Ludwig von Mises escreveu este pequeno e elucidativo texto sobre a função dos bens de luxo.
"A desigualdade da distribuição da renda, contudo, tem ainda uma segunda
função tão importante [..] : torna possível o luxo dos ricos.
Muitas bobagens se têm dito e escrito sobre o luxo. Contra o consumo dos
bens de luxo tem sido posta a objeção de que é injusto que alguns gozem
da enorme abundância, enquanto outros estão na penúria. Este argumento
parece ter algum mérito. Mas apenas aparenta tê-lo. Pois, se
demonstrarmos que o consumo de bens de luxo executa uma função útil no
sistema de cooperação social, este argumento será, então, invalidado. É
isto, portanto, o que procuraremos demonstrar.
A defesa do consumo
de luxo não deve, naturalmente, ser feita com o argumento que se ouve
algumas vezes, a saber: que esse tipo de consumo distribui dinheiro
entre as pessoas. Se os ricos não se permitissem usufruir do luxo, assim
se diz, o pobre não teria renda. Isto é uma bobagem, pois se não
houvesse o consumo de bens de luxo, o capital e o trabalho neles
empregados teriam sido aplicados à produção de outros bens: artigos de
consumo de massa, artigos necessários, e não "supérfluos".
Para
formar um conceito correto do significado social do consumo de luxo é
necessário, acima de tudo, compreender que o conceito de luxo é
inteiramente relativo. Luxo consiste em um modo de vida de alguém que se
coloca em total contraste com o da grande massa de seus contemporâneos.
O conceito de luxo é, por conseguinte, essencialmente histórico.
Muitas das coisas que nos parecem constituir necessidades hoje em dia
foram, alguma vez, consideradas coisas de luxo. Quando, na Idade Média,
uma senhora da aristocracia bizantina, casada com um doge veneziano,
fazia uso de um objeto de ouro que poderia ser chamado de precursor do
garfo em vez de utilizar seus próprios dedos para alimentar-se, os
venezianos o considerariam um luxo ímpio, e considerariam muito justo se
essa senhora fosse acometida de uma terrível doença. Isto devia ser,
assim supunham, uma punição bem merecida, vinda de Deus, por esta
extravagância antinatural.
Em meados do século XIX, considerava-se
um luxo ter um banheiro dentro de casa, mesmo na Inglaterra. Hoje, a
casa de todo trabalhador inglês, do melhor tipo, contém um. Ao final do
século XIX, não havia automóveis; no início do século XX, a posse de um
desses veículos era sinal de um modo de vida particularmente luxuoso.
Hoje, até um operário possui o seu. Este é o curso da história
econômica. O luxo de hoje é a necessidade de amanhã. Cada avanço,
primeiro, surge como um luxo de poucos ricos, para, daí a pouco,
tornar-se uma necessidade por todos julgada indispensável. O consumo de
luxo dá à indústria o estímulo para descobrir e introduzir novas coisas.
É um dos fatores dinâmicos da nossa economia. A ele devemos as
progressivas inovações, por meio das quais o padrão de vida de todos os
estratos da população se tem elevado gradativamente.
Havia um tempo
em que somente os ricos podiam se dar ao luxo de visitar países
estrangeiros. Schiller nunca viu as montanhas suíças que tornou célebres
em William Tell, embora fizessem fronteira com sua terra natal, situada
na Suábia. Goethe não conheceu Paris, nem Viena, nem Londres. Hoje,
milhares de pessoas viajam por toda parte e, em breve, milhões farão o
mesmo."
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