Por Ipojuca Pontes.
14 de outubro de 2007.
Confira mais em Artigos.
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Uma figura transformada em santo pela eficiente
máquina de propaganda marxista é o que o Senado Federal, em detrimento dos
verdadeiros heróis, vai homenagear.
“Não sou Cristo nem filantropo; sou todo o
contrário de Cristo”
“Che” Guevara em carta familiar
No próximo dia 23 de outubro, em sessão especial,
o Senado Federal vai prestar homenagem à memória do mitológico Ernesto “Che”
Guevara. Como se sabe, há 40 anos o “Che”, tentando levantar uma revolução
comunista nas selvas da Bolívia, foi capturado por pequena tropa comandada pelo
capitão Gary Prado, do Exército boliviano e logo depois executado pelo tenente
Mario Téran - não sem antes implorar pela vida: “Não disparem. Sou Che.
Valho mais vivo do que morto”.
O requerimento para a estranha celebração
política é de autoria do obscuro senador José Nery (PSOL-PA) - que
responsabilizou o “imperialismo ianque” pela morte do aventureiro mas cuja
desgraça, sabe-se, foi urdida pela vontade de Moscou, Fidel Castro e o PC
boliviano – e tem a aprovação de outro político esquerdista, Tião Viana (PT-AC),
vice-presidente do Senado.
Como registrei no meu livro “Politicamente
Corretíssimos” (Toopbooks, Rio, 2003), o mito Guevara não corresponde nem
de longe à realidade dos fatos. Salvo pela “revolução cubana” – efetivada, em
parte, pela inação dos Estados Unidos que abandonaram o sargento Fulgêncio
Batista e no início ajudaram Fidel Castro nas escaramuças de Sierra Maestra - a
vida do cruel revolucionário foi um completo fracasso: na órbita familiar, no
amor, à frente de ministério e banco, como comandante, “diplomata” e
guerrilheiro, para não falar no “ideólogo do foquismo” - sua trajetória humana e
social tributa larga soma de erros e equívocos que nem mesmo os biógrafos mais
entusiastas (entre eles, Jon Lee Anderson) conseguem dissimular.
Com efeito, filho de mãe “possessiva” e produto
de um lar “excêntrico”, desde cedo o “Che” só fez acumular fracassos. Por
exemplo: quando, como estudante, aspirava (em Córdoba/Argentina) realizar
casamento “burguês” com a prima rica Chinchina Ferreyra, que o repudiou; ou como
presidente do Banco Nacional Cubano, levando a moeda e a economia da ilha à
completa insolvência; ou ainda como ministro da Indústria de Cuba, quando
fracassou miseravelmente ao lado de Fidel, na obtenção de 10 milhões de
toneladas de açúcar que nem de longe atingiu; e nas frustradas negociações com a
Nomenklatura soviética em que pedia ajuda para industrializar Cuba e teve como
resposta um sonoro “não”; e na sua doentia pretensão de criar o “homem novo” e a
“sociedade nova” – enfim, em tudo que o desastrado guerrilheiro colocou as mãos,
só demonstrou elevado grau de incompetência e insensatez.
No levantamento dos sucessivos fracassos de
Guevara, propositadamente escondido pelos criadores de mitos, o que chama
atenção, no terreno em que se dizia “especialista”, é a sua derrota para os 100
mercenários do Coronel Mike Hoare nas planícies do Congo, em 1965. Vale a pena
lembrar.
Excluído da vida política e administrativa de
Cuba pelos russos, que sustentavam com bilhões de dólares o banquete de “la
revolución” e não o queriam por perto, Guevara saiu mundo afora. Sua idéia era
criar “um, dois, muitos Vietnãs” para debilitar o “imperialismo ianque”.
Julgando oportuno e financiado por Ben Bella (leia-se “petróleo argelino”) e
contemplado com armas chinesas, rumou para o Congo (ex-belga) e se juntou às
tropas rebeldes de Laurent Kabila, o jovem aspirante a ditador que, por sua vez,
queria derrubar o governo de Moise Tshombe e tomar o seu lugar.
Com 127 guerrilheiros cubanos e 3 mil soldados
congoleses bem armados, Guevara se internou nos charcos do país africano e
tentou derrubar Tshombe. Seus objetivos no Congo eram, pela ordem, privar as
fontes financeiras do governo provenientes das minas, obrigar a Bélgica a
reconhecer o novo Estado revolucionário, controlar os minerais estratégicos para
benefício do bloco socialista e, mais tarde, levar sua guerrilha até Angola.
Diante da ameaça, Tshombe contratou os serviços
do Coronel Mike “Mad” Hoare, mercenário sul-africano, especialista em guerra de
movimento nas selvas. Conforme registra o historiador Miguel A. Faria, em
“Escape of from lost paradise” (Hacienda Publishing, 2002), as derrotas
dos guerrilheiros do “Che” no Congo, foram “desmoralizantes”. Na batalha pela
hidrelétrica de Bendela, por exemplo, Hoare eliminou boa parte do exército
congolês e botou os guerrilheiros cubanos a correr.
Na batalha de Fizi Baraka, nas proximidades do
Lago Tanganica, Hoare encurralou Guevara e suas tropas, atacando-as pela
retaguarda, de madrugada, destruindo o serviço de comunicação e o centro de
abastecimento da guerrilha. No entrechoque fatal, Hoare eliminou 125 soldados
congoleses e deixou pelo chão mais de 600 feridos. O “Che”, que tinha prometido
aos seus comandados “devorar” com as próprias mãos os adversários vencidos,
bateu célere em retirada. No seu próprio diário sobre a experiência militar do
Congo (“Passagens da guerra revolucionária: Congo” - Record, Rio,
2005), diz que a experiência foi um “fracasso absoluto” e justifica a
clamorosa derrota pela “indisciplina” dos soldados congoleses - que, por sinal,
diga-se de passagem, eram também canibais, pois comiam o fígado e o coração dos
inimigos.
(Depois da fuga humilhante, irritado com a
derrota incontornável, o “Che”, vendo um dos seus guerrilheiros em conversa
íntima com uma africana, ordenou que o comandado ficasse de joelhos e, em
seguida, deu-lhe malvadamente um tiro bem no meio da testa).
Numa carta dirigida à primeira esposa, Hilda
Gadea, o carrasco que de arma em punho matou vários presos políticos na prisão
de La Cabaña, e que era movido pelo ódio como fator de luta, escreveu:
“Querida velha. Estou na selva cubana, vivo e sedento de sangue”.
É uma figura assim, transformada em santo pela
eficiente máquina de propaganda marxista, que o Senado Federal, em detrimento
dos verdadeiros heróis, vai homenagear.
É o fim!
Ipojuca Pontes é
cineasta, jornalista, e autor de livros como A Era Lula, Cultura e
Desenvolvimento e Politicamente Corretíssimos. Também é
conferencista e foi Secretário Nacional da Cultura.
Um comentário:
Muito obrigado pela visita ao meu blog. Um abraço.
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