segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A CARROÇA

Certa manhã, meu pai, muito sábio, convidou-me para dar um passeio no bosque e eu aceitei com prazer.

Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno silêncio me perguntou:

- Além do cantar dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa?

Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:

- Estou ouvindo um barulho de carroça.

- Isso mesmo - disse meu pai - e uma carroça vazia.

Perguntei a ele:

- Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?

- Ora - respondeu meu pai - é muito fácil saber que uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.

Tornei-me adulto e até hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, gritando (no sentido de intimidar), tratando o próximo com grosseria inoportuna, prepotente, interrompendo a conversa de todo mundo e querendo demonstrar ser a dona da razão e da verdade absoluta, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo:

- Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz...!



sábado, 23 de outubro de 2010

Poema DA MENTE

de Affonso Romano de Sant`Anna


Há um presidente que mente,

Mente de corpo e alma, completa/mente.


E mente de maneira tão pungente
Que a gente acha que ele mente sincera/mente,

Mais que mente, sobretudo, impune/mente...


Indecente/mente.
E mente tão nacional/mente,

Que acha que, mentindo história afora,

Vai nos enganar eterna/mente.



Carta para o Chico Buarque por José Danon



Estado de São Paulo - 11/08/2010



Chico, você foi, é e será sempre meu herói. Pelo que você foi, pelo que você é e pelo que creio que continuará sendo. Por isso mesmo, ao ver você declarar que vai votar no Lula “por falta de opção”, tomei a liberdade de lhe apresentar o que, na opinião do seu mais devoto e incondicional admirador, pode ser uma opção.

Eu também votei no Lula contra o Collor. Tanto pelo que representava o Lula como pelo que representava o Collor. Eu também acreditava no Lula. E até aprendi várias coisas com ele, como citar ditos da mãe. Minha mãe costumava lembrar a piada do bêbado que contava como se tinha machucado tanto. Cambaleante, ele explicava: “Eu vi dois touros e duas árvores, os que eram e os que não eram. Corri e subi na árvore que não era, aí veio o touro que era e me pegou.” Acho que nós votamos no Lula que não era, aí veio o Lula que era e nos pegou.

Chico, meu mestre, acho que nós, na nossa idade, fizemos a nossa parte. Se a fizemos bem feita ou mal feita, já é uma outra história. Quando a fizemos, acreditávamos que era a correta. Mas desconfio que nossa geração não foi tão bem-sucedida, afinal. Menos em função dos valores que temos defendido e mais em razão dos resultados que temos obtido. Creio que hoje nossa principal função será a de disseminar a mensagem adequada aos jovens que vão gerenciar o mundo a partir de agora. Eles que façam mais e melhor do que fizemos, principalmente porque o que deixamos para eles não foi grande coisa. Deixamos um governo que tem o cinismo de olimpicamente perdoar os “companheiros que erraram” quando a corrupção é descoberta.

Desculpe, senhor, acho que não entendi. Como é, mesmo? Erraram? Ora, Chico. O erro é uma falha acidental, involuntária, uma tentativa frustrada ou mal sucedida de acertar. Podemos dizer que errou o Parreira na estratégia de jogo, que erramos nós ao votarmos no Lula, mas não que tenham errado os zésdirceus, os marcosvalérios, os genoinos, dudas, gushikens, waldomiros, delúbios, paloccis, okamottos, adalbertos das cuecas, lulinhas, beneditasdasilva, burattis, professoresluizinhos, silvinhos, joãopaulocunhas, berzoinis, hamiltonlacerdas, lorenzettis, bargas, expeditovelosos, vedoins, freuds e mais uma centena de exemplares dessa espécie tão abundante, desafortunadamente tão preservada do risco de extinção por seu tratador. Esses não erraram. Cometeram crimes. Não são desatentos ou equivocados. São criminosos. Não merecem carinho e consolo, merecem cadeia.

Obviamente, não perguntarei se você se lembra da ditadura militar. Mas perguntarei se você não tem uma sensação de déjà vu nos rompantes de nosso presidente, na prepotência dos companheiros, na irritação com a imprensa quando a notícia não é a favor. Não é exagero, pergunte ao Larry Rother do New York Times, que, a propósito, não havia publicado nenhuma mentira. Nem mesmo o Bush, com sua peculiar e texana soberba, tem ousado ameaçar jornalistas por publicarem o que quer que seja. Pergunte ao Michael Moore. E olhe que, no caso do Bush, fazem mais que simples e despretensiosas alusões aos seus hábitos ou preferências alcoólicas no happy hour do expediente.

Mas devo concordar plenamente com o Lula ao menos numa questão em especial: quando acusa a elite de ameaçá-lo, ele tem razão. Explica o Aurélio Buarque de Hollanda que elite, do francês élite, significa “o que há de melhor em uma sociedade, minoria prestigiada, constituída pelos indivíduos mais aptos”. Poxa! Na mosca. Ele sabe que seus inimigos são as pessoas do povo mais informadas, com capacidade de análise, com condições de avaliar a eficiência e honestidade de suas ações. E não seria a primeira vez que essa mesma elite faz esse serviço. Essa elite lutou pela independência do Brasil, pela República, pelo fim da ditadura, pelas diretas-já, pela defenestração do Collor e até mesmo para tirar o Lula das grades da ditadura em 1980, onde passou 31 dias. Mas ela é a inimiga de hoje. E eu acho que é justamente aí que nós entramos.

Nós, que neste país tivemos o privilégio de aprender a ler, de comer diariamente, de ter pais dispostos a se sacrificar para que pudéssemos ser capazes de pensar com independência, como é próprio das elites - o que, a propósito, não considero uma ofensa -, não deveríamos deixar como herança para os mais jovens presentes de grego como Lula, Chávez, Evo Morales, Fidel - herói do Lula, que fuzila os insatisfeitos que tentam desesperadamente escapar de sua “democracia”. Nossa herança deveria ser a experiência que acumulamos como justo castigo por admitirmos passivamente ser governados pelo Lula, pelo Chávez, pelo Evo e pelo Fidel, juntamente com a sabedoria de poder fazer dessa experiência um antídoto para esse globalizado veneno. Nossa melhor herança será o sinal que deixaremos para quem vem depois, um claro sinal de que permanentemente apoiaremos a ética e a honestidade e repudiaremos o contrário disto. Da mesma forma que elegemos o bom, destronamos o ruim, mesmo que o bom e o ruim sejam representados pela mesma pessoa em tempos distintos.

Assim como o maior mal que a inflação causa é o da supressão da referência dos parâmetros do valor material das coisas, o maior mal que a impunidade causa é o da perda de referência dos parâmetros de justiça social. Aceitar passivamente a livre ação do desonesto é ser cúmplice do bandido, condenando a vítima a pagar pelo malfeito. Temos opção. A opção é destronar o ruim. Se o oposto será bom, veremos depois. Se o oposto tampouco servir, também o destronaremos. A nossa tolerância zero contra a sacanagem evitará que as passagens importantes de nossa História, nesse sanatório geral, terminem por desbotar-se na memória de nossas novas gerações.

Aí, sim, Chico, acho que cada paralelepípedo da velha cidade, no dia 1º de outubro, vai se arrepiar.

Seu admirador número 1,

Zé Danon.

*José Danon é economista e consultor de empresas.




quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Só me resta uma alternativa

Meus caros e minhas caras, boa noite

Ultimamente, pouco tenho observado nossa intranet. Fico feliz com umas coisas, entristecido com outras, mas permanentemente fico me perguntando até onde vai nossa influencia como professor (ou servidor público) sobre este sujeito em formação que é o aluno.

Fazer escolhas é algo sublime,é um atributo individual e intransferível que se serve da memória, do discernimento, da capacidade de julgamento, dentre vários outros atributos cognitivos e emocionais.

O quanto estamos “ajudando” nossos alunos a fazerem suas escolhas? Ou serão as nossas escolhas que eles fazem? E me pergunto se isso é certo, se é ético.

É obvio que questiono se isso é democracia, isso que induz, seduz, manipula, mente, engana, omite, distorce verdades (em que cada um tem a sua), neste cenário de campanha presidencial por todos os candidatos? E no nosso cotidiano?

Dentro desta linha gramscista de infiltração (comunista) nas instituições brasileiras, provavelmente iniciada com a formação dos alunos nas Universidades por volta da década de 1960, ampliou-se nas décadas seguintes e hoje, estes ex-alunos ocupam diversas funções em todos os setores da sociedade, são os “intelectuais orgânicos” de Antonio Gramsci. Como resultado, o conseqüente aparelhamento ideológico da máquina pública, assim como dos movimentos sociais, empresas de capital misto, sindicatos, etc.


O que vemos ocorrer hoje em nossa instituição, de forma escancarada e sem a menor vergonha, é fruto também deste processo. Veja que tem alguns de nossos colegas que não tem nem mais o pudor de resguardarem suas funções institucionais. Usam-nas nos comunicados pessoais, confundindo a vida pública com a vida privada, em outras palavras, confunde-se o servidor publico – representante do estado – com o cidadão – pessoa física.

Só me resta uma alternativa: me render aos fatos e somar coro com a massa de pseudos “qualquer coisa”. Mais antes gostaria de deixar como contribuição algumas informações em forma de vídeos para apreciação da turma (ou turba?).

O primeiro é uma entrevista em que Ciro Gomes elogia Lula, Dilma, Temer, o PT e o PMDB. Não percam! Era na época em que ele coordenava a campanha da Sra. Dilma!





O próximo, ou melhor, os próximos são muito esclarecedores e atualíssimos com o tema Aborto: Sim, não ou muito pelo contrário? Na verdade não é nem tanto pelo aborto em si, mas, pela firmeza, convicção, determinação, equilíbrio da estrela deste vídeo. Vale a pena ver os dois.



Na seqüência uma singela história que o PT lamentavelmente não mostra na TV. É interessante ler os comentários dos internautas solidarizados com os protagonistas. É muito lindo.




Por fim temos um vídeo de um deputado federal (meio doido, só pode) que fala tantas mentiras que é difícil de acreditar. Fiquei impressionado com a capacidade e eloqüência do mesmo. Tem a participação especial de Franklin Martins, Hugo Chaves, e outras estrelas do momento. Também uma boa pedida. Mas no final acho que ninguém acredita não é mesmo?


Mas no final acho que ninguém acredita, não é mesmo?


Abraços a todos (e todas)


Lamartine


O anúncio de Olavo Bilac

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