sábado, 29 de janeiro de 2011

Núbia Ribeiro Moura- trajetória profissional




Olá, pessoal! Sou Núbia Ribeiro Moura e vou contar para vocês um pouco da minha trajetória profissional.

Ainda na infância, encantavam-me os processos de transformações que eu observava na natureza: como a água podia ser o maravilhoso líquido que saciava minha sede, ou pedras que caiam do céu como chuva de granizo ou vapores que preenchiam a atmosfera em lagos de estâncias termais? Por que o açúcar aquecido ficava “puxento”? A curiosidade foi a principal motivação para aproximar-me da química. Também foi determinante o contato com um professor no 2º ano do Ensino Médio que era apaixonado pela química, pois pude perceber que química podia ajudar-me não apenas a compreender processos naturais, mas também de transformá-los.

Como eu tinha uma grande afinidade pela matemática, cursei engenharia química, porém o foco nos macroprocessos, predominante na engenharia, não satisfez minha curiosidade pelas transformações moleculares. Assim, no mestrado e doutorado abdiquei da engenharia para dedicar-me à química. Meu orientador, uma pessoa ímpar cuja vida sempre teve como foco principal a química, foi um estímulo nesta escolha.

Atualmente, sou professora do Instituto Federal da Bahia (IFBA). Atuo em cursos técnicos, cursos superiores de tecnologia, pós-graduações lato e stricto sensu. Tive também a oportunidade de ser a primeira pró-reitora de pesquisa do IFBA, quando o CEFET-BA foi transformado em Instituto Federal. Esta oportunidade deu-me uma visão mais clara do sistema nacional de ciência e tecnologia, e me fez ver com mais clareza a importância do papel dos professores em uma sociedade. Nós, professores, temos um papel de formadores de opinião, influenciamos na forma de nossos alunos verem o mundo e atuarem nele. Professores motivados, inovadores, empreendedores podem contribuir decisivamente mudar nossa sociedade e a realidade social, econômica, ambiental, científica e tecnológica do Brasil.

A química, como qualquer outra ciência no Brasil atual, precisa encontrar o equilíbrio entre sua função acadêmica e sua função social. Sua função acadêmica, na geração de conhecimento e formação de pessoas, vem sendo inquestionavelmente bem-sucedida. Mas sua função social, como transferência de conhecimento para a sociedade, visando solucionar problemas ou gerar riqueza, ainda não está satisfatoriamente concretizada. Para isto, o diálogo entre os três principais atores dos sistemas nacionais de ciência e tecnologia – governo, academia e empresas ou setores de aplicação do conhecimento – ainda é um dos grandes desafios do Brasil.

Do ponto de vista mundial, as perguntas que a Química precisa responder estão relacionadas à atuação no presente para construção do futuro: como a produção da indústria química pode ocorrer com redução de impactos ambientais? Qual o papel da Química no suprimento de alimentos para uma população mundial crescente? Que novos processos de produção de energia podem ser propostos a partir de conhecimentos químicos? Como garantir a disponibilidade e a potabilidade dos recursos hídricos para gerações futuras? Em resumo, as questões se referem a como a química pode desenvolver-se em plena sintonia com os grandes problemas do futuro da humanidade: ambiente, alimentos, energia e recursos hídricos.

Olhando para o Brasil, sabemos que um país forte se faz com pessoas capazes de construir, materializar produtos, processos, transformar conhecimento em bens, qualidade de vida para a sociedade. Para isto, nossos jovens devem ter possibilidade de tornar real novos produtos e processos. Também é importante destacar que, os países que valorizaram seus aspectos positivos, tiveram melhor desempenho do que aqueles cuja estratégia foi atacar suas deficiências. Assim, em vez de um esforço maciço para desenvolver áreas deficientes no país, parece-me mais adequado fortalecer nossas potencialidades, por exemplo, com base na magnífica biodiversidade que temos.

Há um imenso campo de trabalho em fitoterápicos, fitocosméticos, química de alimentos com foco em etnoprodutos e em alimentos tropicais.

Instituto Federal da Bahia, Departamento de Quimica.
Rua Emidio dos Santos s/n
Barbalho 40301-015 - Salvador, BA - Brasil

Fonte: Entrevista numero 9 disponível em http://quid.sbq.org.br/

A verdade, o individual e o coletivo

"Sou um indivíduo falando para outro indivíduo. Estou convicto de que só a consciência individual e nunca o consenso coletivo pode dar acesso à verdade. "

Olavo de Carvalho em entrevista a Valhalla em 1998 sobre o lançamento do livro "O imbecil Coletivo - atualidades inculturais brasileiras" (Faculdade da Cidade Editora, p. 384)

http://www.angelfire.com/vamp2/olavete/

domingo, 16 de janeiro de 2011

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Valores de "Passione" da Rede Globo

Olá a todos



Há muitos anos sem acompanhar novelas, ontem casualmente assistir ao final da novela Passione da Rede Globo.

A emissora traz uma série de questões e problemas sociais como pedofilia, drogas, corrupção, traição, mentiras, etc., o que acaba funcionando como um serviço de utilidade pública, ao fazerem as pessoas se indignarem com os acontecimentos.

O que talvez não fique evidente para a massa entorpecida pela trama é a sutileza com que esses assuntos se tornam normais, criando padrões de comportamento (por imitação), levando as pessoas a agirem de forma que a exceção se torne a regra geral. Isso se dá pela inversão dos valores morais, éticos, também distorcendo os valores da família, do casamento, etc. Um exemplo do desprezo por estes valores fica patente na normalidade da bigamia como solução alternativa nestes tempos de infantilização das relações, quando o adulto (criança) se sente impossibilitado de fazer escolhas, e como resposta, não consegue abrir mão de uma parte.

É obvio que a superexposição de temas acaba gerando uma falta de sensibilidade (tec. Desensibilização) em que o vibrante mundo da fantasia suplanta o mundo real, uma vez que as novelas expõem detalhes que, mesmo improváveis, integram a agenda de debates semanais. O que parece é que a inversão não é só dos valores da moral e da ética, mais sim do real e da fantasia. No mundo real, parece que acreditamos em Papai Noel, em políticos corruptos, onde bandidos condenados merecem perdão já que os Direitos Humanos não são para os humanos direitos. Pouco a pouco uma nova camisa de força se implanta na sociedade enquadrando os temas do Politicamente Correto.

Uma das facetas da liberdade é poder dizer não a estas coisas. Desligue a TV

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José Lamartine Neto

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

POLITICAMENTE CORRETO É O CACETE!!!

O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA
por Luiz Antonio Simas*

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?

É Villa Lobos, cacete!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.
Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.

Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de xingar a mãe do juiz e o centroavante pereba tomar naquele lugar, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do "Pé Junto".

*Luiz Antonio Simas nasceu no dia de finados de 1967 e é Império Serrano.É mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio. É considerado um dos profissionais mais importantes do Rio de Janeiro em sua área de atuação. Publicou em parceria com o caricaturista Cássio Loredano, o livro O vidente míope, sobre o desenhista carioca J. Carlos, indicado pela Revista de História da Biblioteca Nacional como uma das publicações mais relevantes da área no ano de 2007. Desenvolve pesquisas sobre a cultura popular carioca, mais especificamente nos campos do futebol e da música popular. Foi o responsávelpela pesquisa da exposição Todas as Copas, evento realizado no Brasil e nos Estados Unidos durante a Copa do Mundo de 1994. Seu trabalho foi considerado pela FIFA como um dos mais completos levantamentos já realizados sobre a história dos mundiais de futebol. É atualmente consultor da área de carnaval do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Os barões da Droga

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 1 de dezembro de 2010


Um leitor pede gentilmente que eu lhe diga quem, afinal, são os tão falados e jamais nomeados “barões da droga”. Quem ganha com o crescimento ilimitado das quadrilhas de narcotraficantes e sua transformação em força revolucionária organizada, ideologicamente fanatizada, adestrada em táticas de guerrilha urbana, capacitada a enfrentar com vantagem as forças policiais e não raro também as militares?

A resposta é simplicíssima: quem ganha com o tráfico de drogas é quem produz e vende drogas. O maior, se não o único fornecedor de drogas ao mercado brasileiro são as Farc, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. São elas, também, que dão adestramento militar e assistência técnica ao Comando Vermelho, ao PCC e a outras quadrilhas locais.

Já faz dez anos que o então principal traficante brasileiro, Fernandinho Beira-Mar, preso na Colômbia, descreveu em detalhes a operação em que trocava armas contrabandeadas do Líbano por duas toneladas anuais de cocaína das Farc. Também faz dez anos que uma investigação da Polícia Federal chegou à seguinte conclusão: “A guerrilha tem o comando das drogas” (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/031002jt.htm). Se alguém ainda tem dúvidas a respeito, é que está gravemente afetado da Síndrome do Piu-Piu: “Será que eu vi um gatinho?”

Mas, dirá o leitor, não há também políticos envolvidos na trama, gente das altas esferas, que dirige tudo de longe, discretamente, sem mostrar a cara ou sujar as mãozinhas?

É claro que há. Mas só são invisíveis a quem tenha medo de os enxergar. Para descobri-los, basta averiguar quem, na política, protege as Farc. Não preciso dar nomes, preciso? Para avivar a memória, leia as listas de participantes do Foro de São Paulo, entidade criada precisamente para articular, numa estratégia revolucionária abrangente, a política e o crime.

Alguns ganham muito dinheiro com isso, mas nem todos, na lista, têm interesse financeiro direto no narcotráfico – o que não os torna menos criminosos, é claro. As Farc e organizações similares servem-lhes de arma de barganha, para criar o caos social, intimidar o inimigo e extorquir dele concessões políticas que valem muito mais do que dinheiro. Quando a guerrilha está em vantagem, os políticos – para usar uma expressão já velha – sublinham com as armas da retórica a retórica das armas, anunciando o advento de uma sociedade justa gerada no ventre do morticínio redentor. Quando a guerrilha está perdendo, eles usam o restinho dela como instrumento de chantagem, oferecendo a “paz” em troca da transformação dos bandos armados em partidos políticos, de modo a premiar a imensa lista de crimes hediondos com a abertura de uma estrada risonha e franca para a conquista do poder. Mais detalhes em http://www.olavodecarvalho.org/semana/070924dc.html.

São esses os barões. Não há outros.

A parceria deles com o narcotráfico vem de longe. Começou na Ilha Grande, nos idos de 70, quando os terroristas presos começaram a doutrinar os bandidos comuns e a ensinar-lhes os rudimentos da guerrilha urbana segundo o manual de Carlos Marighela. Naquela época os guerrilheiros e a liderança esquerdista em geral tinham um complexo de inferioridade: viam-se como uma elite isolada, sem raízes nem ressonância no “povo”, em cujo nome falavam com um sorriso amarelo. Por uma feliz coincidência, foram parar na cadeia numa época em que o filósofo germano-americano Herbert Marcuse tinha lhes dado uma idéia genial: a faixa de população mais sensível à pregação revolucionária não eram os trabalhadores, como pretendia Karl Marx, e sim os marginais – ladrões, assassinos, narcotraficantes. Que parassem de fazer pregação nas fábricas e buscassem audiência no submundo – tal era o caminho do sucesso. Quando as portas do cárcere se fecharam às suas costas, abriram-se para eles as portas da mais doce esperança: lá estava, no pátio da prisão, o tão ambicionado “povo”. Sua função no esquema? Transmutar o reduzido círculo de guerrilheiros em movimento armado das massas revolucionárias.

Em 1991, o projeto, em formato definitivo, já vinha exposto com toda a clareza no livro Quatrocentos Contra Um, de autoria do líder do Comando Vermelho, William da Silva Lima, publicado pela Labortexto e lançado ao público na sede da Associação Brasileira da Imprensa, entre aplausos de mandarins da intelectualidade esquerdista que ali viam materializados os seus sonhos mais belos de justiça e caridade. Mais que materializados, ampliados:

“Conseguimos aquilo que a guerrilha não conseguiu: o apoio da população carente. Vou aos morros e vejo crianças com disposição, fumando e vendendo baseado. Futuramente, elas serão três milhões de adolescentes, que matarão vocês nas esquinas.”

Todo o descalabro sangrento que hoje aterroriza a população do Rio de Janeiro não é senão a efetivação do plano aí esboçado com a ajuda dos mesmos luminares do esquerdismo que hoje pontificam sobre “segurança pública”.

O parágrafo seguinte não preciso escrever, porque já escrevi. Está no Diário do Comércio de 16 de outubro de 2009 (http://www.olavodecarvalho.org/semana/091016dc.html):

“Mais tarde os terroristas subiram na vida, tornaram-se deputados, senadores, desembargadores, ministros de Estado, tendo de afastar-se de seus antigos companheiros de presídio. Estes não ficaram, porém, desprovidos de instrutores capacitados. A criação do Foro de São Paulo, iniciativa daqueles terroristas aposentados, facilitou os contatos entre agentes das Farc e as quadrilhas de narcotraficantes brasileiros – especialmente do PCC –, dos quais logo se tornaram mentores, estrategistas e sócios. Foi o que demonstrou o juiz federal Odilon de Oliveira, de Ponta Porã, MS, pagando por essa ousadia o preço de ter de viver escondido, como de fosse ele próprio o maior dos delinqüentes (v. http://www.eagora.org.br/arquivo/Farc-ensina-seqestro-a-PCC-e-CV-afirma-juiz/ e sobretudo http://odilon.telmeworlds.sg/), enquanto os homens das Farc transitam livremente pelo país, têm toda a proteção da militância esquerdista em caso de prisão e até são recebidos como hóspedes de honra por altos próceres petistas.”

Mas também é claro que, entre esses dois momentos, os apóstolos da sociedade justa não ficaram parados: fizeram leis que dificultam a ação da polícia (o governador carioca Leonel Brizola chegou a bloqueá-la por completo), espalharam por toda a sociedade a noção de que os bandidos são vítimas e, a pretexto de combater o crime por meio de uma “política de inclusão”, construíram nos redutos da bandidagem obras de infra-estrutura que tornam a vida dos criminosos mais confortável e sua ação mais eficiente. No meio de tanta atividade meritória, ainda tiveram tempo de estreitar os laços tático-estratégicos entre as quadrilhas de delinqüentes e a militância política, articulando, nas reuniões do Foro de São Paulo, a colaboração entre as Farc e o MST, que hoje recebe da guerrilha colombiana o mesmo adestramento em técnicas de guerrilha que começou a ser transmitido aos presos da Ilha Grande na década de 70.

Falar em “ligações” da esquerda com o crime é eufemismo. O que há é a unidade completa, a integração perfeita, uma das mais formidáveis obras de engenharia revolucionária de todos os tempos. Não espanta que empreendimento de tal envergadura tenha a seu dispor, entre os “formadores de opinião”, um número até excessivo de colaboradores incumbidos de negar a sua existência.

Fonte -
http://www.olavodecarvalho.org/semana/101201dc.html

sábado, 4 de dezembro de 2010

O poder muda a pessoa

Por RAYMUNDO DE LIMA
Psicanalista e professor da UEM

O poder torna as pessoas estúpidas e muito poder, torna-as estupidíssimas. (R. Kurz)

O psicanalista J. Lacan [1], observou que a partir do momento em que alguém se vê "rei", ele muda sua personalidade. Um cidadão qualquer quando sobe ao poder [2] , altera seu psiquismo. Seu olhar sobre os outros será diferente; admita ou não ele olhará "de cima" os seus "governados", os "comandados", os "coordenados", enfim, os demais.

Estar no poder, diz Lacan, "dá um sentido interiormente diferente às suas paixões, aos seus desígnios, à sua estupidez mesmo". Pelo simples fato de agora ser "rei", tudo deverá girar em função do que representa a realeza. Também os "comandados" são levados pelas circunstâncias a vê-lo como o "rei do pedaço".

La Boétie [3] parecia indignado em perceber o quanto o lugar simbólico de poder faz o populacho se oferecer a uma certa "servidão voluntária". Bourdieu chama-nos atenção para a força que o símbolo exerce sobre os indivíduos e grupos. Antes de ocupá-lo, o poder atrai e fascina; depois de ocupado tende a colar a alguns como se lhes fossem eterno. Aí está a diferença entre um Fidel Castro e um Nelson Mandela. O primeiro e a maioria dos ditadores pretendem se eternizar no poder, o segundo, mais sábio, toma-o como transitório, evitando ser possuído pelo próprio. ("Possuído", sim, pois o poder tem algo de diabólico, que tenta, que corrompe, etc).

Uma vez no poder, o sujeito precisará de personas (máscaras) e molduras de sobrevivência. A persona serve para enganar a si e aos outros. A moldura, é algo necessário para delimitar simbolicamente a ação dele enquanto representante do poder. A ausência de moldura ou o seu mau uso fará irromper a força pulsional do sujeito que anseia por mais e mais poder, podendo vir a se tornar uma patologia psíquica. A história coleciona exemplos: Hitler, Stalin, Mobutu, Collor de Melo, Pol Pot, Idi Amim, etc.

No filme As loucuras do rei George III [4] , da Inglaterra, somos levados a perceber duas coisas: o quanto que as pessoas recusavam a idéia de um rei que perdeu a razão em função de uma doença e, que fazer para impedir alguém que representa o poder máximo de uma nação, devido a suas loucuras?

O poder faz fronteira com a loucura. Não é sem motivo que muitos loucos se julgam Napoleão ou o Rei Luis XV. Parece que há algo de "loucura narcísica" nas pessoas que anseiam chegar ao poder político (governante de uma cidade, estado ou país, ministro, membro do secretariado local), ou ao poder de uma instituição, empresa, departamento, pequeno setor de uma organização qualquer ou grupo qualquer. O narcisismo de quem ocupa o poder, revela-se na auto-admiração (o amor a si e aos seus feitos), na recusa em aceitar o que vem dos outros e no gozo que ele extrai do poder, que, levado ao extremo poderia revelar loucura. R. Kurz, é direto ao declarar que "o poder torna as pessoas estúpidas e muito poder, torna-as estupidíssimas".

O sociólogo M. Tragtenberg certa vez observou como muitos intelectuais discursam uma preocupação pelo "social", mas estão mesmo preocupados com a sua "razão do poder". Há uma espécie de "gozo louco" pelo poder, que faz subir a cabeça dos que estão jogando para ganhá-lo um dia.

Do ponto de vista psicológico, observa-se que o poder faz o ocupante perder a própria identidade pessoal e assumir outra, contornada pela "fôrma" do próprio poder. Os cargos executivos (presidente, governador, prefeito, diretor, reitor, etc), tem uma fôrma própria, um lugar que marca uma certa diferença em quem a ocupa em relação aos cargos de segundo escalão (ministros, secretários disso e daquilo, chefes de gabinetes, assessores, etc). As "pequenas autoridades" dos escalões inferiores - mas com algum poder - costumam ter atitudes mais protofascistas que as grandes. São mais propensas a "vender sua alma ao diabo" que as grandes para estar no poder.

O psicólogo Ricardo Vieira, da UERJ, de quem me inspirei para continuar seu artigo, levanta os quatro primeiros indicadores de mudanças que ocorrem com as pessoas que chegam ao poder:

1) no modo de vestir: o terno, a gravata, o blazer e o tailleur que, antes eram utilizados em circunstâncias especiais, passam a ser usados cotidianamente, mesmo quando não é necessário utilizá-los. Alguns demonstram certo constrangimento em trocar a surrada camiseta e passar a usar um blazer ou uma camisa de linho, pelo menos nas ocasiões especiais. Se antes usava um cabelo comprido, despenteado, logo é orientado a cortá-lo, penteá-lo, dar um trato. Na última eleição para prefeito de Maringá, um candidato foi orientado pelo seu marketeiro para mudar o cabelo enrolado por um penteado de brilhantina. Perdeu a eleição.

2) mudam as relações pessoais: os antigos companheiros poderão ser substituídos por novos, que o leva a sentir-se menos ameaçado. O sentimento persecutório de "ser mal visto", precisa ser evitado a qualquer preço por quem ocupa o poder.

3) altera o tratamento com o outro, que torna-se autoritário com seus subordinados; gritos e ameaças passam a ser seu estilo. Certa vez, perguntaram a Maquiavel se era melhor ser amado que temido? O autor de O príncipe respondeu que "os dois mas se houver necessidade de escolha, é melhor ser temido do que amado".

4) mudam os antigos apoios e alianças. Aqueles que o apoiaram chegar ao poder, transformam-se em arquivos vivos dos seus defeitos. O poder leva a desidentificação com os antigos colegas de profissão. É o caso do presidente FHC e do seu Ministro da Educação Paulo Renato Souza, depois de executivos, ambos não se vêem mais professores.

5) Resistência em fazer auto-crítica. Antes, vivia criticando tudo que era governo ou tudo que constituía como efeito de governo. Mas, logo que passa a ocupar o poder, revela "sua outra face", não suportando a mínima crítica. O poder os torna cegos e surdos a crítica. Uma pesquisa de Pedro Demo, da Universidade de Brasília, constata que os profissionais de academias apreciam criticar a tudo e a todos, mas são pouco eficazes na crítica para consigo mesmos. Enquanto só teorizavam, nada resolviam, mas quando passam a ocupar um cargo que exige ação prática, terá que testar a teoria; agora é que "a prática se torna o critério da verdade" [5] . Por falta de referencial e por excesso de idealismo, é freqüente ocorrerem bobagens e repetições dos antigos adversários, tais como: fazer aumentos abusivos de impostos, aplicar multas injustas, discursos cínicos para justificar um ato imoral de abuso de poder, etc. Há um provérbio oriental que diz: "quem vence dragões, também vira dragão".

Os sujeitos quando no poder protege-se da crítica reforçando pactos de auto-engano com seus colegas de partido. Reforçam a crença de que representam o Bem contra o Mal, recusam escutar o outro que lhe faz crítica e que poderia norteá-lo para corrigir seus erros e ajudar a superar suas contradições. Se entrincheirarem no grupo narcísico, o discurso político tornar-se-á dogmático, duro, tapado, e podemos até prever qual será o seu futuro se tomar o caminho de também eliminar os divergentes internos e fazer mais ações de governo contra o povo, "em nome do povo".

Infelizmente assim é o poder: seduz, corrompe, decepciona e faz ponto cego e surdo nos seus ocupantes temporários.

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* Psicanalista e professor da UEM


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[1] Jacques Lacan, psicanalista francês, que propôs o retorno à leitura da obra de S. Freud. Cf.: Seminário 1. Ed. Zahar, 1979, p. 318.

[2] Max Weber define que o"poder é toda chance, seja ela qual for de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contar a relutância dos outros". Para M. Foucault, nas duas obras, Vigiar e Punir e Microfísica do poder, faz uma genealogia do poder. Constata que o poder se exerce na sociedade não apenas através do Estado e das autoridades formalmente constituídas, mas de maneiras as mais diversas, em uma multiplicidade de sentidos, em níveis distintos e variados, muitas vezes sem nos darmos conta disso.

[3] Etienne La Boétie, filósofo francês, autor do Discurso da Servidão Voluntária. Cf.: Brasiliense, 1982.

[4] O rei George III reinou na Inglaterra no séc. 18 Ficou louco devido a uma doença, a porfiria, desconhecida na época.

[5] Dito por L. Feuerbach

Fonte -
http://www.espacoacademico.com.br/008/08ray.htm

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