quinta-feira, 27 de outubro de 2011
O Ativismo Político do CFP - Luciano P. Garrido
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
SOBRA DINHEIRO, FALTA VIGILÂNCIA - Entrevista com Roberto DaMatta
O respeitado antropólogo brasileiro diz que o modelo de estado do PT, tão onipresente quanto ineficaz, só contribui para que a corrupção se dissemine pelo país. O antropólogo Roberto DaMatta, 75 anos, dedicou grande parte de sua vida a decifrar o comportamento dos brasileiros, publicando livros que se tomaram clássicos, como Carnavais, Malandros e Heróis, de 1979. Ele observou de perto o objeto de suas pesquisas, seja embrenhando-se por tribos indígenas, seja examinando as pessoas ao volante - esse último assunto, aliás, abordado em seu mais recente livro, Fé em Deus e Pé na Tábua. Há sete anos, depois de quase duas décadas como professor na Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, DaMatta voltou a viver em Niterói, sua cidade natal, e hoje dá aulas na PUC do Rio. Casado há 48 anos com Celeste (que sofre da doença de Alzheimer), com quem teve três filhos, ele lamenta: "O PT enterrou o ideal de pureza e aderiu às piores práticas do velho clientelismo".
Qual é a parcela de culpa do PT nos altos níveis de corrupção no Brasil?
Na era petista, essa praga que toma o estado brasileiro disseminou-se à vontade, a ponto de a população indignar-se e ir às ruas protestar. Assim que chegou ao poder, o partido enterrou de vez o ideal de pureza do qual tinha o monopólio. Para pôr de pé seu projeto, aderiu às piores práticas do velho clientelismo: (troca de favores, cargos e dinheiro. Desse modo, conseguiu formar a Arca de Noé que é a coalizão na qual se apoia hoje e que lhe confere tanta força. Também deixou vago o espaço de uma oposição rigorosa, intolerante e dura, que deveria agora estar fiscalizando a farra no estado. É preciso lembrar àqueles que mandam na corte de Brasília que a máquina pública não é um veículo de enriquecimento e de aristocratização de seus funcionários. Veja o descalabro que é a evolução do patrimônio dos políticos brasileiros. Sua fortuna cresce a velocidade comparável apenas ao ritmo que embalou os barões de estradas de ferro nos Estados Unidos do século XIX. Algo está muito errado.
Por que o Brasil é um dos campeões mundiais de corrupção?
Primeiro, porque nosso estado é grande e centralizador de verbas e não atua com metas claras pelas quais precise prestar contas à sociedade. Sobra dinheiro e falta vigilância. Além disso, estamos falando de um mal de raízes muito antigas, entranhado no caldo cultural brasileiro desde os primórdios da colonização portuguesa. Foi ali que se fincaram as bases da ideia antimoderna de estado que persiste até hoje.
Quais seriam essas bases?
Temos um modelo de estado generoso, condescendente e que faz vista grossa aos pecadilhos de seus altos funcionários em detrimento do mérito e da eficiência. Ou seja: é um verdadeiro pai, mas apenas para quem se encastela na máquina e para os que orbitam ao seu redor. Ali impera a lógica dos privilégios e dos favores, como se fosse a extensão da própria casa daqueles que estão sob suas asas. São velhas práticas que já se observavam à chegada de dom João VI. Quando desembarcou no Rio de Janeiro, um de seus primeiros atos foi confiscar um lote de casas para dar de presente à corte. Mais tarde, o então imperador dom Pedro I sairia distribuindo títulos de nobreza aos parentes da marquesa de Santos, então sua amante. A proclamação da República não representou uma verdadeira ruptura dessa lógica. Mudou o regime, mas não a maneira de governar, tampouco a mentalidade reinante. Antes, inchava-se a máquina pública com parentes de sangue. Com o PT, o parentesco obedece à proximidade ideológica.
Por que as instituições não conseguem coibir os absurdos?
Porque não sabemos distinguir o público do privado. É preciso contar com um conjunto de instituições de dimensão pública que ajude a fazer a transição do núcleo familiar para a vida em sociedade, demarcando bem as fromeiras. Nos países europeus e nos Estados Unidos, são as próprias escolas que tratam de ensinar às pessoas, desde muito cedo, que as regras de casa, onde cada um é especial e tem seus privilégios, simplesmente não podem se reproduzir na rua. Enquanto há pelo menos dois séculos se aprende ali a discemir o público do privado no bê-á-bá, no Brasil, em pleno século XXI, ainda se acha essa uma ideia estranha. Nossos maus hábitos se replicam, e se aprofundam, no âmbilo do estado. Também nossas leis não ajudam a rechaçar a praga da corrupção.
Por quê?
A matriz jurídica no Brasil visa a garantir que determinadas pessoas em certas posições jamais sejam punidas. Para elas sempre há uma brecha legal. Foi o que ocorreu recentemente no caso da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), filha do ex-governador Joaquim Roriz. Apesar de todas as evidências de ter acumulado dinheiro ilicitamente, Jaqueline foi absolvida por seus pares, porque eles entenderam que ela teria prevaricado antes de se tornar deputada. Sendo assim, não haveria motivo para cassar seu mandato, o que a levaria à perda do cargo e da imunidade parlamemar, abrindo a possibilidade de ela ir a julgamento. Esse caso é emblemático de como a lei, ao se moldar ao perfil de poder do réu, se toma antiética. A leniência nesses casos é regra não exceção. O estado brasileiro usa as leis para manter os maus costumes. É vital inverter essa lógica perversa.
O sistema eleitoral brasileiro precisa mudar?
Sim, e o voto distrital seria um avanço. A experiência mostra de forma contundente que esse sistema é eficaz por aproximar a sociedade dos políticos que ela elegeu, já que encurta o caminho para a cobrança de resultados e para a fiscalização. Pode fazer enorme bem ao país. Pois aqui ainda há uma distância espantosa entre eleitores e eleitos, que se beneficiam disso para fazer o que bem querem em seu cargo. Enfatizo que é preciso consolidar instituições que tratem de garantir que o estado trabalhe em benefício da sociedade - e não em favor de si mesmo.
Em sua opinião, o governo se mete demais na vida das pessoas?
O PT cultiva um especial apreço pelos marcos regulatórios, uma excrescência que se dissemina em nosso país à revelia do bom-senso. O hábito vem de uma ideia atrasada segundo a qual o estado teria a resposta para todos os males da população - o que obviamente não tem. É um ideário que guarda parentesco direto com o populismo clássico. De acordo com essa corrente, sempre caberá mais um sob as asas benevolentes do estado, que acolhe e protege a todos. Para mim, está claro que isso não passa de uma maneira adocicada de não encarar questões amargas, que têm a ver com metas, mérito e com o bom gerenciamento dos recursos que são, afinal, dos cidadãos. O estado é hoje onipresente, mas o que ele precisa ser é eficiente.
O senhor pode dar um exemplo de intromissão indevida do estado?
A discussão sobre a regulamentação da imprensa, que quando achamos que está morta teima em voltar à cena, é particularmente revoltante. Não vejo outro nome para isso senão fundamentalismo. Nos Estados Unidos, a liberdade de imprensa é um dos valores constitucionais mais caros. É sagrada. Já dizia Thomas Jefferson (1743-1826), em palavras de extrema lucidez, que preferia uma imprensa sem governo a um governo sem imprensa, sempre, segundo ele, "considerando que todos possam ler jornais". São ideias avançadas e consolidadas que parecem passar ao largo das preocupações do PT, mais voltado para o seu projeto de se manter no poder o maior tempo possível. Mesmo que não tenha um plano definido sobre o que quer para o país e esteja perdido em um caldo ideológico confuso.
Quais são as indefinições do PT?
Há uma grande indefinição no PT quanto ao que o Brasil deve ser. Ouve-se de tudo: socialista, protossocialista, pós-socialista, capitalista. Falta também ao partido definir de uma vez por todas o que pensa sobre direitos humanos. Apoiar ditaduras mundo afora é uma contradição não só com sua trajetória, mas também com seu discurso atual - o mesmo que levou o partido ao poder. Em meio a ,dúvidas tão fundamentais, emerge um paradoxo. Mesmo que o país já se baseie em um sistema econômico moderno e competitivo, que o PT acolhe e em certa medida impulsiona, persiste até hoje uma forte resistência de petistas a valores universais como liberdade, competição e meritocracia. É algo inaceitável para um país que se pretende peça relevante de um mundo globalizado.
Por que há tanta resistência à ideia da meritocracia no Brasil?
A ideia de distinguir as pessoas por suas competências e talentos especiais sempre foi rechaçada pela maioria porque vai de encontro à própria maneira como nos entendemos no mundo: o brasileiro se sente estranho e desconfortável em situações nas quais os papéis não estão predefinidos, mas precisam ser conquistados à distância das relações de parentesco e amizade. No fundo, temos verdadeira alergia ao igualitarismo, segundo o qual todos dão a largada do mesmo ponto e cada um chega a um lugar diferente dependendo do próprio esforço e resultado. Eu mesmo passei boa parte de minha vida profissional fora do Brasil para fugir desse tipo de dogma.
O que mais o incomodava no ambiente universitário brasileiro?
Nas instituições públicas, impera a regra do tradicional funcionalismo - uma camisa de força para o trabalho intelectual. Muita gente na universidade, que gosta de estar sob tais normas, faz jornada das 9 da manhã às 5 da tarde. Como se fosse possível a quem ambiciona produzir algo verdadeiramente relevante e original encerrar o expediente com o critério do cartão de ponto. Comprar um reagente ou qualquer outro material é uma via-crúcis. Quem julga o processo é um burocrata de Brasília sem nenhuma sintonia com a cabeça do cientista. E as greves? Evidentemente, respeito o protesto, mas a paralisação das aulas é inadmissível. Professor indignado deve dar mais aulas ainda. De tudo, no entanto, o que mais me agastava era a isonomia salarial. É inadmissível ganhar o mesmo que um profissional que fica contando os minutos para ir para casa, Como o grande gerente do ensino superior de elite no Brasil, o estado não tem contribuído para tornar a academia brasileira criativa e inovadora.
Em sua mais recente pesquisa, o senhor estudou o comportamento dos brasileiros no trânsito. O que concluiu?
O trânsito mostra de forma inequívoca como o brasileiro tem horror a situações em que é colocado em igualdade de condições com os outros. Porque, ainda que uns dirijam suas limusines e outros, carrinhos populares, ou que uns tenham dinheiro para molhar a mão do guarda e outros não, o sinal vermelho será o mesmo para todos. Ultrapassá-lo significa pôr a própria vida e a dos outros em risco. As 40000 mortes no trânsito registradas no Brasil por ano são, em grande parte, o resultado da absurda e homicida tentativa de sobrepor-se à regra. O sistema de favores e privilégios, tão eficiente em outras esferas, não garante a invulnerabilidade dos que desrespeitam as regras de trânsito. Para um antropólogo como eu, ainda que com todos os entraves, o Brasil oferece um campo inesgotável para a investigação científica.
Sua mulher foi diagnosticada com a doença de Alzheimer. Como é lidar com isso?
Essa doença é terrível porque rouba a alma do doente, subtraindo dele o que nos torna, afinal, humanos: a capacidade de expressar de forma elaborada nossas ideias e emoções. A doença de rainha mulher, Celeste, foi diagnosticada há sete anos, e hoje ela já não fala, só sorri. Claro que faço projeções sobre esse sorriso. Será que é para mim? Celeste foi perdendo a capacidade motora e cognitiva aos poucos. No princípio, até pensei: "Não deve ser tão complicado". Mas com o tempo a doença mostrou seu lado mais perverso. É doloroso demais perceber que da pessoa que conheci há 48 anos, por quem me apaixonei perdidamente e com quem formei uma família, só ficou o corpo, como uma lembrança do que já foi. Ela ainda está aí, mas não dá para traduzir em palavras a falta que me faz.
domingo, 9 de outubro de 2011
Sobre autoridade, leis e moral
Estão em estrutura que tem uma certa leniência em cobrar deveres e obrigações dos demais. Comentei com ela que os postos mais altos adoram este tipo de “chefe” que cobra e faz as coisas acontecerem enquanto eles ficam com ares de bonzinhos. É muito difícil estes cobrarem providencias a seus subordinados. Na verdade quando são identificados estes "chefes" estes são valorizados, funcionam como o braço forte. Isso piora muito quando o alto escalão chegou ao posto pelo voto.
Nossa sociedade de um modo geral é muito frouxa a este respeito. São leis demais que simplesmente não funcionam. Dezenas de milhares de leis, portarias, resoluções para tentar regular o que? E na sua grande maioria é cessão de direitos que o Estado não pode abarcar por falta de condições mesmo.
Penso que fazer leis depois de um período de limitação de direitos como a que vivemos de 1964 a 1985 foi determinante para o padrão de liberdades aprovada na Constituição de 1988. De uma forma dialética, é lógico que após um período de limitações se criasse o oposto, algo cheio de direitos. O medo de viver novamente a experiência da ditadura criou todo um pensamento de liberdade.
Mas esta liberdade é tamanha que qualquer um que de alguma forma exerça sua autoridade logo será apontado com autoritário. Ora, uma coisa é a autoridade, algo benéfico que inclusive cria ordem, limites seguros de convivência, outra é o autoritário que abusa da autoridade trazendo inclusive prejuízos. Uma das heranças malditas da luta contra o autoritarismo foi a confusão gerada também com a figura da autoridade.
Em se tratando de regras de conduta, regras morais, se algumas pessoas, desde a época do império já se sentiam diferentes e por isso mesmo sentiam que não precisavam obedecer a certas leis (isso era para os outros), com a confusão gerada depois da constituição de 88 as coisas ficaram piores porque agora estamos diante de um processo deliberado de inversão de valores morais da sociedade. A permuta rápida de conceitos de certo e errado tem ocorrido de forma tão rápida e em tantas áreas que têm gerado uma condição de tal desconforto cognitivo nas pessoas que as impede de reagir, se tornam submissas preferindo abrir mão de se posicionar no que é certo ou errado. É a velha estratégia de Antônio Gramsci de alteração de valores da sociedade, mas que está ampliada tambem na infiltração nesta mesma sociedade dos seus intelectuais orgânicos, todos que de alguma forma militam algo, desde uma prostituta que reivindica o reconhecimento profissional (O Ministério do Trabalho não só reconhece como também ensina- ver 5198 :: Profissionais do sexo).
O processo civilizatório ocidental conheceu sua base de desenvolvimentos com a moral judaico-cristã a mais de 2 milênios. Outras tentativas de criar bases morais diferentes foram tentadas na Revolução Francesa (sec. XVIII) resultando na morte de mais pessoas em quatro meses do que em quatrocentos anos da Inquisição Espanhola. A outra foi a moral do socialismo globalizante dos proletários que matou alguns milhões de compatriotas e por fim a experiencia de um socialismo nacionalista do nazismo que resultou em muitos milhões a mais de vidas dos que eram “diferentes”.
Onde quero chegar com isso? Resgatemos nossa moral judaico-cristã. O estado laico é antiético. Onde estão os dez mandamentos?
1º - Amar a Deus sobre todas as coisas.
2º - Não usar o nome de Deus em vão.
3º - Guardar domingos e festas de guarda.
4º - Honrar pai e mãe (e os outros legítimos superiores).
5º - Não matarás.
6º - Guardar castidade nas palavras e nas obras.
7º - Não roube. (nem injustamente reter ou danificar os bens do próximo).
8º - Não levantar falsos testemunhos.
9º - Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos.
10º- Não cobiçar as coisas do outro.
As drogas não são inocentes na morte de Amy Winhouse
Acerca do comentário o Dr. Nery à morte de Amy Winhouse postado no link a seguir, respondi-lhe.
http://conversandocomnery.wordpress.com/2011/08/03/amy-winehouse-um-destino-inelutavel/#comment-175
Caro Dr. Nery,
Realmente as drogas não têm alma. Atribuir-lhes poderes que não tem é bem típico do humano. Concordo com vossa explanação até o ponto em que os seres humanos podem fazer suas escolhas e desta forma, escolher usar ou não.
O que o Senhor não coloca no seu ótimo texto é a ilustração de que inúmeros usuários perdem o controle sobre suas escolhas, perdem o controle sobre suas vidas. Talvez o Senhor queira colocar como que fazendo parte de um numero estatisticamente reduzidos em relação a população.
O caso da Amy, e o Senhor bem sabe, não era falta do desejo de parar de usar. Isso ela tinha tanto, que se submeteu a inúmeros tratamentos, pena que fracassaram.
O que ocorreu na vida da Amy é o que ocorre na vida de milhões de usuários que se transformaram em dependentes químicos em que perdem a capacidade de manter suas decisões.
Se neste seu texto retirarmos qualquer menção a drogas e substituirmos por “armas de fogo” provavelmente poderíamos atribuir que o problema está na pessoa que a porta e não no objeto. Pois bem, vejo que alguns objetos são mais propensos a gerar danos às pessoas. Se colocarmos que temos uma arma de fogo, um revolver com uma única bala no tambor e fossemos “brincar” de roleta russa, todos sabem o risco da tragédia. Mas o que leva pessoas a fazerem isso? Talvez a influencia do grupo, aliado as fortes emoções decorrentes da prática e talvez a um desejo de auto-afirmação, realmente não sei estou especulando. Mas voltemos a tal “bala na agulha” da roleta russa, que agora pode ser a relação do usuário com as drogas. O que fazer?
Assisti uma palestra do Senhor na qual disse que o ser humano ao descobrir sua finitude começou uma espécie de sofrimento, de angustia perante a morte e que se drogar era uma forma de sair um pouco desta dura realidade.
A droga (seja da boca-de-fumo seja da farmácia) perde a sua inocência quando se transforma em símbolo. O mesmo ocorre com a arma de fogo na mão de alguém, simbolicamente é o poder de vida ou morte que está ali. Não é possível inocentar as drogas quando estas se transformam em símbolos. Ninguém vai atrás de droga pela droga e sim pelo que ela representa.
Um abraço
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