Uma colega colocou este tema de religião e sexo na nossa intranet. O tema começa assim:
"Religião e sexo nunca foram assuntos que andaram lado a lado. Para muitas crenças, o sexo é apenas parte do processo reprodutivo e o prazer é condenado. Outros acreditam que o sexo deva ser feito apenas depois do casamento e apenas com a pessoa que Deus escolheu para você." (matéria completa em http://br.mulher.yahoo.com/blogs/preliminares/evang%C3%A9licos-tamb%C3%A9m-gostam-sexo-190753499.html).
Chegou a comentar que "Aos poucos os evangélicos vão demonstrando seu verdadeiro lado bandido. E em nome de Jesus!!!"
Isso motivou uns comentários que enviei-lhe. Foi o seguinte...
Isso de moral e ética ligada a religião é um prato cheio ... Parece que das três bases da sociedade ocidental que são a filosofia grega, o direito romano e a moral judaico-cristão, esta ultima é a única que vem sendo sistematicamente atacada ao ao logo das ultimas décadas criando na sociedade brasileira mudanças de valores tão grandes comparada com os das ultimas gerações, que implicaram (e implicam) inclusive em mudanças de comportamento, numa verdadeira obra de engenharia social, tornando nossa sociedade cada vez mais adepta de valores que sempre repugnou.
Os valores que hoje nós cultivamos foram "implantados" pelos diversos canais de influencia: radio, jornais, TVs, internet, professores, lideres, canais político-ideológicos, etc. Isso ja foi estudado e transformado em técnica de manipulação por diversos estudiosos como Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Wilhelm Reich, Noam Chomsky e outros frankfurtianos ou não. O mais engraçado é que para se defenderem acusam de "teorias da conspiração", mas acreditem, até isso a inteligencia mediana acredita.
A esta estratégia de enfraquecimento/mudança de valores, que antes aglutinavam a sociedade vêm, através da infiltração lenta e progressiva nas mentes fazendo um trabalho formidável de readequação cognitiva da sociedade. Isso foi reforçada quando descobriram o potencial dos escritos do italiano Antonio Gramsci. Os nossos terroristas e fugitivos de 64 conheceram mais a fundo os tais Cadernos do Cárcere e dada sua utilidade na conquista do poder, passou a ser utilizado cada vez mais no Brasil se infiltrando e influindo nas relações éticas (ou nos comportamentos anti-éticos institucionais). Resultado: Vitória sem luta, já que as mentes foram derrotadas e para isso se vale de tudo mas, inclusive da mentira como pregava Joseph Goebbels. Isso sempre foi uma marca.
Assunto que não chamou a atenção: Há poucas semanas foi divulgado um relatório sobre os assassinatos no Brasil. Isso sim, um verdadeiro escândalo: 1.091.125 assassinatos nos últimos 30 anos, 49.932 vidas só em 2010 (ver tabelas em http://joselamartine.blogspot.com/2011/12/nunca-se-matou-tanto-no-brsil.html). Mas a natureza da engenharia social é tanta e tão introjetada que o desvio de foco nos aponta para assuntos que são irrelevantes, basta ver o que acontece nas redes sociais como facebook.
A colega faz uma réplica começando por...
Prezado prof. Lamartine
Senti-me gratificada pela resposta madura e de alto nível, inclusive por citar fatos e explicar parte de teorias que não tinha conhecimento. Sobre o problema da moral judaico-cristã, acho que existe um problema de natureza excessivamente dogmática que ainda sustenta essa predominância religiosa. Isso parece um retrocesso. Sinto-me parada no tempo.
Para mim é estranho que seres civilizados e que criaram um elemento chamado inteligência ainda se deixem levar por uma fantasia baseada numa tragédia de tempos atrás. E mais ainda, que toda aquela fábula continue sendo uma ilusão tida como planetária. Se Jesus existiu, há diversos problemas em acreditar nos seus feitos, mesmo baseado em escrituras que ninguém pode provar de onde vieram. Quanto mais, acreditar numa estória que represente uma ética, no mínimo, contraditória.
Antes de mais nada, Jesus era um rebelde, um fora-da-lei, um beberrão dotado de eloquência, influência no discurso e "crente". Devemos lembrar que os romanos também estavam num processo civilizatório. Se era bom ou ruim, não podemos saber. Um jesus era muito impactante para um governo que buscava consolidação. Qualquer governo seria assim, já que o próprio processo civilizatório ainda era muito recente. Depois do surgimento do Direito e isso ocorreu lentamente, as classes e suas diferenças vieram aamadurecer determinados assuntos.
Não consigo parar de questionar a legitimidade cristã para levantar questões morais atuais, levando em consideração que seu público era de um pouco mais de 800 pessoas (talvez 1000 para ser otimista) ilhadas numa região arcaica. Jesus estava iludido e sua paixão era suicida.
Será que nós acreditaríamos se hoje um mendigo, miserável, rip, etc., saísse por aí dizendo que é "rei planetário e único filho de Deus, num mundo de dezenas de trilhões de pessoas"? E se esse mendigo arrastasse uma multidão via web, via tv paga, tv gratuita, nas manifestações públicas, etc., iniciasse um grande conflito? Nós mesmos não iríamos reprimi-lo, principalmente porque sabíamos que esse mendigo era um alucinado, influenciado por uma mãe dogmática repressora moderada (Maria fez toda a alegoria)? E que a comunidade a que eles mantinham influência não tinha certo discernimento necessário para filtrar aqueles que se dizem profetas?
Toda a história cristã é questionável, desde a bíblia. Quanto mais seus seguidores universais...
Falar de moral, ética com base em jesus é estranho. Que ética ele teve com os romanos (não falo do exército romano, mas do povo) e com os seus sabendo que eles iriam morrer?
Só que o mais contraditório é ver pessoas que se julgam o ápice da fé, da emancipação religiosa, da decoreba da bíblia cristã, da moral, do CASAMENTO, da LEALDADE, da FIDELIDADE, alternarem seus aspectos morais, tendo como exemplo este da sexualidade, presente na matéria. Isso não seria uma pseudo-moral?
Então estou oferecendo esta tréplica...
Vamos por partes. A questão da natureza da moral judaico-cristã, diferentemente de natureza científica, não é para ser comprovada, se submetendo a um processo iluminista do positivismo na sua busca da verdade. Trata de verdades de fé, e estas não são comprováveis experimentalmente. Ou se acredita ou não. Não precisa do aval da ciência para dizer se é verdade ou não para o indivíduo, portanto esta saber está submetido ao paradigma mais antigo e o novo (da ciência) tenta submetê-lo.
O que nos tornou civilizados foi a ciência ou a forma racional e empírica do saber? Claro que não. Certamente para termos chegado onde chegamos foi em função de termos seguido um código de conduta, e neste ponto ele é introjetado também como uma ideologia, um marco no relacionamento entre as pessoas. Então, o que há de errado, por exemplo, com os 10 mandamentos? Qual é o retrocesso?
Neste ponto nossa "civilização" não é em nada melhor do que a passada, pois fomos abrindo mão de vários pontos deste código em troca da “lei do Gérson”, ou “os fins justificam os meios”, regredindo em alguns pontos. Seguir uma religião, ter preenchido este espaço interior, não é uma decisão que coletiva, é uma escolha pessoal, como deve ser a busca da verdade, individual e nunca coletiva. Mesmo assim, percebemos que vários compartilham de sua fé.
Quanto a Jesus se foi real ou não isso é o que menos importa. Ele deixou de ser um ser e foi transformado em um símbolo, a imagem que dele fizeram. Lembra que na Bíblia tem uma passagem narrando o conflito no qual deve-se ou não pagar os impostos a Roma? Pois bem, o que foi que Jesus aconselhou? “Dai a César o que é de César”. Os judeus tinham suas leis, mas existiam as leis romanas que eram dominantes e estas não deveriam ser quebradas e sim obedecidas. Como revolucionário ele era muito diferente da postura arrogante de hoje que para tudo queremos mudar as leis e conformá-las segundo nossa imagem e semelhança. É deste mesmo revolucionário que você estava falando?
A cada época o seu inferno. Os mandatários do passado sabiam que iriam ser julgados em um tribunal do futuro, mas provavelmente respeitando-se as leis do momento ou segundo suas próprias criações, senão muito pouco teria sido feito na humanidade. Penso que não faz sentido julgar o passado pelas leis atuais. Os padrões e os valores mudam conforme já explanamos. O que antes era permitido, devido a diversas circunstância daquele momento, hoje jamais concordaríamos. Então qual o sentido de justiça se tudo é condenável, bastando esperar o tempo passar? Veja o que aconteceu com os terroristas brasileiros que nas décadas de 1960 e 1970 explodiram bombas, mutilaram pessoas, roubaram centenas de bancos, cometeram atentados a quarteis, assassinaram estrangeiros, "justiçaram" muitos de seus próprios membros, seqüestraram, mentiram e se associaram a nações estrangeiras contra o Brasil. De bandidos do passado a honoráveis senhores e governantes, alguns heróis do presente, gordas indenizações pagas pelo nosso dinheiro a título de reparações pelos “danos” que o Estado lhes causaram, enquanto suas vítimas e suas famílias são relegadas ao esquecimento. Então, o errado vira o certo, o ruim vira o bom, o crime vira virtude como temos visto aqui no Brasil. Só depende da ideologia que esteja no poder, e no nosso caso, é muito importante fragilizar condutas morais com ataques e boatos, mentiras, influência de professores já doutrinados (é obvio que eles não têm consciência disso) nos jovens estudantes, além de dezenas de outros meios.
Onde quero chegar: mostrar que de forma sistêmica existe uma teia de conexões entre a tentativa de desmoralização de entidades que pregam uma moral judaico-cristã e uma tentativa de tomada de poder político-ideológico e nosso país.
Quanto aos processos da igreja, seria muito bom avaliar o que já existe de disponível acerca dos seus tribunais da inquisição, avaliar o como se dava o rito do direito canônico. Os acusados, depois de anos de julgamento eram sentenciando e muitos eram libertos. Não foram julgados e condenados em ritos sumários como os praticados por alguns daqueles que hoje são tidos como heróis brasileiros, homenageados com nomes de ruas e tudo mais.
Neste aspecto quando a civilização ocidental tentou criar outros padrões de conduta humana diferentes daqueles instituídos pela conduta de uma moral judaico-cristã tiveram resultados desastrosos. Veja os três exemplos a seguir:
O primeiro ocorreu na França do seculo XVIII com a Revolução Francesa. No seu processo de implantação, trouxe mais mortes nos primeiros 90 dias do que 400 anos de inquisição espanhola.
O segundo caso é sobre a tentativa de se criar sociedades a partir de “um novo homem” pregado pelo Socialismo (em cujo discurso afirma que a finalidade seria o Comunismo) já neste ultimo século XX evidencia quais resultados senão as dez dezenas de milhões de mortos na URSS, China, Cambodja, Vietname, Coreia, Cuba e os seus respectivos agentes multiplicadores espalhados em diversas nações através daqueles grupos de terroristas que se diziam revolucionários a serviço da democracia?
O terceiro caso é o do socialismo nacionalista e não preciso citar a você o que o processo ideológico entranhado na mentalidade alemã trouxe como fruto. Mais alguns milhões de mortes.
Questionar-se quanto a legitimidade cristã para “levantar questões morais atuais” baseada em 800 (talvez 1000) pessoas pioneiras e o que dizer daqueles que começaram os movimentos da Revolução Francesa, Socialismo e o Nazismo? Que legitimidade moral teriam então estes movimentos a não ser tentar reduzir tudo a sua forma particular de pensar? Já notou que nenhuma delas permite que exista uma oposição intelectual à ideologia dominante pela existência de um patrulhamento ideológico rigoroso e violento, eliminando até mesmo fisicamente os opositores. Mas, aqui mesmo no Brasil atual já notou alguma semelhança dos métodos, ou seja, não é permitido a convivência civilizada dos opostos. Quando identificados são sumariamente atacados, admoestados, encapsulados de forma a ficarem isolados em um monologo solitário que equivale a eliminação (não física) das interações sociais. Percebe alguma semelhança nos métodos?
É por estas e outras razões que não coaduno com estas tentativas modernas de se criar novos padrões de conduta humana, inclusive nas suas novas roupagens do “politicamente correto” ou do “extremismo laico” e aqui no Brasil a normatização excessiva das condutas inclusive invadindo o lugar sagrado das realizações particular. Abuso de autoridade na privacidade. Se alguem, dentro da maioria dos círculos acadêmicos expressar sua fé, ou disser que acredita em “ET's” cai em desgraça.
Nesta linha de pensamento, uma das fábulas de Esopo, grego que dizem que viveu no século VI antes de Cristo (2.562 anos passados), fala sobre a mentira e o mentiroso. Uma delas em particular é bem interessante e chama-se “A raposa e o macaco”
“Um macaco e uma raposa viajavam juntos e discutiam para saber quem era o mais nobre. Ao chegar em determinado lugar o macaco fixou o olhar num ponto e começou a soluçar.
- Que é que há contigo? - perguntou-lhe a raposa.
Apontando os túmulos, o macaco respondeu:
- Como não chorar diante das estrelas dos meus pais, que foram escravos alforriados?
A raposa retrucou:
- Podes mentir a vontade. Nenhum deles se levantará para dizer ques estás mentindo.
Os mentirosos dizem o que querem quando não há ninguém por perto para desmenti-los.”
E neste caso a mentira não precisa ser “cabeluda”, basta que alguem conte a sua própria versão de fatos. Aliando-se esta versão a uma nova metodologia sócio-histórica com jeitão desconstrucionista para lhes dar ares científicos de verdade, de verdade relativa e pronto. Lamentavelmente os fatos não tem mais valor de fatos e sim a sua interpretação. Isso faz lembrar o que disse Marx (não o Karl mas o Groucho) “Você acredita em mim ou nos seus próprios olhos?”
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domingo, 15 de janeiro de 2012
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