quinta-feira, 2 de abril de 2015

Doutrinação combina com educação? (por Osvaldo Lyra)


Osvaldo Lyra

Doutrinação combina com educação?

Publicada em 01/04/2015 07:16:11
Um episódio ocorrido recentemente na Universidade Federal da Bahia, em que uma professora da Faculdade de Comunicação teria insultado alunos da Faculdade de Direito, ao chamá-los de “coxinhas” (termo pejorativo usado para retratar os manifestantes em oposição ao governo Dilma Rousseff), trouxe à tona uma discussão até então adormecida nas unidades de ensino do país. Estaria em curso um processo de doutrinação ideológica nas escolas e universidades brasileiras? O tema, sensível e quase nunca tratado publicamente, chegou à Tribuna através de alunos da própria Ufba, que afirmam existir “um aparelhamento sistemático das universidades no Brasil”. O motivo, segundo disseram, é que não ser de esquerda nas faculdades, sobretudo públicas, se constitui num verdadeiro tormento. Muitos dos estudantes são moralmente achincalhados e intelectualmente perseguidos.
No episódio da Ufba, uma aluna que havia comparecido aos protestos no Farol da Barra, dia 15 de março, não teria tido coragem de se pronunciar em sala de aula, devido à pressão da professora. O argumento usado pelos integrantes da Universidade Federal da Bahia é que existe uma diferença muito grande entre ter opinião e impor ideologia. Eles dizem que a começar pelas bibliografias indicadas, “que são muito enviesadas”, não há espaço para pluralidade na vida acadêmica. Isso porque, autores, como Karl Marx e Paulo Freire, nitidamente alinhados à esquerda, são vendidos sob a áurea da neutralidade, passando uma sensação de falsa pluralidade, deixando de lado clássicos como Ludwic Von Mises, Aliomar Baleeiro e Ruy Barbosa.
No último dia 24, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados fez, pela primeira vez na história do país, uma audiência pública para debater a tentativa de doutrinação nas escolas públicas e privadas. À frente da ONG Escola Sem Partido, Miguel Nagib disse que a audiência preparava o caminho para uma lei nacional contra a doutrinação política e ideológica dos brasileiros. Para ele, o debate era para saber se as salas de aula estavam sendo usadas para favorecer, de forma direta ou indireta, governos, partidos e ideologias políticas, como vem denunciando, desde 2004, o movimento que lidera.
De acordo com Nagib, o uso da sala de aula para fins políticos e ideológicos afronta, a um só tempo, o princípio constitucional da neutralidade política e ideológica do Estado, e a liberdade de consciência dos estudantes, assegurada pelo art. 5º, VI, da Constituição Federal. “Mas não é só: ao abusar da liberdade de cátedra para tentar transformar seus alunos em réplicas ideológicas de si mesmo, o professor desrespeita os preceitos mais elementares da ética do magistério”, completou. Miguel Nagib diz ainda que muitos professores acreditam que, entre as quatro paredes da sala de aula, não têm contas a prestar à ética, pois, para eles, o que importa é transformar o mundo, construindo uma sociedade em conformidade com suas ideias de justiça.
O dirigente da ONG Escola Sem Partido cita ainda uma pesquisa do Instituto Sensus, que revelou, em 2008, que 80% dos professores reconhecem que seu discurso em sala de aula é politicamente engajado e que 60% dos pais e dos alunos têm a mesma opinião. E isso, tanto nas escolas particulares quanto nas unidades da rede pública.
Ideologias à parte, seja você de direita ou de esquerda, o fato é que o episódio da Ufba exige uma ampla discussão sobre o assunto. Não se pode permitir, num estado democrático de direito, que numa universidade os alunos não possam emitir suas opiniões, seja a favor ou contra o governo em questão. Uma escola e uma universidade devem incentivar, justamente, a diversidade, preparando e capacitando novos formadores de opinião. 




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