segunda-feira, 30 de julho de 2012

Che – O mito macabro - Ipojuca Pontes

Por Ipojuca Pontes.
14 de outubro de 2007.

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Uma figura transformada em santo pela eficiente máquina de propaganda marxista é o que o Senado Federal, em detrimento dos verdadeiros heróis, vai homenagear.
“Não sou Cristo nem filantropo; sou todo o contrário de Cristo”
“Che” Guevara em carta familiar

No próximo dia 23 de outubro, em sessão especial, o Senado Federal vai prestar homenagem à memória do mitológico Ernesto “Che” Guevara. Como se sabe, há 40 anos o “Che”, tentando levantar uma revolução comunista nas selvas da Bolívia, foi capturado por pequena tropa comandada pelo capitão Gary Prado, do Exército boliviano e logo depois executado pelo tenente Mario Téran - não sem antes implorar pela vida: “Não disparem. Sou Che. Valho mais vivo do que morto”.

O requerimento para a estranha celebração política é de autoria do obscuro senador José Nery (PSOL-PA) - que responsabilizou o “imperialismo ianque” pela morte do aventureiro mas cuja desgraça, sabe-se, foi urdida pela vontade de Moscou, Fidel Castro e o PC boliviano – e tem a aprovação de outro político esquerdista, Tião Viana (PT-AC), vice-presidente do Senado.

Como registrei no meu livro “Politicamente Corretíssimos” (Toopbooks, Rio, 2003), o mito Guevara não corresponde nem de longe à realidade dos fatos. Salvo pela “revolução cubana” – efetivada, em parte, pela inação dos Estados Unidos que abandonaram o sargento Fulgêncio Batista e no início ajudaram Fidel Castro nas escaramuças de Sierra Maestra - a vida do cruel revolucionário foi um completo fracasso: na órbita familiar, no amor, à frente de ministério e banco, como comandante, “diplomata” e guerrilheiro, para não falar no “ideólogo do foquismo” - sua trajetória humana e social tributa larga soma de erros e equívocos que nem mesmo os biógrafos mais entusiastas (entre eles, Jon Lee Anderson) conseguem dissimular.

Com efeito, filho de mãe “possessiva” e produto de um lar “excêntrico”, desde cedo o “Che” só fez acumular fracassos. Por exemplo: quando, como estudante, aspirava (em Córdoba/Argentina) realizar casamento “burguês” com a prima rica Chinchina Ferreyra, que o repudiou; ou como presidente do Banco Nacional Cubano, levando a moeda e a economia da ilha à completa insolvência; ou ainda como ministro da Indústria de Cuba, quando fracassou miseravelmente ao lado de Fidel, na obtenção de 10 milhões de toneladas de açúcar que nem de longe atingiu; e nas frustradas negociações com a Nomenklatura soviética em que pedia ajuda para industrializar Cuba e teve como resposta um sonoro “não”; e na sua doentia pretensão de criar o “homem novo” e a “sociedade nova” – enfim, em tudo que o desastrado guerrilheiro colocou as mãos, só demonstrou elevado grau de incompetência e insensatez.

No levantamento dos sucessivos fracassos de Guevara, propositadamente escondido pelos criadores de mitos, o que chama atenção, no terreno em que se dizia “especialista”, é a sua derrota para os 100 mercenários do Coronel Mike Hoare nas planícies do Congo, em 1965. Vale a pena lembrar.

Excluído da vida política e administrativa de Cuba pelos russos, que sustentavam com bilhões de dólares o banquete de “la revolución” e não o queriam por perto, Guevara saiu mundo afora. Sua idéia era criar “um, dois, muitos Vietnãs” para debilitar o “imperialismo ianque”. Julgando oportuno e financiado por Ben Bella (leia-se “petróleo argelino”) e contemplado com armas chinesas, rumou para o Congo (ex-belga) e se juntou às tropas rebeldes de Laurent Kabila, o jovem aspirante a ditador que, por sua vez, queria derrubar o governo de Moise Tshombe e tomar o seu lugar.

Com 127 guerrilheiros cubanos e 3 mil soldados congoleses bem armados, Guevara se internou nos charcos do país africano e tentou derrubar Tshombe. Seus objetivos no Congo eram, pela ordem, privar as fontes financeiras do governo provenientes das minas, obrigar a Bélgica a reconhecer o novo Estado revolucionário, controlar os minerais estratégicos para benefício do bloco socialista e, mais tarde, levar sua guerrilha até Angola.

Diante da ameaça, Tshombe contratou os serviços do Coronel Mike “Mad” Hoare, mercenário sul-africano, especialista em guerra de movimento nas selvas. Conforme registra o historiador Miguel A. Faria, em “Escape of from lost paradise” (Hacienda Publishing, 2002), as derrotas dos guerrilheiros do “Che” no Congo, foram “desmoralizantes”. Na batalha pela hidrelétrica de Bendela, por exemplo, Hoare eliminou boa parte do exército congolês e botou os guerrilheiros cubanos a correr.

Na batalha de Fizi Baraka, nas proximidades do Lago Tanganica, Hoare encurralou Guevara e suas tropas, atacando-as pela retaguarda, de madrugada, destruindo o serviço de comunicação e o centro de abastecimento da guerrilha. No entrechoque fatal, Hoare eliminou 125 soldados congoleses e deixou pelo chão mais de 600 feridos. O “Che”, que tinha prometido aos seus comandados “devorar” com as próprias mãos os adversários vencidos, bateu célere em retirada. No seu próprio diário sobre a experiência militar do Congo (“Passagens da guerra revolucionária: Congo” - Record, Rio, 2005), diz que a experiência foi um “fracasso absoluto” e justifica a clamorosa derrota pela “indisciplina” dos soldados congoleses - que, por sinal, diga-se de passagem, eram também canibais, pois comiam o fígado e o coração dos inimigos.

(Depois da fuga humilhante, irritado com a derrota incontornável, o “Che”, vendo um dos seus guerrilheiros em conversa íntima com uma africana, ordenou que o comandado ficasse de joelhos e, em seguida, deu-lhe malvadamente um tiro bem no meio da testa).

Numa carta dirigida à primeira esposa, Hilda Gadea, o carrasco que de arma em punho matou vários presos políticos na prisão de La Cabaña, e que era movido pelo ódio como fator de luta, escreveu: “Querida velha. Estou na selva cubana, vivo e sedento de sangue”.

É uma figura assim, transformada em santo pela eficiente máquina de propaganda marxista, que o Senado Federal, em detrimento dos verdadeiros heróis, vai homenagear.

É o fim!


Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, e autor de livros como A Era Lula, Cultura e Desenvolvimento e Politicamente Corretíssimos. Também é conferencista e foi Secretário Nacional da Cultura.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Desejo, logo existo?

Por Psicólogo Luciano Garrido

Os prejuízos causados pelo ativismo político do Conselho Federal de Psicologia são realmente incalculáveis. Quando uma determinada ciência é prostituída em benefício de ideologias, sua reputação cai no mais absoluto descrédito. Os critérios de validade que fundamentam a produção do conhecimento, e que são universalmente aceitos, acabam substituídos pela conveniência política daqueles que detém circunstancialmente o poder – mesmo que seja o poder de uma simples autarquia.

Assim, a “boa teoria” não é mais aquela que resiste ao teste de realidade ou apresenta um valor heurístico considerável, mas a que atende a certos anseios pessoais ou coletivos, por mais intangíveis que sejam. E se os fatos negam a ideologia, tanto pior para os fatos. É que as construções ideológicas, em seu substrato mais íntimo, se assentam sobre disposições afetivas bastante arraigadas, algo que lhes confere uma capacidade de resiliência fora do comum. As ideologias não prestam contas à realidade: se limitam a criticar o que existe em nome do que não existe, e talvez jamais possa existir. É nesse ambiente de inspirações obscurantistas e degradação intelectual que a psicologia tem se tornado terreno fértil para toda sorte de impostores e demagogos.

A última audiência pública que discutiu a “cura gay” – assim carinhosamente batizada pela imprensa – foi um exemplo típico dessas distorções. Nela, houve um deputado que se sentiu à vontade para opinar sobre assuntos relacionados à Psicopatologia. Quais eram suas credenciais? Basicamente, um diploma de jornalista e uma fama exaurida em programa de reality show.

O grande problema, na verdade, não está tanto na tagarelice dos palpiteiros de ocasião, mas no silêncio obsequioso com o qual boa parte dos psicólogos vem testemunhando disparates desse jaez. Isso mostra que a patrulha ideológica do Conselho Federal de Psicologia alcançou o efeito almejado, e a esta altura dos acontecimentos, suponho eu, já decretou toque de recolher até na comunidade acadêmica. Enquanto os psicólogos se escondem nos consultórios e guardam o mais absoluto mutismo, o deputado Jean Wyllys vem à tribuna para dizer o seguinte:

“É óbvio que alguém homossexual vai ter egodistonia, mas por viver numa cultura homofóbica que rechaça e subalterniza sua homossexualidade. O certo seria colocar o ego em sintonia com seu desejo, é sair da vergonha para o orgulho.”

Se bem entendi a opinião do deputado, ele parte da premissa de que o desejo sexual possui primazia sobre o ego; logo, é o ego que deve estar em sintonia com o desejo, e não este em sintonia com aquele. Isso, segundo o sr. Wyllys, é que é o certo. Para efeito de argumentação, vou tomar a palavra “certo” no sentido aproximado de “normal”, já que não parece sensato supor que o certo, nesse caso, significa algo bizarro, anômalo ou desviante.

Dito isso, eu perguntaria ao sr. Wyllys: por que não considerar como certo – ou normal, como queira – o desejo sexual que está em conformidade com o sexo biológico? Quais os critérios utilizados pelo deputado para definir seu padrão de normalidade? É preciso que ele aponte os fundamentos clínicos, teóricos, filosóficos, ou até metafísicos, sobre os quais está apoiada sua opinião.

Sigmund Freud, por exemplo, que é considerado o maior psicólogo clínico de todos os tempos, pressupunha em sua teoria a existência de um registro real da sexualidade – “a diferença entre os sexos” – como causa do desejo para o sujeito. Essa idéia, aliás, foi condensada numa de suas célebres frases, segundo a qual “anatomia é destino”. Em momento algum Freud disse que o desejo sexual era destino. Donde se depreende que a anatomia do sujeito é um dado de realidade anterior a qualquer processo subjetivação, e, como tal, deve orientá-lo. Aliás, não só a anatomia, mas a fisiologia também.

Se o real precede o imaginário e o simbólico, e se o ego é a instância psíquica regida pelo “princípio de realidade”, como ensinava Freud, é natural que as pessoas achem certo (ou normal) que o desejo sexual esteja em sintonia com a realidade corporal.

O que leva o desenvolvimento psicossexual de alguém a perder-se nos desvãos de suas angústias e fantasias, levando-o a desordens na identidade sexual, é algo passível de investigação científica – e, quiçá, de solução terapêutica viável. Existem muitas tentativas de entender o fenômeno (“fixação narcísica”, “horror à castração”, etc), propostas por vários estudiosos da sexualidade humana – Freud entre eles. Porém, se a cultura encara com certa perplexidade ou estranhamento as práticas homossexuais, isso não dá margem para presumir que a patologia esteja obrigatoriamente na cultura, como pretende o deputado Jean Wyllys ao chamá-la de “homofóbica” (na verdade, o intuito não é diagnosticar uma patologia, mas proferir um simples insulto).

A capacidade de discernir o real do irreal, de diferenciar os estímulos provenientes do mundo exterior dos estímulos internos, está na própria gênese do processo de subjetivação. Freud designava como “prova de realidade” a esse dispositivo que, de maneira gradativa, consolida as funções superiores da consciência, memória, atenção e juízo, entre outros atributos que singularizam a natureza humana, razão pela qual se encontram tão enraizados na cultura. A esse respeito, é Freud quem diz:

“A educação pode ser descrita, sem hesitação, como o incentivo à superação do princípio do prazer, à substituição dele pelo princípio de realidade.” (Formulações sobre os dois princípios do funcionamento psíquico, Freud, 1911)

Sendo ainda mais específico, os critérios de doença e saúde utilizados pela disciplina da psicopatologia também pressupõem em grande medida essa distinção elementar entre fenômenos meramente subjetivos e a realidade objetiva. É dentro dessa perspectiva que o delírio e a alucinação se constituem como exemplos extremos de manifestações patológicas que perturbam, respectivamente, o juízo e a percepção da realidade. Enquanto que os devaneios e as fantasias, embora considerados benignos sob o aspecto da higidez mental, nem por isso deixam de ser igualmente irreais.

Por tudo isso, não surpreende que o filósofo racionalista René Descartes, ao cabo de uma longa reflexão, tenha concluído que o fundamento indubitável da existência deve repousar sobre as faculdades humanas superiores, idéia cuja fórmula ganhou expressão lapidar no seu cogito, ergo sum. Já o sr. Wyllys, o que faz? Como um bom hedonista, quer nos convencer de que o fundamento da existência humana reside mesmo é nas forças cegas do baixo-ventre, o que na mais respeitável filosofia de alcova pode ser equacionado por outro mote, qual seja, o libido, ergo sum. Quem acredita que o ego deve se curvar aos desejos sexuais é porque lhes confere um estatuto primordial na própria definição de natureza humana.

Ainda que não houvesse quaisquer parâmetros para se discutir a sexualidade humana, e que todas as opiniões, portanto, fossem colocadas na vala-comum das idiossincrasias pessoais, subsistiria o fato de que as pessoas pautam suas vidas por valores. Colocar a mera fruição do desejo sexual como o que há de mais sublime na vida humana pode não ser uma regra válida para todos. O que na concepção de uns significa “sair da vergonha para o orgulho”, pode ser o inverso para muitos outros, conforme as diferentes cosmovisões que se adote.

É por isso que o psicólogo não pode usar de sua autoridade profissional na tentativa de abolir sentimentos de vergonha ou culpa em seus pacientes. A missão do psicólogo clínico, segundo Freud, limita-se a transformar o sofrimento neurótico em infelicidade humana normal – essa que todos nós, em maior ou menor medida, sentimos. Quem acredita que o objetivo da psicoterapia é liberar os desejos sexuais de suas “amarras” culturais, convertendo indivíduos neuróticos em discípulos de Marquês de Sade, é porque pretende impor suas convicções hedonistas aos demais. Como alertava o psicanalista Gregory Zilboorg:

“O Homem não pode ser curado das exigências ético-morais e religiosas de sua personalidade, que nele vivem e dele fazem o que realmente é. Só o morboso, o irreal e inútil podem ser analisados.”

Em outra direção, tornou-se lugar-comum o argumento de que o homossexualismo seria prática natural porque é observada com freqüência em diversas espécies animais. Esse entendimento, porém, é bastante falho, pois compara entre si fenômenos essencialmente diversos. Ainda que, em uma determinada espécie, se observe o coito em indivíduos do mesmo sexo, não se pode defini-lo como homossexualismo sem incorrer naquilo que os etólogos chamam de “antropomorfização” do comportamento animal.

Os animais não possuem desejo sexual no sentido empregado por nós. Animais possuem tão-somente impulsos sexuais, e esses impulsos, em condições normais, seguem o comando fixo dos instintos estabelecidos ao longo de sua cadeia evolutiva. Acrescente-se que, sob a ótica da evolução, não pode haver algo como um “instinto homossexual” entre animais, pois é certo que os indivíduos com essa tendência não repassariam sua carga genética adiante. Até um suposto “instinto bissexual” teria chances bem reduzidas de proliferação, já que seria uma desvantagem bastante palpável se olharmos pela perspectiva ampla da escala evolutiva.

A hipótese explicativa mais plausível para a ocorrência desse fenômeno entre os animais segue outra direção. Quando premidos por um forte impulso sexual cujo meio de satisfação original encontra-se ausente, os animais comportam-se de modo a favorecer uma satisfação alucinatória do impulso. Quem nunca testemunhou cães que, ao verem-se privados de uma fêmea, passam a “montar” em nossas pernas, simular o coito em outros animais, no ursinho de pelúcia ou no ”puff” da sala? Por que não poderiam fazê-lo – como de fato o fazem – em outros cães do mesmo sexo? Se isso for homossexualismo, o que seriam os outros comportamentos?

Segundo Freud, o modo de satisfação alucinatório também é encontrado nos seres humanos, bem nos primórdios de seu desenvolvimento. Bebês que choram de fome e são acalmados por uma chupeta, ainda que não estejam sendo nutridos, experimentam também um modo de satisfação alucinatório. Com o passar do tempo, na medida em que acumulam frustrações e percebem que esse tipo de mecanismo não é capaz de aplacar a fome, as crianças o abandonam em favor de um “sentido de realidade”. É a partir desse momento que ego vai se estruturando no aparelho psíquico. Mas só os seres humanos são capazes disso.

fonte - http://psicologiasemideologia.blogspot.com.br/2012/07/desejo-logo-existo.html

domingo, 22 de julho de 2012

Na cama com o Hamas e o PC do B

 Por Alexandre Ostrowiecki (para o Pletz)


Porque existe um caso de amor entre esquerdistas e terroristas?

Esquerdistas amam terroristas islâmicos. É sentimental. É carnal. Eles se adoram. Estudantes de faculdades de ciências humanas habitualmente usam Keffiehs em sinal de solidariedade aos palestinos. Quando dos atentados de 11 de setembro, esquerdistas no mundo inteiro enxergavam justiça poética na derrubada das torres americanas nas mãos dos “povos oprimidos”. Recentemente, professores universitários de Paris declararam ao Hisbolah que “sua luta é a nossa luta”. Engraçado observar esse fenômeno porque, a primeira vista, não poderia haver dois grupos mais distintos.

Esquerdistas acreditam em direitos iguais para mulheres. Terroristas islâmicos acreditam em deixar mulheres trancadas em casa debaixo de burcas. Esquerdistas acreditam em gays saindo do armário e fazendo passeatas. Terroristas islâmicos acreditam em cortar o pescoço dos gays. Esquerdistas são pró-aborto. Terroristas islâmicos são anti-aborto. Esquerdistas tendem a seguir a tradição marxista do ateísmo. Terroristas islâmicos são… bem… islâmicos.

No entanto, por trás dessas diferenças cosméticas, existe uma profunda convergência em termos de visão de mundo. Ambos são autoritários. Ambos tendem ao totalitarismo no sentido de que pretendem controlar todos os aspectos da existência humana. São violentamente anti-capitalistas e ambos consideram que os indivíduos só existem para servir ao coletivo. Acima de tudo, o fator que os une é o inimigo comum. Ambos detestam a cultura da liberdade, ambos odeiam a democracia republicana. Mais especificamente, ambos consideram os Estados Unidos como sendo o símbolo de tudo o que impede as idéias deles de prosperarem. E se um País como Israel, por exemplo, é amigo dos americanos, então certamente é inimigo da esquerda.


Sob esse prisma é possível entender essa estranha aliança e algumas posições bizarras das esquerdas. Elas alegadamente defendem uma bandeira humanista e progressista. No entanto, quando se defrontam com as maiores aberrações da política externa internacional, se calam. Onde estão as esquerdas na hora de denunciar os abusos de direitos humanos do Irã? Cadê as passeatas de estudantes contra o genocídio de cristãos sudaneses, mortos às centenas de milhares pelo governo islâmico? Quem protestou quando o governo islâmico dos talibans demoliu estátuas e monumentos budistas milenares. Procure-se a voz de protesto, mas só se escutará silêncio. Agora ai de Israel se resolver revistar um navio a caminho do Hamas. A Europa pára. As universidades param. Bandeiras são queimadas, palavras de ordem são gritadas. É uma hipocrisia tão grotesca na forma como tais humanismos são praticados, esse humanismo seletivo e unidirecional, que só nos resta indagar sobre os motivos de tal obsessão.

Denunciar a hipocrisia não equivale a assinar embaixo de tudo o que o governo de Israel faz. Está aqui um autor que condena categoricamente a expansão de assentamentos judaicos nos territórios palestinos. O governo atual de Israel, um apanhado de partidos de direita, extrema direita e religiosos, tem feito muito menos do que o possível pela paz, para usar um eufemismo. No entanto, quando se acompanha as críticas feitas a Israel, é preciso separar aquelas críticas inteligentes, construtivas e factuais da gritaria automática que a turba da esquerda faz.

Ironicamente, as esquerdas que atualmente bajulam o terrorismo seriam esmagadas completamente numa eventual vitória da barbárie sobre a civilização. Não existe espaço para a “revolução socialista” na agenda fundamentalista. Adeptos de uma visão estrita e combativa do Islã, tais grupos levam ao pé da letra os conceitos de guerra santa do Alcorão. Segundo tais grupos, o mundo está numa eterna divisão entre o Dar-al-Islam (casa do Islã, ou seja, territórios governados pelo Alcorão) e o Dar-al-Harb (casa da guerra, ou seja, o resto do Mundo). É dever de todo bom jihadista empreender a guerra santa para que todo o Dar-al-Harb seja convertido para o verdadeiro caminho.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Nova identidade das salas do IFBA

Proposta de sinalização e comunicação visual 
do IFBA-Salvador

Internamente, para facilitar a localização e identificação, padroniza-se a numeração e nomenclatura das salas, laboratórios, estruturas administrativas e demais dependências de forma lógica e racional. A adoção de um padrão fácil de ser compreendido dá ao usuário autonomia de deslocamento e localização, a partir da assimilação deste sistema.
Preferencialmente, denominam-se os blocos e as salas, oferecendo ao observador uma sequência lógica e facilmente dedutível, por exemplo: os blocos mais próximos do acesso principal seriam, então, o A, B, C, até os mais distantes, considerando mesmo os blocos que ainda estejam em projeto. A numeração das salas seguiria a mesma sequência, podendo-se utilizar em um corredor, por exemplo, números pares de um lado e ímpares de outro.



A princípio, deve-se considerar que todos os ambientes, independentemente de sua função e uso, seguirão uma numeração única e sequencial (composta da letra do bloco, pavimento e número da sala) que permanece inalterada, mesmo que se modifique a função daquele espaço.



Exemplificando: a nomenclatura B203 indicaria um ambiente que se localiza no segundo andar do bloco B, seja esse espaço uma sala, um anfiteatro ou futuramente um laboratório.

IFBA-Placas setores

IFBA-Placas informativas 

 IFBA-Placas advertencia

Fonte - Anexo da Portaria no 115, de 4 de janeiro de 2012 do IFSP

Milagres privados e maldades estatais

Instituto Ludwig von Mises Brasil


por Fernando Chiocca

Gugu Liberato e Luciano Huck são respectivamente os apresentadores dos quadros Sonhar Mais Um Sonho e Lar Doce Lar, ambos praticamente iguais. Eles consistem em selecionar a casa de uma família, geralmente muito pobre e que tenha uma história de muito sofrimento, demolir, e construir uma nova, moderna, com tudo que existe do bom e do melhor. Tudo isso em uma ou duas semanas, período esse em que a produção do programa leva a família para uma viagem de férias. A produção também presenteia as famílias com cursos, maquinário de trabalho e às vezes até novos empregos.
Estes quadros são versões brasileiras do programa da TV americana Extreme Makeover: Home Edition, que foi ao ar de 2003 a 2012. Nele, o apresentador Ty Pennington comandava as reconstruções das casas de famílias americanas, também pobres e sofridas. A diferença é que, devido ao fato de os EUA serem um país que vivenciou um longo período de grande liberdade econômica, a acumulação de capital lá, ou seja, a riqueza, é muito maior, ao passo que os pobres daqui são muito mais miseráveis do que os de lá. Mas a fórmula do programa é sempre a mesma, e já se espalhou com sucesso por diversos países.

Eu já me considerava fã do programa americano que era exibido no Brasil na TV a cabo, e passei a acompanhar suas versões brasileiras sempre que posso. Não só pelas emocionantes histórias, mas também até pelas ótimas dicas de reforma e decoração — foi lá que fiquei sabendo da existência de coisas como a torneira que abre e fecha com um toque. Porém, analisando o show a partir da ótica praxeológica, podemos ver as maravilhas que ocorrem ali: uma família, vivendo uma vida dura e morando em condições pra lá de precárias, sem nenhuma perspectiva de melhora, faz uma viagem de férias (muitas delas pela primeira vez na vida) e, quando retorna para o mesmo endereço poucos dias depois, tem não só uma casa incrível e confortável, como também novas e melhores oportunidades de trabalho. Tudo isso sem a família gastar nem um tostão. Isto é ou não é o que podemos chamar de milagre?

E como todo milagre, ninguém sabe bem como acontece. Como é possível que algo assim ocorra? De onde surgem essas casas? Para alguém ganhar uma casa sem esforço, outro alguém deve ter perdido uma casa, ou o valor correspondente.

A primeira impressão é a de que as redes de televisão abriram mão das casas. Ou, como muitos contemplados parecem acreditar, que o apresentador arcou com todos os custos — em uma entrega de casa ao vivo, uma senhora até deixou o Gugu sem graça, pois chegou a se ajoelhar diante dele em agradecimento. Mas, obviamente, nem a rede de TV e nem o apresentador perdem nada; ao contrário, eles ganham muito dinheiro com o programa.

Todo o material usado na construção e na decoração é doado pelas empresas que os fabricam e os comercializam. Em troca, eles têm suas marcas anunciadas durante os programas. E nos intervalos outras empresas pagam muito dinheiro para aparecerem. Então são os anunciantes que estão sendo subtraídas dos valores referentes às casas, certo? Muito menos! As empresas que anunciam em televisão fazem fortunas em decorrência destes anúncios. Seus produtos passam a ser — ou se mantêm sendo — vendidos em larga escala, proporcionando altíssimos lucros.

Então agora tudo ficou claro. Só podem ser os consumidores destas empresas que juntos perdem uma casa para a família ganhar uma casa. Cada um deles deve arcar com uma fração do custo das casas, ao pagarem mais caro pelos produtos dos anunciantes do programa. Errado novamente. Estes consumidores não perdem nada, apenas ganham. Ao comprar os produtos dos anunciantes, estes consumidores trocam aquilo que valorizam menos — seu dinheiro — por algo que valorizam mais — o produto. Muitas vezes, se não fosse pelos anúncios, os consumidores não tomariam conhecimento dos produtos, e acabariam trocando seu dinheiro por um produto menos valorizado por eles do que o anunciado.

Não resta mais ninguém nessa cadeia de envolvidos no processo. Espere! Já sei a resposta. São os trabalhadores dessas empresas, que são explorados pelos patrões, recebendo um salário menor do que merecem, e a diferença vai para cobrir os custos das casas. Não. Os empregados não perdem nada, só ganham. Eles trocam seu trabalho por salário no presente, em vez de terem o valor total do produto produzido num futuro incerto. E alguns destes trabalhadores ainda devem o emprego à expansão de vendas gerada pela participação da empresa no programa que presenteia as famílias com as casas.

Não consigo pensar em mais ninguém. O que aconteceu afinal? Ninguém teve de perder nada para as famílias ganharem as casas? Não foi nem sequer um ato de caridade, no qual o doador teria ao menos de abrir mão do valor de uma casa para doar uma casa? Uma família morando em condições deploráveis, ganha uma casa nova e ainda todos os envolvidos no processo também ganham algo? Está querendo me dizer que isso é realmente algum tipo de milagre? Sim, estou. E este milagre chama-se livre-mercado. Livre mercado nada mais é do que o que foi descrito acima: trocas voluntárias de títulos de propriedade. E para uma troca voluntária ocorrer, necessariamente ambas as partes envolvidas devem ganhar. É somente quando a coerção entra na equação que uma parte perde para outra ganhar. Ou então as duas partes perdem e o agente coercitivo não envolvido na troca, ganha.

. . . o livre mercado "maximiza" a utilidade social, já que todos ganham em utilidade. A intervenção coercitiva, por outro lado, significa per se que um ou mais indivíduos coagidos não teriam feito o que fazem no momento, não fosse pela intervenção. O indivíduo que é coagido a dizer ou não alguma coisa, a fazer ou não uma troca com o interventor ou outra pessoa, tem suas ações modificadas por uma ameaça de violência. O resultado da intervenção é que o indivíduo coagido perde em utilidade, pois sua ação foi alterada pelo impacto coercitivo. Qualquer intervenção, seja autística, binária ou triangular, leva os sujeitos a perderem em utilidade. Na intervenção autística ou binária, cada indivíduo perde em utilidade; na intervenção triangular, ambos ou pelo menos um dos possíveis permutadores perde em utilidade.[1]

Na sociedade atual, o principal agente coercitivo é o estado. Vamos agora analisar como o estado atua a partir do seguinte episódio do quadro Sonhar Mais Um Sonho:


Em primeiro lugar o governo proíbe que uma casa seja construída em uma ou duas semanas. Nesse período, não é nem sequer possível dar entrada com os papéis que ele exige para autorizar uma simples reforma. E o tempo mínimo que se leva para se obter um alvará de uma obra é de 30 dias. Sem o tal do alvará, homens armados do estado proíbem que uma obra se inicie. É a primeira de inúmeras das intervenções coercitivas do estado sobre o livre mercado, quebrando a cadeia em que todos ganham, fazendo com que partes passem a perder para outras ganharem. E como ganham. Em São Paulo, o responsável pela "liberação" de obras particulares ganhou em sete anos mais de 120 apartamentos, no valor de R$50 milhões. O conceito de se "liberar" é absurdo. Uma obra é uma troca voluntária de livre mercado entre duas partes. O estado intervém coercitivamente e proíbe a troca, exigindo pagamentos e cumprimento de requerimentos para "liberar" a troca. Neste caso de pagamento de propinas de São Paulo, o interventor coercitivo ainda foi 'menos pior' do que um que não aceitasse o suborno, deixando o mercado agir com uma obstrução menor. Estes programas de televisão são contemplados com uma exceção a esta regra nefanda, que prejudica todo o resto da população.

Agora voltemos ao episódio. Já no primeiro minuto, descobrimos que se trata da família da Lucinéia, a "Tia do Doces". O governo entra nesse ponto com a facínora agência Anvisa, que transforma a atividade que sustenta essa humilde família em crime. Fabricar cocada em casa e vender para consumidores voluntários, sem atender às especificações de fabricação, transporte e conservação dos agentes coercitivos da Anvisa é proibido. Isso sem contar que Lucinéia não "emite nota fiscal", não paga nenhum imposto — ou seja, consegue fugir do assalto dos agentes coercitivos da Receita Federal, Estadual e Municipal. Se estes bandidos da Anvisa ou da Receita a pegarem, ela teria seus doces confiscados e poderia sofrer agressões ainda maiores. Olhando as condições de vida dessa família é impossível não enxergar a maldade em que consiste a função destes funcionários públicos.

No minuto 8:00, ficamos sabendo que a família está tentando construir com muito esforço a "casa" em que moram há mais de 5 anos — e não conseguiram fazer quase nada! Nesse momento, lembramos que os impostos diretos sobre os materiais de construção são de 32,80%. Se não fossem por estes impostos diretos, esta família poderia ter construído mais 1/3 do que conseguiram até então. A intervenção coercitiva dos impostos sozinha fez com que eles perdessem 1/3 do pouco que tinham! E o que não foi construído é o que Bastiat chamou de o que não se vê. O mal que os impostos causam é hediondo.

E quando chegamos ao minuto 9:15, eu considero que já podemos encerrar os exemplos das incontáveis intervenções coercitivas malévolas, pois esta chega a um nível de maldade que dispensa continuarmos. Neste ponto, Lucinéia revela que a casa não possui chuveiro. Ela precisa esquentar água num fogão à lenha para a família conseguir tomar banho. E logo depois, no minuto 12:00, ela nos mostra o banheiro sem o chuveiro. Você leitor tem alguma noção do que é não ter um chuveiro? Obviamente, não é por opção voluntária que eles não têm chuveiro. Eles não possuem chuveiro porque não têm dinheiro para comprar chuveiro. Um chuveiro é caro demais para eles! Um chuveiro elétrico do modelo mais barato custa por volta de R$50[2] e, até o dia da visita do Gugu, eles não conseguiram fazer sobrar este valor para comprar um chuveiro. E é aí que podemos ver mais uma imensa maldade gerada pela intervenção coercitiva do estado, que, com os impostos, encarece o preço do chuveiro e impossibilita o acesso a esse produto para os mais pobres, como a família da Lucinéia.

A formação de um preço no livre mercado se dá no encontro do vendedor marginal com o comprador marginal. Você que está lendo este texto provavelmente não deve ser um comprador marginal de chuveiro elétrico. Se morasse em uma casa sem chuveiro, pagaria R$75, R$100, R$150 e até R$300 por um chuveiro elétrico quando o inverno chegasse, caso estes fossem os preços dos chuveiros. Muitos certamente trocariam mais de R$1.000 por um chuveiro. Mas o comprador marginal atual é aquele que paga R$50; e se o preço fosse R$51, ele não teria o chuveiro. O potencial comprador que pagaria R$49, não tem o chuveiro. Lucinéia estava abaixo da margem. Ela não tinha o chuveiro. Um imposto de 30% que faz com que o preço do chuveiro vá de R$38 para R$50, faz com que os compradores marginais aos preços de R$39, R$40, R$41 até R$49 fiquem sem chuveiro. E funcionários públicos cobradores de impostos fizeram isso com a família da Tia do Doce, e estão fazendo isso com os mais pobres. Esta intervenção coercitiva pode receber um nome diferente de maldade pura? Podemos somar aí todos os impostos indiretos, todas as barreiras alfandegárias que impedem a entrada de chuveiros importados ainda mais baratos, as regulamentações que encarecem a produção e inibem o surgimento de produtores concorrentes etc. De fato, o estado inclusive já interveio coercitivamente no mercado de chuveiro com a declarada intenção de apenas aumentar seu preço e impedir que mais pessoas o comprassem.[3]

É isso. Enquanto Gugu, Huck e os outros apresentadores orquestram uma sinfonia verdadeiramente milagrosa, na qual pessoas agindo voluntariamente no livre mercado ganham com suas ações, que resultam em uma família miserável recebendo uma linda casa de presente, as intervenções coercitivas dos agentes estatais enredam um filme sádico de terror. São as ações cotidianas de fiscais da Receita, de policiais federais nas alfândegas, de funcionários das aduaneiras portuárias e de toda e qualquer pessoa que obstrui ou impede violentamente o livre mercado que personificam a pura maldade que vemos no banheiro da Lucinéia.





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[1] Governo & Mercado, Murray N. Rothbard. Livro que será publicado em breve pelo Instituto Ludwig von Mises Brasil

[2] Uma leitora informa que comprou recentemente um chuveiro elétrico por apenas R$25. E, de fato, podemos encontrar chuveiros por até menos que isso, como este por R$23,90. Isto torna o artigo duas vezes mais estarrecedor.

[3] Os impostos sobre a conta de luz e outras intervenções coercitivas no mercado de geração e distribuição de energia, como regulamentações e proibição de concorrência (monopólio), contribuem ainda mais para que as famílias mais pobres não possam ter chuveiros elétricos, encarecendo muito o seu uso.

Fernando Chiocca é um intelectual anti-intelectual, praxeologista e conselheiro do Instituto Ludwig von Mises Brasil.



Fonte - http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1359


Os "barnabés" da psicologia

do Psicólogo Luciano Garrido


“Fala-se dos homossexuais. Trata-se dos homossexuais. Não se curam os homossexuais. E o mais impressionante é que não são curados, a despeito de serem absolutamente curáveis” (Jacques Lacan, Seminário ‘As formações do Inconsciente’, livro 5, Capítulo XI,  pág. 214, ed. Jorge Zahar, 1999)





Suponhamos que a Psicanálise estivesse regulamentada como profissão no Brasil e seu órgão de classe fosse à imagem e semelhança do Conselho Federal de Psicologia. Suponhamos ainda, caro leitor, que o eminente psicanalista Jacques Lacan, uma vez nascido brasileiro, cá estivesse entre nós, mais vivo do que nunca. Alguém tem dúvida de que as declarações em epígrafe, feitas durante um de seus inúmeros seminários, seriam motivo suficiente para atiçar a fúria dos ativistas LGBTs, deflagrando contra seu autor uma espécie de campanha macarthista? Creio que não. Com toda certeza, veríamos uma militância radical e facciosa despejar sobre o hipotético “Conselho Federal de Psicanálise” – doravante designado pela sigla CFP – uma saraivada de protestos, denúncias e representações disciplinares, algo capaz de infernizar a vida de qualquer profissional consciencioso.

Imagine a cena kafkiana: conselheiros do CFP se reúnem às pressas num gabinete cor-de-rosa da capital para redigir censura pública contra um dos maiores psicanalistas do século XX! Como qualquer pessoa razoável, você deve estar se perguntando de que autoridade intelectual ou moral se valem esses conselheiros, e se existiriam de fato motivos plausíveis para punir o psicanalista. Alguma heresia? Algum pecado capital? Algum delito de opinião? Nada disso. A grande encrenca de Jacques Lacan é que sua opinião sobre a “cura gay”, certa ou errada, se pauta unicamente por critérios empíricos, teóricos e/ou clínicos. E se há uma coisa que os conselheiros, ou melhor, que os “comissários do povo” não podem aceitar, é a “alienação” de uma “ciência burguesa”.

Na cartilha submarxista dos comissários, toda e qualquer construção teórica que se atenha aos indícios e evidências da prática clínica, padece de um vício de origem absolutamente intolerável.  Idéias sem pedigree ideológico não assumem “compromissos sociais”, não propiciam o engajamento político ou favorecem a “justiça social”. E não adianta. Por mais que você tente explicar aos comissários que o maior compromisso social da ciência é produzir conhecimento, eles não querem nem saber. O negócio deles é afagar ativistas radiais e barulhentos, coisa que sempre fazem sob o nobre pretexto de defender os “direitos humanos”.

É nessa atmosfera mental que pronunciamentos como o de Jacques Lacan, independente do mérito científico que porventura tenham, acabam sendo alvo dos mais variados vitupérios. Como bons burocratas, os comissários do CFP fogem às discussões teóricas, sobretudo quando o assunto é complexo e demanda certo esforço intelectual. Para eles, é mais fácil baixar uma resolução e, usando seu poder de polícia, suprimir possíveis controvérsias.

A lógica stalinista dos comissários do CFP funciona como o tribunal da rainha de copas em Alice nos País das Maravilhas. Se existe uma contenda científica em torno d’algum tema, eles proferem a sentença por meio de uma resolução, e só depois, quando se instaura o processo disciplinar, é que vem o julgamento. Eu sei que o método não é lá muito democrático, mas é o jeito soviético de ser dos nossos comissários.

Agora, sejamos francos: existe gesto mais boçal do que “barnabés” de uma repartição pública chamando às falas um intelectual do porte de Jacques Lacan? Logo ele, um queridinho das esquerdas, acusado injustamente de “reforçar preconceitos sociais” (vide art. 3º da resolução 01/99), apenas porque teve a petulância de defender publicamente a tal “cura gay”? Quanta infâmia, não?!
E se esse "linguarudo" pensa que seus problemas acabaram, está enganado. Tão-logo os ativistas gays se dêem conta de que suas mais loucas pretensões foram averbadas pelo carimbo de um órgão oficial, eles largam o mundo da fantasia e passam imediatamente ao ato, iniciando uma verdadeira "caça às bruxas" contra o ilustre psicanalista. Assim, eles se infiltram no seu consultório, filmam clandestinamente sua prática clínica, jogam sua reputação profissional na sarjeta, até que o pobre coitado, infectado por uma espécie de lepra social, perde por completo os meios de subsistência. Quem já não viu esse filme? Basta lembrar o caso da psicóloga Rozângela Justino, contra a qual foi perpetrado o maior “assassinato de personalidade” já registrado na história da psicologia brasileira.

Mas, caro leitor, nem só de simpatias gayzistas vive nosso hipotético CFP. As teses materialistas e atéias também despertam afinidades entre os comissários. Embora não cheguem ao ponto de assumi-las em público, suas tendências niilistas acabam transparecendo sob a forma atenuada de um discurso laicizante. Com a alegação de que defendem uma “ciência secular” desde a autoridade de um Estado laico, o CFP crê piamente que pode impedir psicólogos de professar sua fé ou manifestar adesão a valores religiosos. Nem precisa lembrá-los de que as garantias constitucionais, válidas para todos os cidadãos, também se aplicam aos psicólogos.  Basta que eles entendam que, num Estado laico, só quem não pode ostentar preferências religiosas é o próprio poder público, e não os cidadãos que ele governa. O mesmo raciocínio se aplica à relação existente entre o CFP e seus associados.

Eu me pergunto, cá com os meus botões, o que fariam os comissários do CFP se um dia topassem com as seguintes declarações:

1.      “Coisa alguma da mensagem do Cristo está em contradição com as descobertas freudianas”  

2.      “Freud, sem o saber, estabeleceu uma base empírica de vida que está de acordo com o ideal cristão.”

Alguém arriscaria um palpite sobre sua autoria? Quem pensou na psicóloga Marisa Lobo, errou. Tais declarações partiram de dois renomados psicanalistas, a saber, François Dolto e Gregory Zilboorg, respectivamente. A primeira delas foi retirada do livro Os Evangelhos à luz da Psicanálise (Verus editora, 2010) e a segunda, do livro Psicanálise e Religião (Editora Vozes, 1969). Ambos eram cristãos professos e escreveram obras com o objetivo de, cada um a seu modo, estabelecer interseções entre a religião cristã, a mensagem bíblica e a psicanálise. E fizeram isso, diga-se de passagem, com uma boa dose de criatividade. Mas será que os comissários do nosso hipotético CFP teriam a audácia de intimar os psicanalistas cristãos à sede da autarquia, e em seguida ameaçar-lhes com um processo disciplinar, caso as menções ao cristianismo não fossem retiradas de suas obras num prazo de 15 dias? Chegariam a tanto? Ninguém se sabe...

O certo é que a tragédia da psicologia brasileira, como se vê, beira o mais rematado ridículo. Os conselhos de psicologia, em sua maior parte, foram tomados por uma horda de bárbaros, uma arraia-miúda cuja mentalidade foi forjada na agitação das passeatas, na violência dos piquetes e no burburinho dos diretórios acadêmicos. Quanto mais intelectualmente inepta, quanto mais inculta, tanto mais essa corriola exala seu fanatismo ideológico.  Como não possui argumentos, persegue, intimida e protesta com gritos e palavras de ordem.  Quando dialoga, o faz com aquela linguagem manietada dos clichês e slogans politicamente corretos. Enfim, seus atos e pensamentos refletem os paradoxos de uma loucura: são intolerantes quando clamam por tolerância, totalitários quando defendem a diversidade, injustos quando reivindicam direitos e autoritários em nome da democracia.

Viva o comissariado do povo!

domingo, 15 de julho de 2012

Liberdade Econômica, IDH e Renda Per Capita de Países Selecionados

Paulo Roberto de Almeida
Coletei alguns dados, de países diversos, selecionados ao acaso, mas bastante representativos do grupo de alto IDH e de médio IDH, com apenas um (Madagascar) de baixo IDH e baixíssima renda per capita (e também um de alto IDH, mas de “baixa” renda per capita no grupo dos avançados, a Coreia do Sul).

Pensei escrever algo, mas os dados são tão eloquentes que dispenso-me de comentar o que quer que seja, salvo para evidenciar o óbvio: a distância de IDH não é assim tão grande, mas as diferenças de renda per capita são enormes. Nenhum país no segundo grupo supera 10.000 dólares de renda, ao passo que com a exceção da Coreia (cuja renda PPP, no entanto, alcança quase 30 mil dólares), todos os países do primeiro grupo exibem alta renda per capita.

A variável explicativa, do meu ponto de vista, é o índice de liberdade econômica. Pode até ser que a Rússia ostente um índice próximo de 0,8 em termos de IDH, mas seu indicador de liberdade econômica não parece nada brilhante. Quanto à China, país notoriamente autoritário, e que ainda se define como “socialista”, ela possui um índice de liberdade econômica superior ao do Brasil.


Liberdade Econômica, IDH e Renda per capita (US$*) de países selecionados
Países de alto IDH, renda e liberdade
Países de baixo IDH, renda e liberdade
País
ILE
IDH
Renda
País
ILE
IDH
Renda
Noruega
7,30
0,938
85.340
Rússia
6,55
0,799
9.910
Austrália
7,98
0,937
43.590
México
6,74
0,750
8.930
EUA
7,60
0,902
47.240
Brasil
6,19
0,699
9.390
Canadá
7,81
0,888
41.950
Tunísia
6,40
0,635
4.060
Suécia
7,24
0,885
43.903
China
6,43
0,633
4.260
Alemanha
7,45
0,885
43.290
Egito
6,42
0,620
2.440
Japão
7,44
0,884
42.130
África Sul
6,49
0,597
6.090
Coreia Sul
7,32
0,877
19,890
Índia
6,40
0,519
1.340
Reino Unido
7,71
0,849
38.560
Madagascar
6,29
0,435
430
Fontes: Fraser Institute (Economic Freedom 2011); UNDP (HDI 2011); World Bank (World Development Indicators 2010); US$*= dólares correntes.

O que, aliás, é confirmado por esta simples correlação linear traçada pelo Fraser Institutue.


Brasília, 4/11/2011
 
 

O anúncio de Olavo Bilac

O anúncio de Olavo Bilac Autoria desconhecida Certa vez, um grande amigo do poeta Olavo Bilac queria muito vender uma propriedade rural, um ...