[Escravos Cristãos, Senhores Muçulmanos: Escravidão Branca no Mediterrâneo, Costa Bárbara e Itália, 1500-1800 - Robert C. Davis]
Novo livro reabre o antigo
debate acerca de incursões escravistas sobre a Europa
Professor dos EUA afirma que
mais de 1 milhão de pessoas foram capturadas por piratas africanos
Rory Carroll, Africa
correspondent
Thursday March 11, 2004
The Guardian
Piratas do Norte da África capturaram e escravizaram mais de 1 milhão de europeus entre 1530 e 1780 numa série de incursões que despovoaram as cidades costeiras da Sicília a Cornwall, de acordo com a nova pesquisa.
Thursday March 11, 2004
The Guardian
Piratas do Norte da África capturaram e escravizaram mais de 1 milhão de europeus entre 1530 e 1780 numa série de incursões que despovoaram as cidades costeiras da Sicília a Cornwall, de acordo com a nova pesquisa.
Milhares de cristãos brancos eram
apreendidos todos os anos para trabalhar em galés, como operários e concubinas
para chefes muçulmanos no que são hoje o Marrocos, Tunísia, Argélia e Líbia,
afirma.
Estudiosos há muito sabem sobre
incursões escravistas sobre a Europa. Mas o historiador estadunidense Robert
Davis calculou que o número total capturado - embora pequena, em comparação com
os 12 milhões de africanos enviados para as Américas nos últimos anos - foi
muito maior do que anteriormente se admitia.
Seu novo livro, Christian Slaves,
Muslim Masters: White Slavery in the Mediterranean, the Barbary Coast, and
Italy, 1500-1800 [Escravos Cristãos, Senhores Muçulmanos: Escravidão Branca no
Mediterrâneo, Costa Bárbara e Itália, 1500-1800], conclui que 1 milhão a 1,25
milhão acabaram na escravidão.
A metodologia não ortodoxa do
professor Davis divide historiadores sobre se suas estimativas eram plausíveis,
mas eles dão boas vindas a qualquer tentativa de preencher uma lacuna na pouco
conhecida história de africanos subjugando europeus.
Ao reunir diferentes fontes de
informação da Europa ao longo de três séculos, o professor da Universidade de
Ohio pintou um retrato de um continente à mercê dos piratas da Costa Bárbara,
conhecidos como corsários.
Vilas e cidades na costa da Itália, Espanha, Portugal e França foram as mais atingidas, mas as incursões também capturaram pessoas na Grã - Bretanha, Irlanda e Islândia. De acordo com um relato eles chegaram a capturar 130 marujos estadunidenses de navios em que eles trabalhavam no Atlântico e no Mediterrâneo entre 1785 e 1793.
Na ausência de registros escritos, como detalhados formulários aduaneiros, o professor Davis decidiu calcular a partir dos melhores registros disponíveis indicando quantos escravos eram de um determinado local em uma única vez e calculando quantos novos escravos eram necessários para substituir aqueles que morreram, escaparam ou foram libertados.
Para manter a população escrava
estável, cerca de um quarto tinha que ser substituída a cada ano, o que para o
período de 1580 a 1680 significou cerca de 8.500 novos escravos por ano, num
total de 850.000.
A mesma metodologia sugere 475.000 foram seqüestrados nos séculos anteriores e seguintes.
"Muito do que foi escrito dá a impressão de que não havia muitos escravos e minimiza o impacto que a escravatura teve sobre a Europa", afirmou o professor Davis numa declaração esta semana.
"A maior parte das contas apenas olha a escravatura em um só lugar, ou apenas durante um curto período de tempo. Mas quando você tem uma visão mais ampla e mais prolongada, o enorme alcance desta escravidão e do seu poderoso impacto tornam-se claros".
A mesma metodologia sugere 475.000 foram seqüestrados nos séculos anteriores e seguintes.
"Muito do que foi escrito dá a impressão de que não havia muitos escravos e minimiza o impacto que a escravatura teve sobre a Europa", afirmou o professor Davis numa declaração esta semana.
"A maior parte das contas apenas olha a escravatura em um só lugar, ou apenas durante um curto período de tempo. Mas quando você tem uma visão mais ampla e mais prolongada, o enorme alcance desta escravidão e do seu poderoso impacto tornam-se claros".
O professor Davis admitiu que sua
metodologia não era ideal, mas Ian Blanchard, professor de história econômica na
Universidade de Edimburgo e uma autoridade sobre o comércio na África, afirmou
ontem que os números pareceram encaixar-se.
"Estamos a falar de estatísticas que não são reais, todos os números são estimativas. Mas não achamos em absoluto que o valor de 1 milhão seja de todo surpreendente. Ele tem sentido".
"Estamos a falar de estatísticas que não são reais, todos os números são estimativas. Mas não achamos em absoluto que o valor de 1 milhão seja de todo surpreendente. Ele tem sentido".
A chegada de ouro das Américas e o transporte de escravos da África Ocidental espremeu o tradicional negócio das frotas mercantis bárbaras que estavam transportando ouro e escravos do sul para norte da África, de modo que eles voltaram o seu olhar para a Europa, disse o professor Blanchard.
Escravidão
Contudo David Earle, autor de The
Corsairs of Malta and Barbary e The Pirate Wars, disse que o professor Davis
pode ter errado ao calcular a partir de 1580-1680, porque esse foi o período de
escravização mais intenso: "Seus valores parecem um bocado inseguros e penso que
ele pode estar exagerando".
Dr. Earle também advertiu que a
imagem era escurecida pelo fato de corsários também terem apreendido brancos
não-cristãos da Europa Oriental e pretos da África Ocidental. "Eu não arriscaria
um palpite sobre o total".
De acordo com uma estimativa, 7.000 ingleses foram raptados entre 1622-1644, muitos deles tripulantes e passageiros de navios. Mas os corsários também desembarcaram em praias, muitas vezes durante a noite, para capturar os incautos.
De acordo com uma estimativa, 7.000 ingleses foram raptados entre 1622-1644, muitos deles tripulantes e passageiros de navios. Mas os corsários também desembarcaram em praias, muitas vezes durante a noite, para capturar os incautos.
Quase todos os habitantes da cidade
de Baltimore, na Irlanda, foram capturados em 1631, e houve outras incursões em
Devon e Cornwall.
O reverendo Devereux Spratt
registrou ter sido capturado por "argelinos" quando estava cruzando o mar da
Irlanda de Cork para a Inglaterra, em abril de 1641, e, em 1661, Samuel Pepys
escreveu sobre dois homens, capitão Mootham e o senhor Dawes, que foram também
capturados.
Ano passado foi anunciado que um
dos mais ricos tesouros encontrados fora da costa de Devon era uma embarcação
bárbara do século XVI que estava indo capturar escravos ingleses.
Embora os africanos pretos
escravizados e enviados à América do Norte e do Sul durante quatro séculos
passem em número as estimativas do professor Davis sobre europeus levados para a
África na proporção de 12 para 1, é provável que eles sofreram as mesmas
condições sinistras.
"Uma das coisas que, tanto o
público como muitos estudiosos têm tendência a tomar como um dado adquirido é
que a escravatura foi sempre racial por natureza - que só pretos foram feitos
escravos. Mas isso não é verdade", disse o autor.
Nos comentários que podem gerar controvérsia, ele disse que a escravidão branca tinha sido minimizada ou ignorada porque os acadêmicos preferem tratar os europeus como malignos colonialistas do que como vítimas.
Nos comentários que podem gerar controvérsia, ele disse que a escravidão branca tinha sido minimizada ou ignorada porque os acadêmicos preferem tratar os europeus como malignos colonialistas do que como vítimas.
Enquanto os escravos africanos
trabalhavam em plantações de algodão, os escravos europeus eram forçados a
trabalhar em pedreiras, construções e em galés, sofrendo desnutrição, doenças e
maus tratos.
Governantes paxás, com o direito a
um oitavo de todos os cristãos capturados, alojavam-nos em banheiros
superlotadas conhecido como baños e os utilizavam em obras públicas, como a
construção de portos e corte de árvores. Eram dados a eles fatias de pão e
água.
As mulheres cativas dos paxás eram
mais susceptíveis de serem consideradas como prisioneiras a serem trocadas por
reféns, mas muitas trabalhavam como assistentes no harém do palácio enquanto
aguardavam por pagamento e liberdade, o que em alguns casos nunca chegaram.
Alguns escravos comprados por particulares eram bem tratados e tornaram-se
acompanhantes, outros eram espancados e realizavam trabalhos
excessivos.
“Os menos sortudos terminavam
empalados ou largados no deserto, em cidades pouco movimentadas como Suez, ou
nas galerias do sultão turco, onde alguns escravos vagavam por décadas sem
sequer por os pés na praia”, diz o professor Davis cujo livro é lançado pela
editora Palgrave Macmillan, dos EUA.
---------------------------------------
Fonte: http://books.guardian.co.uk/news/articl es/0,6109,1166849,00.html
Fonte: http://books.guardian.co.uk/news/articl