terça-feira, 14 de maio de 2013

Classe operária não quer revolução, quer emprego - por Mario Tonocchi

Publicado em Segunda, 13 Maio 2013 22:38
Escrito por Mario Tonocchi


O populismo que domina a América Latina, hoje, é a expressão do fracasso do movimento comunista no mundo. Com o fim do socialismo e da União Soviética, a sobrevivência do radicalismo dos jovens que lutaram contra as ditaduras nos países abaixo do equador, apoiou-se na fórmula de dar à massa de necessitados o que eles precisam para formar sua base eleitoral. Foi o que afirmou ontem o escritor, poeta  e jornalista Ferreira Gullar na palestra O Neopopulismo no Brasil e na América Latina, ontem na  Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Para ele, essa tendência deve acabar no Brasil. 
Para o poeta, não existe, na vida cotidiana brasileira, espaço para ditadura de esquerda como o chavismo, na Venezuela, que tende a acabar com a morte de Hugo Chaves.

"O PT radical não sobreviverá. Terminado o período da ditadura no Brasil, o poder foi disputado por duas correntes de esquerda: a moderada de Fernando Henrique Cardoso e a radical de Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto pregou o radicalismo, Lula sempre perdeu a eleição presidencial. Só ganhou quando se apropriou do discurso moderado de FHC. O povo escolheu a esquerda moderada depois da ditadura. Com o fim do governo Dilma Rousseff, que encampou o populismo da ala radical montado no governo Lula, deve-se fechar um ciclo. O que vem de novo, como o provável candidato à Presidência Eduardo Campos, é a nova geração não ideológica", disse Gullar.

Ele também criticou os apoios que o governo Dilma dá aos governos populistas de esquerda e especialmente ao presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. "Ele é inqualificável. Mas o fundamental é: o que temos a ver com ele? A Dilma nem sabe quem ele é. O que acontece nessa rede de apoios entre os ditos governos de esquerda, hoje ditaduras ou populistas, é uma tentativa de manter uma tendência comunista que não existe mais no mundo." 

"Essa ligação é a expressão do esquerdismo de araque. A teoria de colocar a classe operária contra a burguesia acabou em colocar o pobre contra o rico", afirmou Gullar.
Ele classificou o capitalismo como algo natural do ser humano. Para ele, a tendência política capitalista é uma criação da humanidade gestada através das gerações. 

O socialismo, por outro lado, é uma criação intelectual e somente por isso durou apenas 100 anos. "Não se pode propor mudar radicalmente tudo o que foi criado pelo homem por centenas de anos." 

Ferreira Gullar lembrou de costumes como, por exemplo, tomar o café da manhã. Para que o consumidor tenha isso em casa, deve existir uma infraestrutura de produção, distribuição e transformação que foi gestada ao longo do tempo.

Para o poeta, estabelecer  lutas entre a classe operária e a burguesia ou os pobres contra os ricos como no Brasil atual, desvia o foco do debate. 

"Uma sociedade justa nunca acontecerá. Não acontecerá porque a natureza não é justa, mas sempre é possível uma sociedade melhor", afirmou o poeta. Também não é justo, segundo o escritor, condenar a classe empresarial como somente um elemento explorador do trabalho das classes trabalhadoras. 

"A classe operária não quer a revolução, quer manter o emprego. O empresário é um intelectual que em vez de fazer poesia faz empresas."



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