dentro do governo, é uma chama de esperança.
 
 

 
"Há uma porção de intelectuais brasileiros que defendem Cuba, mas, obviamente, não querem viver lá de jeito nenhum" (Foto: AFP)
 
O senhor se identifica com algum partido político atual?

Eu fui do Partido Comunista, mas era moderado. Nunca defendi a luta armada. A luta armada só ajudou mesmo a justificar a ação da linha dura militar, que queria aniquilar seus oponentes. Quando fui preso, em 1968, fui classificado como prisioneiro de guerra. O argumento dos militares era, e é, irrespondível: quem pega em armas quer matar, então deve estar preparado para morrer.
 
O senhor condena quem pegou em armas para lutar contra o regime militar?

Quem aderiu à luta armada foram pessoas generosas, íntegras, tanto que algumas sacrificaram sua vida. Mas por um equívoco. Você tem de ter uma visão critica das coisas, não pode ficar eternamente se deixando levar por revolta, por ressentimentos. A melhor coisa para o inimigo é o outro perder a cabeça. Lutar contra quem está lúcido é mais difícil do que lutar contra um desvairado.
 
Como se justifica sua defesa da internação o tratamento da esquizofrenia?

As pessoas usam a palavra manicômio para desmoralizar os hospitais psiquiátricos. Internei meu filho em hospitais que têm piscina, salão de jogos, biblioteca. Mesmo os públicos não têm mais a camisa de força ou sala com grades. Tive dois filhos esquizofrênicos. Um morreu, o outro está vivo, mas não tem mais o problema no mesmo grau. Controlou com remédio, e a idade também ajuda. A esquizofrenia surge na adolescência e se junta à impetuosidade. Com o tempo, a pessoa vai amadurecendo. Doença é doença, não é a gente. Se estou gripado, a gripe não sou eu. A esquizofrenia é uma doença, mas eu não sou a esquizofrenia. Posso evoluir, me tornar uma pessoa mais madura, debaixo de toda aquela confusão. O esquizofrênico com 50 anos não é o mesmo de quando tinha 17.
 
Qual o pior momento na sua convivência com filhos esquizofrênicos?

Quando a pessoa entra em surto, ela pode se jogar pela janela. Meu filho, o Paulo, se jogou. Hoje ele anda mancando porque sofreu uma lesão na coluna. Ele conversava comigo, via televisão, brincava, lia meus poemas. Em surto, não tinha controle. Queria estrangular a empregada. Nessas horas, a única maneira é internar e medicar. Nesse estado, sem nenhum socorro, o esquizofrênico pode fazer qualquer coisa.
 
A família pobre faz o quê, se não tem mais onde internar?

Se mantiver a pessoa em casa, ela poderá tocar fogo em tudo, pegar uma faca e tentar assassinar o pai. Poderá fugir para a rua, desvairada. Essa política contra os hospitais psiquiátricos tem como resultado prático uma tragédia em que os ricos internam seus filhos em clínicas particulares e os pobres morrem na rua.
Quando ouço alguém dizer que as famílias internam os filhos porque querem se ver livres deles, só posso pensar que essa pessoa gosta dos meus filhos mais do que eu. Nunca viu meu filho, mas ama meu filho mais do que eu. Absurdo. Você não sabe o que é uma família ter um filho esquizofrênico. Além do problema do tratamento, existe o desespero de não saber o que fazer.
Os hospitais psiquiátricos continuam a existir porque os médicos sabem que não há outra saída. Não se interna um doente para que ele fique vinte anos lá dentro, mas sim três dias, três meses. Meus filhos nunca ficaram internados além do tempo necessário. Eles voltavam para casa normais. Era uma alegria. Nenhuma família quer ter seu filho preso.
 
Como foi a primeira vez que se defrontou com a doença?

O primeiro surto do Paulo foi no exílio, em Buenos Aires. Um dia, no apartamento, a gente estava brincando, a bola desceu pela escada, ele saiu para pegá-la e não voltou. Desci, ele tinha sumido. Em que direção eu ando? Voltei para casa e fiquei chorando, não sabia o que fazer. Paulo ficou meses sumido. Isso foi em 1974, logo que cheguei a Buenos Aires. Terminei encontrando-o preso. No desvario, ele tentou roubar um carro — não sabia nem dirigir — e foi preso. Fez greve de fome. Estava esquelético.
O policial disse que era preciso uma ordem para soltá-lo, porque era menor. Mas deixou que eu levasse meu filho, porque sabia que ele estava doente. Levei o Paulo para casa. Ele entrou e começou a arrebentar a janela. Morávamos no quinto andar. Ele foi internado. Até o dia em que, esperto como é, sumiu do hospital, para sempre. Foi encontrado em São Paulo. Saiu de Buenos Aires sem um tostão, com a roupa do corpo. Esses episódios não têm fim.
 
 

"Quando o poeta dentro de mim morrer, não escrevo mais" (Foto: Frâncio de Holanda)

Como é seu método para fazer poesia?

Já fiquei doze anos sem publicar um livro. Meu último saiu há onze anos. Poesia não nasce pela vontade da gente, ela nasce do espanto, alguma coisa da vida que eu vejo e que não sabia. Só escrevo assim. Estou na praia, lembro do meu filho que morreu. Ele via aquele mar, aquela paisagem. Hoje estou vendo por ele. Aí começo um poema… Os mortos veem o mundo pelos olhos dos vivos. Não dá para escrever um poema sobre qualquer coisa.
O mundo aparentemente está explicado, mas não está. Viver em um mundo sem explicação alguma ia deixar todo mundo louco. Mas nenhuma explicação explica tudo, nem poderia. Então de vez em quando o não explicado se revela, e é isso que faz nascer a poesia. Só aquilo que não se sabe pode ser poesia.
 
A idade é uma aliada ou uma inimiga do poeta?

Com o avanço da idade, diminuem a vontade e a inspiração. A gente passa a se espantar menos. Tem poeta que não se espanta mais, mas insiste em continuar escrevendo, não quer se dar por vencido. Então ele começa a escrever bobagens ou coisas sem a mesma qualidade das que produzia antes. Saber fazer ele sabe, mas é só técnica, falta alguma coisa. Não se faz poesia a frio. Isso não vai acontecer comigo. Sem o espanto, eu não faço.
Escrever só para fazer de conta, não faço. Eu vou morrer. O poeta que tem dentro de mim também. Tudo acaba um dia. Quando o poeta dentro de mim morrer, não escrevo mais. Não vou forçar a barra. Isso não vai acontecer. Toda vez que publico um livro, a sensação que tenho é de que aquele é o definitivo. Escrever um poema para mim é uma grande felicidade. Se não acontecer, não aconteceu.



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