Diz a lenda que o texto original deste trabalho, em espanhol, circulou entre os alunos do curso de pós-graduação da Universidade de Piracicaba em 1981. A sutileza com que o autor satiriza um dos problemas de nossos tempos fez com que imediatamente o texto chamasse a atenção de alunos e professores, convertendo-se em tema de conversas e debates. Aos leitores, a Fábula dos Porcos Assados:
Uma das possíveis variações de uma velha história sobre a origem do assado é a seguinte: “Certa vez, aconteceu um incêndio num bosque e alguns porcos morreram assados. Os homens da região, experimentaram carne assada e acharam deliciosa. Desde então, quando queriam comer porco assado, incendiavam um bosque.
Mas como tudo não corria às mil maravilhas, o processo começou a preocupar o SISTEMA, dados os prejuízos que eram imensos. As queixas se avolumavam, a exigir a reestruturação do SISTEMA. Congressos, seminários e conferências passaram a ser realizadas anualmente. No XXX Congresso, os especialistas atribuíram o problema a fatores vários: a indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam ficar, a inconstante natureza do fogo, as árvores excessivamente verdes, a umidade da terra e ao serviço de informações meteorológicas local, que não acertava o lugar, o momento e a quantidade das chuvas.
Um dia, um incendiador AB/SODM-VCH - Acendedor de Bosques, Sudoeste Diurno, Matutino, bacharelado em Verão Chuvoso- chamado João Bom-Senso, resolveu proclamar que o problema era muito fácil de ser resolvido: bastava matar o porco, limpando e cortando adequadamente o animal, colocando-o numa armação metálica sobre brasas.
Avisado por um xeleléu, desses que vivem de congresso em congresso, o Diretor Geral de Assamento mandou chamar o João ao seu gabinete:
- Tudo o que o senhor disse está bem dito, mas não funciona. O que o senhor faria, por exemplo, com os anemotécnicos, caso viéssemos a aplicar a sua teoria?
- Não sei - disse João.
- E os especialistas em sementes e árvores importadas?
- Sei não.
- E os conferencistas e estudiosos, que ano após ano têm trabalhado no Programa de Reforma e Melhoramentos?
- Não sei - repetiu João.
- O senhor percebe a sua idéia não vem de encontro ao que necessitamos? O senhor não vê que, se tudo fosse simples, nossos especialistas já teriam encontrado a solução? O senhor com certeza compreende que eu não posso simplesmente convocar os anemotécnicos e dizer-lhes que tudo se resume a utilizar brasinhas sem chamas! O que o senhor espera que eu faça?
- Não sei, balbuciou o João.
- Diga-me se os nossos engenheiros em Porcopirotecnia não são considerados personalidades científicas?
- Sim, parece que são.
- O simples fato de possuirmos valiosos engenheiros em Porcopirotecnia indica que nosso SISTEMA é muito bom. Não é?
- Não sei.
- O senhor tem que trazer soluções para problemas específicos. Temos que melhorar o SISTEMA e não transformá-lo radicalmente, o senhor entende?
- Realmente, eu estou perplexo! - respondeu João.
- Bem, agora que o senhor conhece as dimensões do problema, não saia dizendo por aí que pode resolver tudo. O problema é bem mais sério e complexo do que o senhor imagina. Recomendo-lhe que não insista nessa sua idéia, pois lhe seria prejudicial.
João Bom-Senso, coitado, não disse mais nem um "ai". Sem despedir-se, assustado, saiu de fininho e ninguém nunca mais o viu. Por isso é que até hoje se diz, quando há reuniões de Reforma e Melhoramentos do SISTEMA: que falta faz o Bom-Senso!!
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