Meus queridos colegas, Nestas questões que evocam a honestidade (ou a falta dela) me lembro do velho Platão quando conta a história do célebre anel de Giges. O anel que tornaria qualquer um invisível, inclusive você leitor, sempre que desejasse. É um anel mágico, que um pastor encontra por acaso. Bastava girar a pedra do anel para dentro da palma da mão para que seu possuidor se tornasse totalmente invisível e, virando para fora ficaria novamente visível. Giges, que antes era tido como um homem honesto, não foi capaz de resistir às tentações a que esse anel o submetia: aproveitou seus poderes mágicos para entrar no palácio, seduzir a rainha, assassinar o rei, tomar o poder, exercê-lo em seu único e exclusivo benefício. Platão que conta esta história em A república, conclui que o bom e o mau, ou os assim considerados, só se distinguem pela prudência ou pela hipocrisia, em outras palavras, pela importância desigual que dão ao olhar alheio ou por sua habilidade maior ou menor para se esconder. Segundo Platão, se ambos possuíssem o anel de Giges, nada mais os distinguiria: "ambos tenderiam para o mesmo fim". Isso equivale a sugerir que a moral não passa de uma ilusão, de uma mentira, de um medo maquiado de virtude? Bastaria poder ficar invisível para que toda proibição sumisse e que, para cada um, não houvesse mais que a busca do seu prazer ou do seu interesse egoísta? Será verdade? Platão, claro, está convencido do contrário. Alguém se sente platônico? Um caloroso abraço -- José Lamartine Neto _ _ COMTE-SPONVILLE, André. A moral. In: Apresentação da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p.17-26. (Adaptações por André Alcântara > > Pois é: contra a invisibilidade, a transparência! > > Não é querer demais de nós, falíveis humanos, que sejamos intrinsecamente > e incorruptivelmente corretos e honestos? A transparência ao olhar alheio > certamente nos ajudará a mantermo-nos no caminho virtuoso - e isso não é > mau; afinal, somos o mais social dos animais, e os comportamentos só podem > ser definidos como "bons" ou "maus" tendo como parâmetro a coletividade. > Exageros, evidentemente, devem ser coibidos, mas não me resta dúvida que o > gestor público pode ser fiscalizado por diversas instâncias da sociedade e > manter sua privacidade e dignidade humana. > > Concordo com Prof. P.: é necessário, e possível, termos uma organização > do tipo das fundações para termos mais agilidade no estabelecimento e na > gestão de convênios e parcerias com a iniciativa privada - e isso não > significa, de forma alguma, abrir mão do financiamento estatal para o > ensino e pesquisa. Mas, como Platão e Lamartine nos advertem, não serão as > pessoas que lá estiverem que vão garantir a honestidade das tratativas, > mas sim a transparência e a fiscalização sobre essas. > > saudações > > N. > Caro N., Perfeitas suas ponderações. E o fechamento foi preciso. Para nos proteger de nós mesmos é necessária a transparência e a fiscalização, e acrescentaria, na quantidade certa. O excesso de fiscalização é como remédio. Se a dose for grande demais pode até matar, ou seja, burocratiza tirando a agilidade. A transparência é como a luz, tira da obscuridade as relações. Deixam de existir "Deuses" ou senhores dos processos, já que a transparência nos aproxima, nos humaniza, tirando-os do Olimpo. É possível que comece uma luta pra evitar a perda da sensação de poder. Mas isso é outro papo... Grande abraço meu caro -- José Lamartine Neto ----------------------------------------------
terça-feira, 29 de abril de 2008
O que você faria se fosse invencível? Invisível?
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