segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Ladrões de cofres e de instituições - REINALDO AZEVEDO

REVISTA VEJA - segunda-feira, dezembro 24, 2012


Antes uma realidade quase intangível, o Supremo Tribunal Federal (STF) foi parar na sala de estar dos brasileiros em 2012. No ano em que Carminha e Nina, da novela Avenida Brasil, embaralharam as noções corriqueiras de Bem e de Mal, os ministros se tomaram porta-vozes dos anseios de milhões de brasileiros justamente por terem sabido o que era o Bem e o que era o Mal. Cumpre notar que os juizes do STF não acharam o direito nas ruas, no alarido dos bares ou nos debates das redações. Decidiram segundo a Constituição, as leis e a jurisprudência da Corte. Personagens como José Dirceu, José Ge-noino e João Paulo Cunha se dizem vítimas de um tribunal de exceção e conclamam seus eventuais seguidores a julgar os juizes. Queriam ser tratados como sujeitos excepcionais. A questão é mais ampla do que se percebe à primeira vista.

A luta dos homens por igualdade perante a lei produziu tudo o que sabemos de bom e de útil nas sociedades; já o discurso da igualdade ao arrepio da lei só gerou morte e barbárie. Os atores políticos que tornam o mundo mais justo e tolerante anseiam por um horizonte institucional que universalize direitos para que emerjam as particularidades. Nas democracias, porque são iguais, os homens podem, então, ser diferentes. Nas ditaduras, em nome da igualdade, os poderosos esmagam as individualidades. Nas tiranias, porque são diferentes, os homens são, então, obrigados a ser iguais. Uma possibilidade acena para a pluralidade das sociedades liberais, e a outra, para os regimes de força, que encontraram no comunismo e no fascismo sua face mais definida.

O petismo no poder é fruto do regime democrático, sim, mas o poder no petismo é herdeiro intelectual do ódio à democracia e da crença de que um partido conduz e vigia a sociedade, não o contrário. Na legenda, não são poucos os convictos de que certos homens, em razão de sua ideologia, de seus compromissos ou de seus feitos, se situam acima das leis. Eis o substrato das acusações infundadas de que os ministros do STF desprezaram a jurisprudência da Corte para condená-los. Trata-se de uma mentira influente até mesmo entre aqueles que, de boa-fé, saúdam a “mudança” do tribunal.

Doses de ignorância específica e de má-fé se juntaram em pencas de textos sustentando, por exemplo, que, “sem o ato de ofício”, seria impossível punir um corrupto. Fato! O truque estava no que se entendia por isso. Os atos de ofício designam o conjunto de competências e atribuições de uma autoridade, com ou sem documento assinado. O Artigo 317 do Código Penal — uma lei de 1940 — assim define a corrupção passiva: “Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem”. Ora, como poderia assinar um documento quem ainda nem tomou posse? O voto de um congressista é um de seus atos de ofício. Se recebeu vantagens indevidas em razão dele, praticou corrupção passiva. Pouco importa se traiu até o corruptor.

A questão é igualmente vital quando se trata da corrupção ativa, um dos crimes pelos quais foi condenado José Dirceu, definida no Artigo 333 do Código Penal pela mesma lei de 1940: “Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício”. Nos dois casos, se o ato for efetivamente praticado, o que se tem é a elevação da pena.

Dirceu e seus sequazes, no entanto, sustentam que inexistem provas e que ele está sendo condenado com base numa interpretação falaciosa da chamada “Teoria do Domínio do Fato”, que busca responsabilizar criminalmente o mandante, aquele que, embora no domínio do fato criminoso, não deixa rastro. É evidente que não pode ser aplicada sem provas. E não foi. Há não uma, mas muitas delas contra Dirceu. Parlamentares disseram em juízo que os acordos com Delúbio Soares tinham de ser referendados pelo então ministro; ficaram evidentes suas relações com os bancos BMG e Rural, como atestam depoimentos da banqueira Kátia Rabello; foi ele um dos articula-dores da reunião, em Lisboa, entre Marcos Valé-rio, um representante do PTB e dirigentes da Portugal Telecom etc. O Artigo 239 do Código de Processo Penal trata das provas indiciárias: “Considera-se indício a circunstância conhecida e proada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”.

Não é uma inovação para perseguir Dirceu. A lei é de 1941. Em uma de suas intervenções, o então ministro Ayres Britto esclareceu (no fim deste artigo, o endereço com a íntegra de sua intervenção):
“(...) os fatos referidos pelo Procurador-Geral da República (...) se encontram provados em suas linhas gerais. Eles aconteceram por modo entrelaçado com a maior parte dos réus, conforme atestam depoimentos, inquirições, cheques, laudos, vistorias, inspeções, e-mails, mandados de busca e apreensão, entre outros meios de prova. Prova direta, válida e robustamente produzida em Juízo, sob as garantias do contraditório e da ampla defesa. Prova indireta ou indiciária ou circunstancial, colhida em inquéritos policiais e processos administrativos, porém conectadas com as primeiras em sua materialidade e lógica elementar(...)”.

A última falácia dizia respeito à cassação dos mandatos dos deputados condenados com trânsito em julgado. Corria-se o risco, como se escandalizou o ministro Gilmar Mendes, de o Brasil ter um deputado encarcerado. Da combinação dos Artigos 15 e 55 da Constituição com o Artigo 92 do Código Penal, decidiu o STF que parlamentares condenados em última instância por crimes contra a administração pública estão automaticamente cassados. Inovação? Feitiçaria? Juízo excepcional? Não! Apenas a aplicação dos códigos que regem o país.

A gritaria que se seguiu à decisão chega a ser ridícula. Eis a redação do Artigo 92 do Código Penal, que cassa o mandato dos deputados men-saleiros, segundo autoriza a Constituição:
São também efeitos da condenação

I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.

É trecho da Lei n° 9268, de 1996, aprovada pela Câmara e pelo Senado. O Congresso, pois, já decidiu que deputados e senadores condenados em processos criminais, com trânsito em julgado, têm seus respectivos mandatos cassados, nas condições discriminadas acima. Para os crimes de pequeno potencial ofensivo, a palavra final é das duas Casas. O STF harmonizou os dispositivos constitucionais e deu eficácia à lei. Julgamento havido em 1995 tratava de caso muito distinto e, como se nota, se deu antes da lei de 1996.

Coube ao decano, Celso de Mello, o voto de desempate, alinhando-se com o relator e agora presidente da Casa, Joaquim Barbosa, que resistiu a todas as patrulhas e intimidações de 2007 a esta data: “Não se revela possível que, em plena vigência do estado democrático de direito, autoridades qualificadas pela alta posição institucional que ostentam na estrutura de poder dessa República possam descumprir pura e simplesmente uma decisão irrecorrível do STF”. O ministro estava dizendo, por outras palavras, que, nas democracias de direito, é a igualdade perante a lei que permite aos homens exercer as suas particularidades; é só nas tiranias que as particularidades de alguns igualam todos os outros na carência de direitos. Uma fala oportuna, no momento em que certos “intelectuais” de esquerda e deslumbrados do miolo mole resolveram defender uma variante dita “progressista” do “rouba, mas faz”, na suposição de que o desvio ético seria um preço a pagar pelo avanço social. É espantoso. É o “rouba porque faz”. Só há um jeito de isso ser considerado aceitável: além dos cofres, eles precisam ser bem-sucedidos em roubar também as instituições.

Em nome do povo — isto é, das leis —, o Supremo lhes disse “não”.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Entrevista para o Lente Azul em dezembro de 2012

O texto “IFBA em espera” que duas alunas, das turmas 1842 e 10811 respectivamente,  construíram foi publicado no Jornal “LENTE AZUL” Ano VIII, nº 02 de Dezembro/2012.

Parte do texto consta informações colhidas de nossa entrevista dada na tarde do dia 29 de novembro.

O texto, ainda sem finalizar, nos foi enviada por e-mail para tecer alguns comentários, e assim foi feito visando esclarecer o que foi dito por mim, evitando entendimentos equivocados.

Infelizmente o que saiu no citado jornal foi a primeira versão que contem algumas coisas que precisam de esclarecimento, daí a razão desta publicação.

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IFBA em espera.

                      






Laboratório de Mecânica
Com prédios datados de mais de 60 anos, o Instituto Federal da Bahia – Campus Salvador é formado por um conjunto arquitetônico antigo que, infelizmente, não consegue se adequar as necessidades da Comunidade que se apresenta cada vez mais insatisfeita com a estrutura – ou a falta dela – no colégio. Concomitante a isso, as obras iniciadas no instituto não têm tido prazo de término, a exemplo das salas de desenho arquitetônico do curso de Edificações, obra essa que já dura quase um ano, mas que o prazo de entrega era de apenas seis meses.

Segundo o Professor José Lamartine, Coordenador de Manutenção do Instituto, metade da demora para a realização das  obras deve-se ao fato que os prédios que abrigam os alunos do IFBa foram projetados para outra realidade. Não se pensava no aumento no contingente de alunos, na acessibilidade, no data-show e no ar-condicionado. Logo, o que se tem é uma dificuldade imensa para o início de todo e qualquer projeto de adaptação. Mas, e quando as obras são iniciadas por que se tornam tão difíceis concluí-las? Culpa-se entãoas licitações, pregões, ordens de serviço, empresas incapacitadas e uma burocracia que é, segundo o Professor, um mecanismo de controle, “um mal necessário” como o mesmo prefere dizer e assim cria-se um ciclo vicioso onde as obras começam e não terminam, onde os materiais são comprados e não chegam, onde subestações elétricas são os maiores obstáculos para a tão sonhada ampliação da Biblioteca.

Acontece que, o sistema licitatório se dá também com prioridades. Quais são então as prioridades da Instituição? Ar- condicionado, cafezinho e lanches no “céu” ou as necessidades básicas dos alunos? Em entrevista a um aluno do Instituto, José William, do 3° ano de Automação, o Lente quis saber se ele estivesse em uma fila de espera no IFBa qual serviço ele estaria esperando e automaticamente o estudante respondeu:”Ampliação do Refeitório Estudantil”. Atenuando assim a existência de mais um problema na infraestrutura do colégio, o refeitório. Mas, além disso, ainda se tem laboratórios em reforma, como o de Mecânica, inviabilizando o processo de aprendizagem dos alunos e a própria didática de alguns professores, como a aluna Marcelle Senna, do 1º ano de Mecânica apontou em resposta ao Lente. 

Sabe-se que toda obra que se inicia no Instituto demora para ser concluída, sabe-se que todo material comprado demora para ser instalado, mas não caberia então a Direção descobrir um meio para informar aos alunos sobre como são feitos esses processos? O por que de tanta demora? Enquanto essas medidas não são tomadas, cabe aos alunos esperar, afinal aqui tudo está em espera.

T.P. e A.M.

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Pronto, voltei...

Após a leitura do mesmo, confrontado com o conteúdo da gravação (disponível abaixo) trocamos os seguintes emails no domingo, dia 16 de dembro de 2012, com uma das autoras:

“Caras alunas
 Em primeiro lugar quero agradecer por ter atendido meu pedido, encaminhando-me antecipadamente seu artigo. Mostra uma preocupação em ser justa ao mesmo tempo que demonstra uma grande qualidade que é a humildade. Meus parabéns.
Então vamos ao que interessa... o conteúdo do texto tem algumas coisas que me trouxeram preocupação e, para isso estarei fazendo algumas comentários.
No que se refere as “salas de desenho arquitetônico do curso de Edificações” foi recentemente ocupado com pranchetas para as respectivas aulas.
Quando vocês dizem que é tão difícil concluir estas obras e nós culpamos as “licitações, pregões, ordens de serviço, empresas incapacitadas”, o contexto destas informações não está adequado. Além do mais existe uma categoria que não faz parte do conjunto inicial que é “empresas incapacitadas”. No contexto que fazei estas são barradas da nossa instituição através de mecanismos oficiais, desenvolvidos pelo governo federal. Neste sentido sim, a burocracia é “um mal necessário” que visa proteger a instituição pública e o erário.
Outro possível equívoco é a menção de que “subestações elétricas são os maiores obstáculos para a tão sonhada ampliação da Biblioteca”. Como pode ser esta afirmação uma verdade se considerarmos que o consumo de energia atual do IFBA-Salvador está em torno de 60% da capacidade instalada nas mesmas?
No tema “prioridades” o que vocês querem dizer com “lanches no “céu” ou as necessidades básicas dos alunos”? Que efeito querem provocar nos leitores?
Peço que fiquem muito atentas com a fidelidade do que conversamos uma vez que a integridade e a honestidade intelectual de um autor é seu maior patrimônio.
Mais uma vez obrigado por ter compartilhado.
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José Lamartine Neto”
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A resposta dada, foi:
“Professor, li os comentários e tentarei fazer algumas modificações para tentar "ser fiel ao que conversamos". Mas, o senhor pode me tirar uma dúvida?
Se o senhor mesmo me disse que algumas empresas selecionadas não são a que o Instituto deseja, como seriam essas estão totalmente qualificadas? Se não entendi a mensagem que o senhor quis passar, peço desculpas antecipadamente.
A. M.”
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Continuamos os esclarecimentos...

Querida A.,
 A seleção de empresas ocorre através de mecanismos muito rigorosos definidos pela Lei 8.666, conhecida como lei das licitações.
A Lei 8.666 abre a possibilidade de privilegiar pequenas empresas (PE) e medias empresas (ME) quando concorrem com as maiores, chamadas de Sociedades Anônimas (SA) ou Limitadas (Ltda.) e, como resultado, em situações de proximidade de preços a vantagem fica com as PE e ME.
As pequenas e médias empresas, segundo o governo federal, devem ser apoiadas por oferecer empregos a muitos brasileiros e se o governo não as defender, o "mercado" não o fará. Só que as grandes empresas têm saúde financeira para ir até o fim e cumprir o cronograma das obras, oferecendo os serviços por um preço maior já que têm uma maior infraestrutura, mais empregados, máquinas, instalações, escritórios, etc. Aí entram em desvantagem pela seleção de menor preço exigido pela lei.
Como somos obrigados a seguir a lei, ficamos impedidos de fazer de forma diferente.
 É isso. Qualquer coisa, pergunte.
 Abraço
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José Lamartine Neto
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Por fim a aluna A. conclui com...

“Professor, 
Vou encaminhar esse e-mail para T. e ver o que ela acha já que escrevemos juntas. Bom, acho que os pontos que o senhor apontou no texto devem ser mesmo revistos, mas dependendo do que vamos mudar teremos que mudar toda a estrutura do texto e infelizmente não temos tempo pra isso, pretendemos que o jornal saia antes do recesso das festas de final de ano, mas farei o possível com T. para mudarmos o que for preciso. Obrigada pela paciência.”
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Aí finalizou nossos e-mails.

A seguir tem a lista com alguns pontos da gravação (abaixo) que gostaria de destacar:

01'30" - histórico dos prédios
03'00" - acessibilidade, licitação,
05'11" - Histórico das instalações
07'14" - Instalações elétricas, subestação,
08'10" - Biblioteca
11'28" - bebedouros
12'30" - Quebra de bebedouros
12'55" - Porque é difícil consertar as coisas
13'30" - Instalação de novos bebedouros
14'21" - Compras para governo federal
15'24" - Vestiário feminino
16'22" - Quebra de matérias novos
17'55" - Educação
19'08" - O trabalho e a equipe de manutenção
20'00" - Gestão de manutenção
21'18" - Codificação dos espaços
22'13" - Parceria interna
23'25" - Laboratório vivo
24'35" - Por que as coisas demoram...
26'55" - Por que a burocracia...





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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A adúltera de Deus - Luiz Felipe Pondé

03/12/2012

O Deus de Israel sempre amou as adúlteras. Jesus também dispensou cuidados especiais para com elas, e para com as prostitutas, os ladrões e os desgraçados de todos os tipos. Deus parece não resistir à sinceridade do pecador, assim como a filosofia parece amar a verdade do melancólico.

Na Bíblia hebraica, Raquel, a segunda esposa de Jacó (depois chamado de Israel), por muitos anos uma mulher estéril e idólatra por raiva de Deus, enterrada fora do "cemitério da família" por ter sido uma vergonha para esta mesma família, será escolhida por Deus como consoladora do povo eleito no sofrimento.

Raquel é a "mater misericordiae" do judaísmo. Quando Israel sofre, é o nome dela que deve ser lembrado. Deus ama as infelizes e as elege como suas conselheiras. Qual o segredo da infelicidade?
Não se trata de brincadeiras teológicas "progressistas" que erram achando que ninguém é pecador. A pastoral de hoje, vide as igrejas que crescem por toda parte (o judaísmo não escapa tampouco desse vício), cada vez mais se assemelha a grandes workshops de autoajuda ou treinamentos motivacionais. Nada menos cristão do que um Jesus consultor de sucesso. Ninguém quer ser pecador, só santo.

Mas aí reside o erro para com a teologia cristã mais sofisticada: nela, o grande pecador é o mais próximo do santo. A beleza da antropologia do cristianismo está neste sofisticado e denso vínculo dramatúrgico: quando o corpo se põe de joelhos, pelo peso do pecado, o espírito se ergue. Não se trata de dolorismo, mas, sim, da mais fina psicologia moral.

A santidade reside mais na alma do pecador do que na autoestima do "santinho".

Aliás, devo dizer que minha crítica à religião é diametralmente oposta àquela de tradição epicurista ou marxista. Esta, grosso modo, critica a religião porque ela faz do homem um alienado covarde, e que se vende a Deus para ser um alienado feliz. Eu me alinho mais ao pensamento do teólogo Karl Barth (século 20), para quem a religião torna tudo um mistério maior e traz à tona um sofrimento maior, mas que, por isso mesmo, amplia a consciência de nossa condição humana. Sofro, por isso penso, e logo, existo.

Recuso as religiões institucionais não porque elas fazem do homem um medroso, alienando-o de sua felicidade e autonomia (como creem Epicuro e Marx), mas sim porque as religiões fazem do homem um feliz, alienando-o de sua própria agonia. Quando a religião vira marketing, é melhor caminhar só pelo vale das sombras.

Revi recentemente o maravilhoso "Fim de Caso" (filme de 1999, dirigido por Neil Jordan), com a deusa Julianne Moore e Ralph Fiennes. O filme é uma adaptação do romance de Graham Greene e narra a "sua conversão". Trata-se de um fino tratado de teologia, melhor do que grande parte dos livros que afirmam sê-lo.

No filme, a compreensão da íntima relação entre pecado e graça é avassaladora. Nada mais forte do que a graça para iluminar a agonia do pecador para si mesmo: o santo não é um santinho.

A personagem de Julianne Moore é uma adúltera, que ao longo do filme apresentará traços claros de santidade, chegando a realizar um milagre. A adúltera, infiel ao seu marido, destruidora da fé no casamento e no amor que organiza a vida e a sociedade, o tipo mais vil de mulher, é aquela que mais fundo toca Deus em sua paixão pela agonia humana. No cristianismo, Deus leva a agonia humana tão a sério que resolveu Ele mesmo passar por ela, na figura da Paixão de Cristo.

Um musical a estrear, baseado na obra de Victor Hugo (século 19), "Os Miseráveis", com Hugh Jackman no papel de Jean Valjean, fugitivo da cadeia, e Russell Crowe no papel de seu perseguidor implacável Jabert, traz uma das maiores cenas da teologia cristã já representada na arte. Jean Valjean, após ter roubado os castiçais da casa de um padre, e ser pego pela polícia, é perdoado pelo padre que confirma para a polícia a mentira contada por Valjean: "Sim, eu dei os castiçais para ele".
Este ato transforma Valjean. O encontro entre a misericórdia e o pecador é uma das maiores afirmações do sentido da vida.

Luiz Felipe PondéLuiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/1194952-a-adultera-de-deus.shtml

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Escravos Cristãos, Senhores Muçulmanos


 
Christian Slaves, Muslim Masters: White Slavery in the Mediterranean, the Barbary Coast, and Italy, 1500-1800 - Robert C. Davis
 
[Escravos Cristãos, Senhores Muçulmanos: Escravidão Branca no Mediterrâneo, Costa Bárbara e Itália, 1500-1800 - Robert C. Davis]
 
 

 

Novo livro reabre o antigo debate acerca de incursões escravistas sobre a Europa

Professor dos EUA afirma que mais de 1 milhão de pessoas foram capturadas por piratas africanos

Rory Carroll, Africa correspondent
Thursday March 11, 2004
The Guardian


Piratas do Norte da África capturaram e escravizaram mais de 1 milhão de europeus entre 1530 e 1780 numa série de incursões que despovoaram as cidades costeiras da Sicília a Cornwall, de acordo com a nova pesquisa.

Milhares de cristãos brancos eram apreendidos todos os anos para trabalhar em galés, como operários e concubinas para chefes muçulmanos no que são hoje o Marrocos, Tunísia, Argélia e Líbia, afirma.

Estudiosos há muito sabem sobre incursões escravistas sobre a Europa. Mas o historiador estadunidense Robert Davis calculou que o número total capturado - embora pequena, em comparação com os 12 milhões de africanos enviados para as Américas nos últimos anos - foi muito maior do que anteriormente se admitia.

Seu novo livro, Christian Slaves, Muslim Masters: White Slavery in the Mediterranean, the Barbary Coast, and Italy, 1500-1800 [Escravos Cristãos, Senhores Muçulmanos: Escravidão Branca no Mediterrâneo, Costa Bárbara e Itália, 1500-1800], conclui que 1 milhão a 1,25 milhão acabaram na escravidão.

A metodologia não ortodoxa do professor Davis divide historiadores sobre se suas estimativas eram plausíveis, mas eles dão boas vindas a qualquer tentativa de preencher uma lacuna na pouco conhecida história de africanos subjugando europeus.

Ao reunir diferentes fontes de informação da Europa ao longo de três séculos, o professor da Universidade de Ohio pintou um retrato de um continente à mercê dos piratas da Costa Bárbara, conhecidos como corsários.

Vilas e cidades na costa da Itália, Espanha, Portugal e França foram as mais atingidas, mas as incursões também capturaram pessoas na Grã - Bretanha, Irlanda e Islândia. De acordo com um relato eles chegaram a capturar 130 marujos estadunidenses de navios em que eles trabalhavam no Atlântico e no Mediterrâneo entre 1785 e 1793.

Na ausência de registros escritos, como detalhados formulários aduaneiros, o professor Davis decidiu calcular a partir dos melhores registros disponíveis indicando quantos escravos eram de um determinado local em uma única vez e calculando quantos novos escravos eram necessários para substituir aqueles que morreram, escaparam ou foram libertados.


Para manter a população escrava estável, cerca de um quarto tinha que ser substituída a cada ano, o que para o período de 1580 a 1680 significou cerca de 8.500 novos escravos por ano, num total de 850.000.

A mesma metodologia sugere 475.000 foram seqüestrados nos séculos anteriores e seguintes.

"Muito do que foi escrito dá a impressão de que não havia muitos escravos e minimiza o impacto que a escravatura teve sobre a Europa", afirmou o professor Davis numa declaração esta semana.

"A maior parte das contas apenas olha a escravatura em um só lugar, ou apenas durante um curto período de tempo. Mas quando você tem uma visão mais ampla e mais prolongada, o enorme alcance desta escravidão e do seu poderoso impacto tornam-se claros".

O professor Davis admitiu que sua metodologia não era ideal, mas Ian Blanchard, professor de história econômica na Universidade de Edimburgo e uma autoridade sobre o comércio na África, afirmou ontem que os números pareceram encaixar-se.

"Estamos a falar de estatísticas que não são reais, todos os números são estimativas. Mas não achamos em absoluto que o valor de 1 milhão seja de todo surpreendente. Ele tem sentido".

A chegada de ouro das Américas e o transporte de escravos da África Ocidental espremeu o tradicional negócio das frotas mercantis bárbaras que estavam transportando ouro e escravos do sul para norte da África, de modo que eles voltaram o seu olhar para a Europa, disse o professor Blanchard.


Escravidão

Contudo David Earle, autor de The Corsairs of Malta and Barbary e The Pirate Wars, disse que o professor Davis pode ter errado ao calcular a partir de 1580-1680, porque esse foi o período de escravização mais intenso: "Seus valores parecem um bocado inseguros e penso que ele pode estar exagerando".

Dr. Earle também advertiu que a imagem era escurecida pelo fato de corsários também terem apreendido brancos não-cristãos da Europa Oriental e pretos da África Ocidental. "Eu não arriscaria um palpite sobre o total".

De acordo com uma estimativa, 7.000 ingleses foram raptados entre 1622-1644, muitos deles tripulantes e passageiros de navios. Mas os corsários também desembarcaram em praias, muitas vezes durante a noite, para capturar os incautos.

Quase todos os habitantes da cidade de Baltimore, na Irlanda, foram capturados em 1631, e houve outras incursões em Devon e Cornwall.

O reverendo Devereux Spratt registrou ter sido capturado por "argelinos" quando estava cruzando o mar da Irlanda de Cork para a Inglaterra, em abril de 1641, e, em 1661, Samuel Pepys escreveu sobre dois homens, capitão Mootham e o senhor Dawes, que foram também capturados.

Ano passado foi anunciado que um dos mais ricos tesouros encontrados fora da costa de Devon era uma embarcação bárbara do século XVI que estava indo capturar escravos ingleses.

Embora os africanos pretos escravizados e enviados à América do Norte e do Sul durante quatro séculos passem em número as estimativas do professor Davis sobre europeus levados para a África na proporção de 12 para 1, é provável que eles sofreram as mesmas condições sinistras.

"Uma das coisas que, tanto o público como muitos estudiosos têm tendência a tomar como um dado adquirido é que a escravatura foi sempre racial por natureza - que só pretos foram feitos escravos. Mas isso não é verdade", disse o autor.

Nos comentários que podem gerar controvérsia, ele disse que a escravidão branca tinha sido minimizada ou ignorada porque os acadêmicos preferem tratar os europeus como malignos colonialistas do que como vítimas.

Enquanto os escravos africanos trabalhavam em plantações de algodão, os escravos europeus eram forçados a trabalhar em pedreiras, construções e em galés, sofrendo desnutrição, doenças e maus tratos.

Governantes paxás, com o direito a um oitavo de todos os cristãos capturados, alojavam-nos em banheiros superlotadas conhecido como baños e os utilizavam em obras públicas, como a construção de portos e corte de árvores. Eram dados a eles fatias de pão e água.

As mulheres cativas dos paxás eram mais susceptíveis de serem consideradas como prisioneiras a serem trocadas por reféns, mas muitas trabalhavam como assistentes no harém do palácio enquanto aguardavam por pagamento e liberdade, o que em alguns casos nunca chegaram. Alguns escravos comprados por particulares eram bem tratados e tornaram-se acompanhantes, outros eram espancados e realizavam trabalhos excessivos.

“Os menos sortudos terminavam empalados ou largados no deserto, em cidades pouco movimentadas como Suez, ou nas galerias do sultão turco, onde alguns escravos vagavam por décadas sem sequer por os pés na praia”, diz o professor Davis cujo livro é lançado pela editora Palgrave Macmillan, dos EUA.

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Fonte: http://books.guardian.co.uk/news/articles/0,6109,1166849,00.html


 

 

Freud é apenas uma lenda - Mikkel Borch-Jacobsen

Mikkel Borch-Jacobsen

"Freud é apenas uma lenda"

Filósofo e historiador, o professor da Universidade de Washington diz por que considera o pai da psicanálise uma fraude
por Natália Martino
01.jpg
OMISSÃO
"Muitos pacientes de Freud cometeram suicídio e
ele nunca disse uma palavra sobre isso"
, afirma o professor

O filósofo e historiador Mikkel Borch-Jacobsen não se esquiva de uma polêmica. A última década da sua carreira, dedicada aos estudos sobre a história da psicanálise e da psiquiatria, foi pródiga em livros e opiniões controversas que lhe renderam inimigos entre terapeutas do mundo inteiro. Começou a receber as primeiras críticas severas em 1996 com o lançamento do livro “Anna O. – Uma Mistificação Centenária”, no qual questionava as avaliações de Freud sobre uma das suas principais pacientes. Foi também um dos autores do “Livro Negro da Psicanálise”, uma das obras mais barulhentas já lançadas sobre o assunto. Agora, escreveu “Os Pacientes de Freud”, lançado recentemente no Brasil (Editora Texto e Grafia), no qual reconstrói a trajetória de 31 pacientes de Freud. Na obra, ele conta os motivos que os levaram até o analista e, principalmente, como viveram durante e depois do tratamento. A partir de documentos, como cartas trocadas entre o terapeuta e seus amigos e entrevistas confidenciais feitas com os pacientes de Freud, o autor desconstrói o mito do criador da psicanálise.
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"Os medicamentos foram excluídos das histórias que o psicanalista
contou, mas muitos pacientes eram viciados em morfina"
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"Como Anna iria se curar se seu analista era o próprio pai do qual
ela deveria se desligar? Parece óbvio, mas ele não percebeu isso"


Mikkel Borch-Jacobsen - As histórias dos pacientes de Freud foram a base das suas teorias. Quando percebemos que elas são falsas, como vemos ao analisar a vida dos pacientes que descrevo no livro, toda a teoria da psicanálise é abalada. O caso apresentado por Freud como sendo de Anna O., que hoje sabemos tratar-se de Bertha Pappenheim, por exemplo, é considerado um dos mais fundamentais para o desenvolvimento da psicanálise. A paciente tinha sintomas graves de histeria que, supostamente, Freud curou com o método catártico. Mas isso não é verdade. No fim do tratamento, ela já não suportava mais conviver com o problema e foi internada em uma clínica, onde continuou apresentando o mesmo quadro de histeria. Apenas seis ou oito anos depois, Bertha foi considerada curada. Não se sabe como ela se curou, mas é óbvio que não foi com a psicanálise, ninguém se cura por meio de um tratamento finalizado quase uma década antes. 
 
Istoé - Os resultados terapêuticos eram insuficientes?
 Mikkel Borch-Jacobsen - Na maioria dos casos sim. Era comum que as condições dos pacientes piorassem, como no caso de Viktor von Dirsztay, que mais tarde chegou a admitir que a análise o destruiu. Muitos outros dos seus pacientes cometeram suicídio, como Margit Kremzir e Pauline Silberstein. Claro que qualquer terapeuta está sujeito ao risco de suicídio dos seus pacientes, mas a questão é que Freud nunca disse uma palavra sobre isso. 
Istoé - Ele escondia esses fatos?
 Mikkel Borch-Jacobsen - Como um bom positivista, Freud sempre afirmou que suas teorias eram baseadas na observação de dados clínicos. Por um longo período, porém, tudo o que sabíamos sobre esses dados se baseava no que ele escolheu nos mostrar. Ao compararmos essas histórias com a realidade, observamos discrepâncias que automaticamente invalidam as conclusões de Freud. Os medicamentos, por exemplo, foram sistematicamente excluídos das histórias que ele contou, mas muitos dos seus pacientes eram viciados em morfina. Hoje é muito claro que a droga teve em alguns casos um papel essencial no tratamento. Freud dizia, por exemplo, que diante dos ataques histéricos de Anna von Lieben, a Cäcilie M. citada em “Estudos sobre a Histeria”, ele conduzia um tratamento hipnótico que a fazia se sentir melhor. O que ele não nos contava é que as crises dela eram causadas por abstinência de drogas e que ela se acalmava quando ele lhe dava uma injeção de morfina. A famosa cura catártica nada mais era do que cura com morfina.
Istoé - Os diagnósticos dele são questionáveis?
 Mikkel Borch-Jacobsen - Sim, os diagnósticos que Freud alegava fazer tão cuidadosamente escancaram discrepâncias entre sua prática real e suas descrições. Quando o pai da jovem Ida Bauer, que Freud eternizou como Dora, a levou até Freud devido a um episódio de asma, o analista instantaneamente diagnosticou neurose. Mas como ele poderia saber? Aquela era a primeira vez que ele a via. Há vários exemplos desse tipo e uma vez que definia seu diagnóstico, Freud o mantinha obstinadamente, mesmo que os fatos mostrassem a ele outro caminho. As consequências dessa postura frequentemente eram bem sérias, como quando Freud forçou Horace Frink a se divorciar da esposa para se casar com a milionára Angelika Bijur para combater a homossexualidade que o paciente negava vigorosamente.
Istoé - Freud chegava a dar conselhos tão diretos aos pacientes?
 Mikkel Borch-Jacobsen - Ele intervia diretamente na vida dos seus pacientes e não hesitou em instigar alguns a se casarem e terem filhos, por exemplo. Foi o que aconteceu com Max Graf e Olga Hönig, os pais do “pequeno Hans” – e o casamento foi um completo desastre. Em outros casos, Freud proibia pacientes de se masturbarem, como no caso da sua filha, Anna Freud. Sempre que essas instruções eram dadas, Freud era a voz da autoridade.
 
Istoé - Ele acreditava que podia tratar a filha?
Mikkel Borch-Jacobsen - Freud queria muito ajudar a filha a se desligar dele e isso fica claro em várias cartas que ele escreveu a amigos. Mas a única coisa que ele podia oferecer a ela era a psicanálise, o que, obviamente, era a coisa mais estúpida que ele poderia fazer. Como ela conseguiria se curar se sua única ajuda era de um analista que era o próprio pai do qual ela deveria se desligar? Por mais óbvio que pareça, Freud não percebeu isso. Não estou dizendo que ele abusou da filha, de jeito nenhum, ele a amava. Mas estava tão convencido de que sabia como ajudá-la que não permitiu que ela se libertasse dele.
Istoé - Para Freud, a psicanálise sempre funcionava?
Mikkel Borch-Jacobsen - Sim, claro, ele acreditava que havia descoberto a cura para as doenças mentais. Freud tinha suposições teóricas que o impediam de ver o que estava acontecendo. Ele estava tão convencido de que a terapia funcionava que, quando ela não dava certo, ele simplesmente achava que era necessário ir mais fundo no inconsciente. Só no fim da sua vida, em seus últimos artigos, ele admitiu que os métodos eram inconclusivos em alguns casos.
Istoé - Mas em algum momento ele foi deliberadamente negligente ou desumano com seus pacientes?
 Mikkel Borch-Jacobsen - Sim, a forma como ele sacrificava seus pacientes no altar das suas teorias é vergonhosa. Marie von Ferstel, por exemplo. Ela era uma mulher rica que sofria de fobias e de constipação. Freud disse a ela que, para resolver esses problemas, ela teria que aprender a se desapegar, por exemplo, do dinheiro. O que ela fez? Transferiu para ele o título de uma das suas propriedades, que ele prontamente vendeu. Eu acho isso imperdoável. Freud simplesmente não era uma pessoa admirável.
Istoé - De que forma essas revelações atingem a psicanálise hoje?
 Mikkel Borch-Jacobsen - Não vejo como salvar a psicanálise diante de tudo isso. Eu sei que muitas pessoas admiram Freud como um pensador independentemente das vicissitudes de sua prática. Também acho que ele era um gênio, tinha ideias realmente incríveis. Mas as suas teorias são contraditórias demais às suas práticas para serem levadas a sério.
Istoé - O sr. aponta essas contradições em 31 casos e Freud atendeu pelo menos cinco vezes mais pacientes. Não poderia ser coincidência?
 Mikkel Borch-Jacobsen - Uma das minhas principais fontes de pesquisa foram as entrevistas com pacientes de Freud conduzidas por Kurt Eissler, que era secretário do Arquivos de Freud. Esse material ficou inacessível até 1999, quando Eissler morreu e, a partir daí, começou a ser colocado em domínio público, processo que só deve acabar em 2057. Eissler tinha enorme interesse em defender a memória do pai da psicanálise e se essas entrevistas fossem positivas não teriam sido tornadas confidenciais. Muita coisa ainda será revelada, possivelmente conseguiremos rastrear outros pacientes, mas não acho que as novas histórias irão contradizer as estatísticas que já temos.
Istoé - Muitas pessoas afirmam hoje ter encontrado conforto na psicanálise. Não há nenhum valor nisso? 
Mikkel Borch-Jacobsen - No meu ponto de vista, neuroses, como histeria e obsessão, não são doenças mentais, são pedidos de socorro. A análise cumpre, nesses casos, o papel que a religião cumpria antes. As pessoas iam até o padre para buscar respostas e as encontravam. Qualquer uma das centenas de tipos de psicoterapias que existem hoje pode cumprir esse papel. Reconheço que, em alguns casos, pessoas com problemas pessoais podem encontrar conforto no divã.
Istoé - Mas seus livros parecem tentar destruir a psicanálise.
 Mikkel Borch-Jacobsen - Eu sou um acadêmico e meu único interesse é separar as verdades das lendas. Freud é apenas uma lenda. Ele reescreveu a história de acordo com seus propósitos pessoais.
Istoé - Essa sua postura crítica em relação à psicanálise acompanhou toda a sua carreira?
Mikkel Borch-Jacobsen - Não, no início eu era simpático à psicanálise e tinha interesse especial na escola Lacaniana.
Istoé - E o que essa mudança significou profissionalmente?
Mikkel Borch-Jacobsen - Eu era constantemente convidado para conferências e para escrever artigos em revistas até que eu publiquei meu primeiro livro mais crítico sobre Freud. A partir desse momento, não fui mais convidado para nada. Não se pode ser crítico à psicanálise sem sofrer as consequências disso.
Istoé - O sr. também estudou a psiquiatria. Acredita que esse é um caminho mais válido para tratar doenças mentais?
 Mikkel Borch-Jacobsen - A psiquiatria não é uma teoria única, mas, de forma geral, fez enormes progressos, como se vê, por exemplo, nos diagnósticos de esquizofrenia, depressão e outras doenças. Do ponto de vista da cura, porém, ela não avançou. Temos várias drogas hoje que nos permitem controlar certos sintomas das doenças mentais, mas ainda não há cura para elas e nem mesmo se conhece suas causas. A psiquiatria tenta encontrar soluções, mas ainda não foi bem-sucedida.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Guarani Kaiowá de boutique - Luiz Felipe Pondé

19/11/2012

As redes sociais são mesmo a maior vitrine da humanidade, nelas vemos sua rara inteligência e sua quase hegemônica banalidade. A moda agora é "assinar" sobrenomes indígenas no Facebook.
 
Qualquer defesa de um modo de vida neolítico no Face é atestado de indigência mental.

As redes sociais são um dos maiores frutos da civilização ocidental. Não se "extrai" Macintosh dos povos da floresta; ao contrário, os povos da floresta querem desconto estatal para comprar Macintosh. E quem paga esses descontos somos nós.

Pintar-se como índios e postar no Face devia ser incluído no DSM-IV, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

Desejo tudo de bom para nossos compatriotas indígenas. Não acho que devemos nada a eles. A humanidade sempre operou por contágio, contaminação e assimilação entre as culturas. Apenas hoje em dia equivocados de todos os tipos afirmam o contrário como modo de afetação ética.

Desejo que eles arrumem trabalho, paguem impostos como nós e deixem de ser dependentes do Estado. Sou contra parques temáticos culturais (reservas) que incentivam dependência estatal e vícios típicos de quem só tem direitos e nenhum dever. Adultos condenados a infância moral seguramente viram pessoas de mau-caráter com o tempo.

Recentemente, numa conversa profissional, surgiu a questão do porquê o mundo hoje tenderia à banalidade e ao ridículo. A resposta me parece simples: porque a banalidade e o ridículo foram dados a nós seres humanos em grandes quantidades e, por isso, quando muitos de nós se juntam, a banalidade e o ridículo se impõem como paisagem da alma. O ridículo é uma das caras da democracia.

O poeta russo Joseph Brodsky no seu ensaio "Discurso Inaugural", parte da coletânea "Menos que Um" (Cia. das Letras; esgotado), diz que os maus sentimentos são os mais comuns na humanidade; por isso, quando a humanidade se reúne em bandos, a tendência é a de que os maus sentimentos nos sufoquem. Eu digo a mesma coisa da banalidade e do ridículo. A mediocridade só anda em bando.

Este fenômeno dos "índios de Perdizes" é um atestado dessa banalidade, desse ridículo e dessa mediocridade.

Por isso, apesar de as redes sociais servirem para muita coisa, entre elas coisas boas, na maior parte do tempo elas são o espelho social do ridículo na sua forma mais obscena.

O que faz alguém colocar nomes indígenas no seu "sobrenome" no Facebook? Carência afetiva? Carência cognitiva? Ausência de qualquer senso do ridículo? Falta de sexo? Falta de dinheiro? Tédio com causas mais comuns como ursinhos pandas e baleias da África? Saiu da moda o aquecimento global, esta pseudo-óbvia ciência?

Filosoficamente, a causa é descendente dos delírios do Rousseau e seu bom selvagem. O Rousseau e o Marx atrasaram a humanidade em mil anos. Mas, a favor do filósofo da vaidade, Rousseau, o homem que amava a humanidade, mas detestava seus semelhantes (inclusive mulher e filhos que abandonou para se preocupar em salvar o mundo enquanto vivia às custas das marquesas), há o fato de que ele nunca disse que os aborígenes seriam esse bom selvagem. O bom selvagem dele era um "conceito"? Um "mito", sua releitura de Adão e Eva.

Essas pessoas que andam colocando nomes de tribos indígenas no seu "sobrenome" no Face acham que índios são lindos e vítimas sociais. Eles querem se sentir do lado do bem. Melhor se fossem a uma liquidação de algum shopping center brega qualquer comprar alguma máquina para emagrecer, e assim, ocupar o tempo livre que têm.

Elas não entendem que índios são gente como todo mundo. Na Rio+20 ficou claro que alguns continuam pobres e miseráveis enquanto outros conseguiram grandes negócios com europeus que, no fundo, querem meter a mão na Amazônia e perceberam que muitos índios aceitariam facilmente um "passaporte" da comunidade europeia em troca de grana. Quanto mais iPad e Macintosh dentro desses parques temáticos culturais melhor para falar mal da "opressão social".

Minha proposta é a de que todos que estão "assinando" nomes assim no Face doem seus iPhones para os povos da floresta.

ponde.folha@uol.com.br
Luiz Felipe Pondé
Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, "Contra um mundo melhor" (Ed. LeYa). Escreve às segundas na versão impressa de "Ilustrada".

domingo, 14 de outubro de 2012

Passeio em Pituaçu 14-10-2012

Para oxigenar o cérebro de vez em quando é bom fazer alguma atividade física. Como não tenho muita paciência para academia e não sou muito disciplinado, opto por passeios esporádicos de bicicleta ou mesmo caminhadas com pequenos trechos de corrida. Nada muito puxado, afinal estou com mais de 100 Kg e não tem articulação que aguente, principalmente se não tiver usando um mínimo de equipamento adequado.

Neste domingo fomos para este belo lugar da cidade ainda com alguma mata, sons de besouro, pássaros cantando e o som do vento balançando as folhagens. Como sabem o percurso de aproximadamente 15 Km que da para ser percorrido entre 60 a 70 minutos sem muita pressa, passeando mesmo.
 
 
 
 
 
Confiram a beleza do clima, céu azul com algumas nuvens. Uma maravilha.


 
 
Uma paradinha básica para hidratação. Rosangela de uma lado e Jennepher Damásio do outro...

 
 
...e fotos da paisagem e dos novos equipamentos, como as luvas e o capacete da amiga Rosangela.
 
Nos cinco últimos quilômetros começou a chover, uma chuva fina que foi ficando mais e mais forte. E continuamos a pedalar afinal, ninguém é de açúcar para derreter. Emocionante um banho de chuva sem culpa como aqueles da infância nas cidades do interior, com direito a muitos Uhuuuuuss, seguidos do eco dos demais.

Até a próxima...

sábado, 13 de outubro de 2012

A esquerda nas escolas

Caso não saibam, existe um plano estratégico de cooptação ao pensamento esquerdista (inclui o PT é claro) da maioria dos estudantes através de ações em Grêmios Estudantis e Diretórios Acadêmicos.

Por quê? Bom, lá vai. Acredito que é por estarem na fase da vida mais propícia para manipulação por reunirem as condições mais adequadas geradas por uma condição física: a imaturidade neurobiológica da adolescência associado a profusão caótica de hormônios. Em outras palavras, falta cérebro e sobram hormônios.

Explico: Como a garotada está em um período neurobiológico de imaturidade do córtex pré-frontal, a mais recente parte do cérebro a se acrescentar no processo evolutivo, e que nos caracteriza como homo sapiens . E a parte responsável por funções fundamentais da civilização como "o pensamento, o planejamento de ações e a consequente inibição ou expressão destas ações, ou seja, a execução, decisão, noções de tempo e espaço, a personalidade de cada um, a própria consciência" ainda não alcançou a plenitude de seu desenvolvimento (por volta dos 20 anos).

Além disso, existe uma grande revolução hormonal devido a natural fase da adolescência. É a fase  em que tudo está ruim e tudo é motivo de revolta, com uma forte tendência a agir em bando. Como disse Mauricio Knobel, esta época da vida pode ser definida como "Síndrome da Adolescência Normal" com as seguintes características:

1. Busca de si mesmo e da identidade;
2. A tendência grupal;
3. Necessidade de intelectualizar e fantasiar;
4. Crises religiosas;
5. A vivência do tempo;
6. A sexualidade;
7. Atitude social reivindicatória;
8. Condutas contraditórias;
9. Separação progressiva dos pais;
10. Constantes flutuações do humor.

Mesmo antes destas coisas serem estudadas e estarem no papel já se conhecia este padrão de comportamento a milênios. O que se faz é dar uma causa, apresentada em um boa embalagem mesmo que o conteúdo seja fedido.

Porque os pais ou tios levam seus pequenos torcedores desde pequenos para os estádios de futebol, e porque os doutrinadores entram nas escolas e se infiltram no meio dos estudantes? Simples: criar seguidores.

E aí não importa que o time seja de primeira divisão e que a ideologia seja a que mais assassinou gente no Sec. XX. O que importa, como sempre se soube,  é que durante as manifestações coletivas de apoio, as emoções são tão fortes que as decisões tomadas ali tomadas movidas pelas paixão das arquibancadas ou das assembleias são duradouras, mesmo, como já disse, que o time ou a ideologia sejam de segunda. Mas será que esta escolha foi sua mesmo????

Estarão todos motivados a conseguir explicações para justificar sua escolha, sempre baseando-se, não tanto nos feitos do passado, mas principalmente na conquista de um futuro glorioso em que todos são co-partícipes. E assim se cria a militância, ou seja, como disse Olavo de Carvalho, "...é estar inserido numa organização política, submetido a uma linha de comando e envolvido por uma atmosfera de camaradagem e cumplicidade com os membros da mesma organização."

Uma boa definição foi dada pelo escritor inglês H. G. Wells, autor de A Guerra dos Mundos, ao descrever o alemão Karl Marx e seus seguidores “Uma mente de terceira, postulador de uma tese de segunda, propagandeada por fanáticos de primeira.”

Outra coisa: A direita (ou conservadores) foram eliminados neste país, restando apenas vestígios. Hoje a briga é se o político é de esquerda, ou da esquerda da esquerda, ou ainda da direita da esquerda. Basta estudar um pouquinho e verificar as origens ideológicas de seus atos, não de seus discursos, já que mentem como ninguém.



José Lamartine Neto
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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Uma vida para doentes mentais



Luiz Felipe Pondé, Folha de SP, 08 outubro 2012


Vivemos uma vida para doentes mentais. A Romênia já nos deu Cioran, Eliade, Ionesco. Agora nos dá Matéi Visniec, e a É Realizações traduziu várias de suas peças.

Entre elas, "A História do Comunismo Contada aos Doentes Mentais" nos dá a conhecer um medíocre escritor, convidado a contar a história do comunismo a doentes mentais dias antes da morte de Stálin.

Mas, para além do aspecto específico de uma reflexão sobre a conhecida praga do marxismo, chama atenção a reflexão sobre o mal que o autor faz em suas obras, principalmente na face contemporânea e histórica.

Os romenos são grandes "filósofos do mal". Tenho um profundo preconceito por quem acha que não existe o mal. Este tipo de antropólogo de boutique que confunde relativismo cultural com discussão moral séria.

Segundo o que nos dizia Cioran, na Romênia, ninguém se dava ao luxo de suspeitar da existência do mal, porque o fatalismo pessimista daquele povo era por demais "empírico": séculos de violência.

Segundo o autor, o mal em sistemas totalitários é fácil de ser identificado: a perda da liberdade, da privacidade, do horizonte, enfim, do tônus da vontade. Mas, na França em que vive desde seu exílio em 1987, o mal não é tão fácil de ser identificado. Para Visniec, aquilo que as ditaduras marxistas não conseguiram realizar plenamente, a formatação do homem para a condição de gado ou de doente mental, a "liberdade de consumo" das democracias ocidentais estão conseguindo. Este é o "nosso mal".

Como o leitor bem sabe, suspeito de toda crítica à sociedade de mercado quando feita por alguém que supõe conhecer uma melhor forma de vida e que afirma que esta melhor forma passa pelas ideias idiotas que alimenta em sua cabecinha intelectualmente provinciana e autoritária. Mas este não é o caso de Visniec.

Tendo vivido sob o regime totalitário marxista, ele carrega a marca de quem conheceu o mal na intimidade que só a forma banal do cotidiano traz.

Para as sociedade ocidentais funcionarem, temos que comprar. Para comprar no nível que a máquina econômica nos pede, temos que, mais do que comprar, consumir sempre e cada vez mais. Portanto, ao consumirmos "livremente" e com alegria, somos o gado pacificado que os regimes marxistas tentaram criar e não conseguiram. Um cidadão responsável neste mundo afirma sua integridade pagando a conta do Visa em dia.

Só alguém sem alma pode ver um shopping center no fim de semana e não ter vontade de vomitar. Um certo mal-estar com relação à sociedade de consumo é necessário se você quiser manter sua saúde mental em dia. A sociedade que consome sem um mínimo de mal-estar é uma sociedade de doentes mentais.

O problema é que não conhecemos nenhuma experiência histórica real na qual a liberdade política tenha sobrevivido ao extermínio da liberdade de iniciativa econômica.

Por outro lado, a vida humana é precária e tudo tem um custo real. Não conhecemos nenhuma forma de criar ciência, conforto, técnica, direitos humanos sem o uso de dinheiro. E assim voltamos ao consumo: o consumo garante a sobrevivência da economia no nível exigido pelo nosso desejo de conforto, ciência, técnica, direitos humanos.

Visniec se choca com uma Europa que tudo que parece querer é comprar. O Leste Europeu, quando ficou livre, gritou "Prada!". A liberdade conquistada foi para ir ao shopping no fim de semana e comprar toda essa gama de lixo que se compra, com a "boca cheia de dentes esperando a morte chegar...".

Nenhum intelectual parece entender que somos banais como doentes mentais.

Visniec pensa que temos que buscar novas utopias. O interessante é lembrar que a felicidade representada pelo "sou livre para comprar" também foi uma utopia na Europa. O euro é o nome dessa utopia.

Melhor abrirmos mão da ideia de utopia. Quanto mais rápido desistirmos de um mundo melhor, mais rápido perceberemos que a consciência, de fato, é um ônus.

E também, como dizia Yeats, "os melhores não têm convicções enquanto que os piores estão sempre cheios de intensidade passional". O desafio hoje é pensar sem utopias.

sábado, 6 de outubro de 2012

Hobsbawm: a inteligência a serviço do obscurantismo

Hobsbawm: a inteligência a serviço do obscurantismo

Reinaldo Azevedo

06/10/2012   às 18:14

 
Imperdível para quem gosta de história e de história das ideias o texto que Eurípedes Alcântara escreve na VEJA desta semana sobre o historiador inglês Eric Hobsbawm, que morreu no dia 1º deste mês, aos 95 anos.
Os males que o socialismo causou à humanidade não são triviais. Deveria bastar, para despertar o repúdio dos sensatos, o fato de que nenhuma outra convicção, ideologia, crença ou religião matou tanta gente. Não obstante, os marxistas ainda reivindicam, e assim são tratados, a condição de viajantes da utopia e da generosidade.
Fora da esfera moral, há a histórica, aquela em que transitava Hobsbawm, considerado o último grande vivo de uma ideia homicida. À sua morte, seguiram-se os panegíricos e os textos hagiográficos. É como se ele não fosse, até outro dia, o decano de uma fantasia liberticida — que, de resto, evidenciou a falência de todos os seus pressupostos teóricos.
Mediei um debate com ele em meados dos ano 90. O comunismo já havia desmoronado sob qualquer ângulo que se queira. Hobsbawm, acuado pelos fatos, seguia, no entanto, prisioneiro de uma ideia. As tolices de um homem inteligente são sempre mais chocantes do que as de um estúpido. Segue trecho do texto de Alcântara.
*
Os ingleses são apaixonados por história. A Inglaterra deu ao mundo extraordinários historiadores. Edward Gibbon produziu no século XVIII a narrativa definitiva do declínio e queda do Império Romano. No século seguinte, Macaulay escreveu uma história da Inglaterra que ainda não foi superada. Muitos outros se ombrearam com esses em pesquisas e relatos rigorosos, originais, honestos e sagazes da história contemporânea. Alan John Percivale Taylor, Hugh Redwald Trevor-Hoper, Arnold Toynbee, para citar alguns poucos. Eric Hobsbawm, morto aos 95 anos na semana passada, não forma nesse time por ter deixado sua devoção religiosa ao marxismo embaçar sua visão do século XX.
O marxismo é um credo que tem profeta, textos sagrados e promete levar seus seguidores ao paraíso. Os poucos sistemas políticos erguidos sobre essa fé desapareceram. Sobraram umas ilhas de miséria insignificantes. Como todas as teocracias, os governos marxistas foram ditatoriais, intolerantes, rápidos no gatilho contra quem discordava deles — foram estados assassinos. O escritor inglês H.G. Wells, autor de A Guerra dos Mundos, descreveu o alemão Karl Marx (1818-1883) como “uma mente de terceira, postulador de uma tese de segunda, propagandeada por fanáticos de primeira”.
Hobsbawm teve a chance de presenciar evidências concretas de seus equívocos. Ele testemunhou o desmoronamento do comunismo, com a implosão do sistema soviético no começo da década de 90. Só muitos anos mais tarde admitiu que, por ter sido tão completo o colapso da União Soviética, “parece agora óbvio que a falha estava embutida no empreendimento desde o começo”. O encadeamento dedutivo lógico, racional, dessa constatação só podia ser o reconhecimento de que sua própria obra tinha uma falha estrutural de nascença — a cegueira aos crimes do comunismo.
Mas fé e razão não andam juntas. Van Gogh foi um louco que pintava nos momentos de lucidez. Ernest Hemingway era um porre quando bebia — e entornava —, mas escrevia sóbrio. Hobsbawm foi um comunista que fez coisas notáveis quando lúcido. Os filósofos Isaiah Berlin e Leszek Kolakowski demonstraram que o marxismo atua no mesmo nível mental da transcendência, área distante da que processa os pensamentos e atos racionais. Isso explicaria por que, mesmo morto e enterrado como teoria e prática, o marxismo sobrevive como igreja — ou igrejinha, quando instalado em círculos acadêmicos. Cardeal da seita. Hobsbawm tinha convicções impermeáveis aos fatos e à lógica.
Karl Marx se acreditava um observador científico da realidade cujas afirmações sobre a superação do capitalismo pela revolução comunista não eram meras previsões. Eram profecias. A classe operária ficaria tão numerosa e miserável que tomaria inevitável o confronto vitorioso final com a burguesia. Algo deu errado. Em vez de empobrecerem, os operários foram ficando mais ricos — muito mais ricos do que seus antepassados jamais sonharam. Os países europeus, alvo de Marx, aplacaram a radicalidade das massas com reformas e assistência social.
Marx recebeu uma carta de Friedrich Engels, o amigo que o sustentava com a mesada do pai, rico industrial alemão. A carta era um lamento desesperado: “Os proletários ingleses estão se tomando mais e mais burgueses, mais burgueses do que os de qualquer outra nação: nós temos agora uma burguesia aristocrata e também uma burguesia proletária”. É desconhecida a reação de Marx ao choque dado por Engels, mas nas religiões, a realidade não tem valor de convencimento. Os crimes cometidos por líderes e seu aparato de eliminação dos adversários (e dos aliados incômodos), a derrota moral e material da seita? São argumentos insignificantes para os convertidos.
(…)
Leia a íntegra na revista.
Por Reinaldo Azevedo

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

COMUNISMO no BRASIL - A DITADURA do Proletariado

Nós Queríamos Implantar o COMUNISMO no BRASIL - A DITADURA do Proletariado - disse Fernando Gabeira no vídeo abaixo.




BRASIL, GUERRILHA E TERROR - A Verdade Escondida.



Eduardo Jorge admite o que Dilma sempre escondeu: "Éramos a favor da ditadura do proletariado"



segunda-feira, 24 de setembro de 2012

COMO CAÇAR PORCOS SELVAGENS E A LIÇÃO POLÍTICA

COMO CAÇAR PORCOS SELVAGENS E A LIÇÃO POLÍTICA

(Autoria desconhecida)

"Você sabe como capturar porcos selvagens?

Havia um professor de Química em um grande colégio com alunos estrangeiros de intercambio em sua turma. Um dia, enquanto a turma estava no laboratório, o professor notou um jovem africano do intercambio que continuamente cocava as costas e se esticava como se elas doessem.

O professor perguntou ao jovem qual era o problema. O aluno respondeu que tinha uma bala alojada nas costas pois tinha sido alvejado enquanto lutava contra os comunistas de seu pais nativo que estavam tentando derrubar seu governo e instalar um novo regime, um “outro mundo possível”.

No meio da sua historia ele olhou para o professor e fez uma estranha pergunta: “O senhor sabe como se capturam porcos selvagens?”

O professor achou que se tratava de uma piada e esperava uma resposta engraçada. O jovem disse que não era piada. E contou:


- “Voce captura porcos selvagens encontrando um lugar adequado na floresta e colocando algum milho no chão. Os porcos vem todos os dias comer o milho gratuito. Quando eles se acostumam a vir todos os dias, você coloca uma cerca mas só em um lado do lugar em que eles se acostumaram a vir. Quando eles se acostumam com a cerca, ele voltam a comer o milho e você coloca um outro lado da cerca. Mais uma vez eles se acostumam e voltam a comer. Você continua desse jeito até colocar os quatro lados da cerca em volta deles com uma porta no ultimo lado. Os porcos que já se acostumaram ao milho fácil e as cercas começam a vir sozinhos pela entrada. Você então fecha a porteira e captura o grupo todo.”

“Assim, rapidamente, os porcos perdem sua liberdade. Eles ficam correndo e dando voltas dentro da cerca, mas já foram pegos. Logo, voltam a comer o milho fácil e gratuito. Eles ficaram tão acostumados a ele que esqueceram como caçar na floresta por si próprios, e por isso aceitam a servidão.”

O jovem então disse ao professor que era exatamente isso que ele achava que estava acontecendo no Brasil.

O governo ficava manipulando o povo e espalhando "o milho gratuito" na forma de programas de auxilio de renda, bolsas X tudo, bolsa para isso e aquilo, impostos variados, estatutos de “proteção”, cotas para estes e aqueles, subsidio para todo tipo de coisa, pagamentos para não plantar, programas de “bem-estar social”, medicina e medicamentos “gratuitos”, sempre e sempre novas leis, etc, tudo ao custo da perda continua das liberdades, migalha a migalha...

Devemos nos lembrar que:

NÃO EXISTE ESSE NEGÓCIO DE ALMOÇO GRÁTIS e, também, que NÃO É POSSÍVEL ALGUÉM PRESTAR UM SERVIÇO MAIS BARATO DO QUE SERIA SE VOCÊ MESMO O FIZESSE.

Finalmente, se você percebe que toda essa maravilhosa “ajuda” governamental se opõe ao futuro da democracia em nosso país.

O milho já está sendo colocado faz tempo por políticos e ongueiros. As cercas estão sendo colocandas aos poucos, imperceptivelmente.



E quando menos se espera.. PRONTO, TRANCAM A PORTEIRA!





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domingo, 23 de setembro de 2012

Por que andar de ônibus faz bem-Fernanda Paiva

Por que andar de ônibus faz bem ao seu caráter


Não confie completamente em uma pessoa que nunca andou de ônibus.
Não importa se hoje você tem um Camaro Amarelo, se você já andou de ônibus em uma fase de sua vida, você não é a mesma pessoa. Digo mais: ainda que você tenha condições de comprar um Porsche para o seu filho quando ele fizer 18 anos, permita que ele passe ainda que poucos meses andando de ‘busão’. É que, para mim, este meio de transporte forma nosso caráter como chinelada nenhuma consegue fazer. Explico nos pontos seguintes.



1) Paciência
Tudo começa no processo de espera. Você se vê encostado na parada de ônibus esperando pela boa vontade do mesmo. Você até já decorou o horário que o “seu” ônibus passa. Mas se o motorista resolver pisar forte no acelerador e passar 3 minutos antes, só resta a você esperar mais 45 minutos pelo próximo.

2) Lidar com a humilhação
Vem ao longe o ônibus. Você reconhece no letreiro luminoso que é o SEU ônibus. Seu coração acelera. Você corre atrás dele como o Super Mario corre atrás da Princesa. Ele se aproxima e você percebe que o condutor não diminuiu a velocidade. Por algum motivo, o motorista passou direto com direito a um sorriso maroto, apontando para um suposto ônibus que vem atrás. Você fica com cara de tacho e a mão apontando para o nada.

3) Respeito às diferenças
Quando o “ônibus de trás” finalmente chega após 23 minutos, é claro que ele estará parcial ou totalmente lotado. Você se depara com um misto de sons e batuques, pessoas do Manassés pedindo doação, menino vendendo balinha e o cobrador com o humor pior do que o de um siri na lata. Você toca, ainda que não queira, pessoas que você jamais tocaria na zona de conforto de seu carro. Você é obrigado a lidar com gente diferente, sentar ao lado delas e até puxar assunto sobre “como o tempo hoje está quente”. Enfim: você deixa de lado seu ego e deixa de tanta frescura.

4) Altruísmo
Ainda que contra sua própria vontade, as Leis da Ética de Ônibus™ ‏dizem que você deve ceder seu lugar aos mais velhos e se oferecer para segurar os livros do estudante de ensino médio do cabelo esquisito que está em pé ao seu lado. Resumindo: você aprende NA MARRA a ser gente boa.

5) Capacidade cognitiva e filosófica
Janela de ônibus é praticamente a janela de sua alma. Não existe um lugar melhor para refletir sobre sua vida e colocar os pensamentos em ordem. Nem seu travesseiro; nem montes no Himalaia. Você acaba encontrando soluções para seus problemas, resolvendo cálculos complexos e tendo a ideia que faltou naquele brainstorm da reunião. Ou seja, de certa forma você se torna mais inteligente.


6) Educação
É no ônibus que você coloca em prática as palavras mágicas que sua mãe ensinou: “obrigado” (para o motorista, na hora de descer), “por favor” (a Deus, para que seu ônibus não demore tanto – todo dia peço isso a Ele) e principalmente o “COM LICENÇA” (por motivos óbvios). Ou seja: 1 ano de estágio probatório pegando ônibus e você se torna um gentleman ou uma lady.

7) Histórias para contar pros netos
Quem nunca passou por situações exóticas, engraçadas e inusitadas em ônibus? Quem nunca pegou o ônibus errado e foi parar em uma boca de fumo? (eu já!) Quem nunca ia descendo do ônibus e só na escadinha disse: “eita, esqueci de pagar! Perae moço!” (eu já) Quem nunca já sentou ao lado de uma senhora que foi com sua cara e resolveu te aconselhar com muita sabedoria? (eu já…)
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É isso, pessoal. Se vocês lembrarem de mais benefícios trazidos pelo ônibus, deixe nos comentários ou fale comigo via Twitter. Terei o maior gosto em compartilhar experiências com vocês.

fonte - http://fernandapaiva.com/blog/2012/09/19/por-que-andar-de-onibus-faz-bem-ao-seu-carater/
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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Paulo Freire e seus colaboradores

Extraído e traduzido da página "Visões críticas do trabalho de Paulo Freire" de John Ohliger

Melhor ideólogo de esquerda do que pedagogo, eis o que dizem alguns dos ex-colaboradores de Paulo Freire, o Patrono da Educação Nacional, depois que o conheceram melhor:

“Ele deixa questões básicas sem resposta. Não poderia a ‘conscientização’ ser um outro modo de anestesiar e manipular as massas? Que novos controles sociais, fora os simples verbalismos, serão usados para implementar sua política social? Como Freire concilia a sua ideologia humanista e libertadora com a conclusão lógica da sua pedagogia, a violência da mudança revolucionária?” (David M. Fetterman, “Review of The Politics of Education”, American Anthropologist, Março 1986.)

“Não há originalidade no que ele diz, é a mesma conversa de sempre. Sua alternativa à perspectiva global é retórica bolorenta. Ele é um teórico político e ideológico, não um educador.” (John Egerton, “Searching for Freire”, Saturday Review of Education, Abril de 1973.)

“[No livro de Freire] não chegamos nem perto dos tais oprimidos. Quem são eles? A definição de Freire parece ser ‘qualquer um que não seja um opressor’. Vagueza, redundâncias, tautologias, repetições sem fim provocam o tédio, não a ação.” (Rozanne Knudson, Resenha da Pedagogy of the Oppressed; Library Journal, Abril, 1971.)

“Alguns vêem a ‘conscientização’ quase como uma nova religião e Paulo Freire como o seu sumo sacerdote. Outros a vêem como puro vazio e Paulo Freire como o principal saco de vento.” (David Millwood, “Conscientization and What It's All About”, New Internationalist, Junho de 1974.)

“A Pedagogia do Oprimido não ajuda a entender nem as revoluções nem a educação em geral.”  (Wayne J. Urban, “Comments on Paulo Freire”, comunicação apresentada à American Educational Studies Association em Chicago, 23 de Fevereiro de 1972.)

“A ‘conscientização’ é um projeto de indivíduos de classe alta dirigido à população de classe baixa. Somada a essa arrogância vem a irritação recorrente com ‘aquelas pessoas’ que teimosamente recusam a salvação tão benevolentemente oferecida: ‘Como podem ser tão cegas?’” (Peter L. Berger, Pyramids of Sacrifice, Basic Books, 1974.)

“Sua aparente inabilidade de dar um passo atrás e deixar o estudante vivenciar a intuição crítica nos seus próprios termos reduziu Freire ao papel de um guru ideológico flutuando acima da prática." (Rolland G. Paulston, “Ways of Seeing Education and Social Change in Latin America”, Latin American Research Review. Vol. 27, No. 3, 1992.)

“Algumas pessoas que trabalharam com Freire estão começando a compreender que os métodos dele tornam possível ser crítico a respeito de tudo, menos desses métodos mesmos.” (Bruce O. Boston, “Paulo Freire”, em Stanley Grabowski, ed., Paulo Freire, Syracuse University Publications in Continuing Education, 1972.)

Na página de John Ohliger, um dos muitos desiludidos, hoje ex-devoto, é possível encontrar outros comentários http://www.bmartin.cc/dissent/documents/Facundo/Ohliger1.html#I).

Em função da combinação de forças políticas e ideológicas que atormenta o país, nenhum nome seria mais adequado para esta horaria (sic) póstuma com o título de "Patrono da Educação Nacional".
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