Se observarmos mais de perto o fenômeno das conversões evangélicas que ocorrem nas favelas do Rio de Janeiro, por exemplo, veríamos que boa parte dos que antes traficavam drogas e praticavam furtos sob a desculpa de que era a única saída que a vida lhes dera, abandonaram completamente estes meios de enriquecimento fácil. Tais pessoas continuam pobres, continuam habitando a mesma região, mas a percepção deles mesmos em relação à sociedade e dos fatores que os condicionam foi alterada. Grande parte dos pobres, e dos ricos também, não ousariam praticar furtos ou traficar substâncias por medo da lei, da imagem que sustentam diante da comunidade em torno ou dos próprios valores morais. Já o fora da lei, sempre o teremos. E não importa a posição que ocupe na sociedade.
No Brasil, vemos que as condições não são tão diferentes quanto à Inglaterra de Dalrymple. Apesar da propaganda do atual governo mencionar que a miséria tenha sido erradicada entre nós e que o país esteja mais rico, os índices de violência crescem como nunca antes observado na história. Há um completo descompasso entre riqueza material e espiritual. O Wellfare-State inglês fazia de tudo para garantir os “direitos” inalienável dos mais pobres, como moradia, automóvel, pensão e até mesmo garrafas de Scotch, mas mascarava os dados que evidenciam o aumento da violência, sobretudo nos bairros mais...pobres.
“Homens”, diz Dalrymple, “pensam, e o conteúdo daquilo que pensam determina em grande parte o curso de suas vidas”[1]. É a refutação de uma máxima marxista infinitamente perniciosa que tem corrompido a vida intelectual ao afirmar que não é a consciência dos homens que determina seu ser, mas é o seu ser social que determina a consciência. Longe de ser uma mera descrição do porquê alguns escolhem uma vida de crimes, o discurso progressista de que a pobreza determina a conduta individual acaba incentivando que mentes fracas – e como o mundo sempre foi cheio delas! – transfira a culpa pessoal para algum tipo de entidade abstrata, como “o sistema capitalista”, “a sociedade patriarcal”, “a igreja” e etc. Se o indivíduo não existe enquanto agente de suas próprias deliberações, só resta uma massa amorfa a arcar com a responsabilidade.
No Brasil, esse pensamento está enraizado em universidades, redações de jornais e programas de TV, e teve o seu auge quando intelectuais de esquerda aplaudiram o lançamento do livro Um Contra Mil, de William de Lima da Silva, que nada mais era que um verdadeiro tratado sociológico de como o crime era uma reação legítima contra uma sociedade injusta. Que William fosse mais conhecido como “O Professor” – líder do Comando Vermelho – não é informação relevante a esta altura.
A esquerda brasileira, após ter ajudado direta e indiretamente a elevar o nível da criminalidade no país, tenta posar como guardiã da liberdade e do progresso, com soluções para problemas que ela mesma inventou. Inventou e, assim como o banditismo urbano, se recusa a assumir a culpa. Talvez a esquerda gramsciana por aqui só dure até o início do verdadeiro estado de terror, quando será absorvida – ou fuzilada – pelos velhos revolucionários stalinistas. Deixar o banditismo à solta não visa acabar com a truculência dos órgãos de segurança contra pobres que não tiveram outra escolha a não ser a vida do crime, mas tão somente levar a população a clamar pelo policiamento ostensivo, até mesmo contra seus direitos mais básicos. Como Lênin dizia, “a burguesia tece a corda com que será enforcada”, mas no nosso caso, negando a realidade de que são espíritos de porco que materializam o chiqueiro, ou seja, que indivíduos e não entidades abstratas é que praticam ações, a corda é o discurso bem visto de que os chiqueiros é que fazem os porcos.
1. Dalrymple, Theodore - Vida Na Sarjeta, pag. 144, É Realizações(2014)
Por Felipe Lomboni
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