por: José Lamartine Neto
A filosofa política judaica/alemã Hannah Arendt conheceu bem de perto a privação de direitos e a perseguição na Alemanha de pessoas que tinha a mesma origem dela, pelo regime nazista, que também retirou-lhe a nacionalidade em 1937, tornando-a uma apátrida. Ela entende muito bem o significado do silenciamento e da desumanização. Lá, foi feito pelo estado mas, esta não é sua única forma de manifestação. Pessoas ou grupos podem se autorizar no exercício destas práticas deletérias de convivência.
Uma destas táticas é o do silenciamento que visa eliminar a capacidade do homem de usar a palavra e a ação, condição política de criação da diversidade e pluralidade. É através da palavra e da ação humanas que surge a dificuldade para concretização da política totalitária, cuja objetivo ultimo é dissolver os homens em "Um-Só-Homem de Dimensões Gigantescas", tornando-os marionetes, erradicando seu amor à liberdade, sua capacidade de agir (ARENDT, 1978, p. 518).
As facetas deste totalitarismo estão disseminadas no cotidiano em uma espécie de crença coletiva, um engajamento militante, agindo de maneira subliminar nos indivíduos, sendo portanto, inconsciente. O indivíduo, ao ter sua crença confrontada por uma situação ou outra pessoa, sente o efeito da dissonância cognitiva, um desconforto psíquico, entre o que está acontecendo e o que deveria acontecer. Para aliviar esta sensação este indivíduo pode recorrer a pelo menos duas formas de conduta, a partir da avaliação das circunstâncias de enfrentamento:
1) abrir mão de suas crenças pessoais e aderir a crença do grupo maior ou mais forte, principalmente se sentir acolhimento;
2) pode se manifestar contra o outro (indivíduo ou subgrupo), usando diversas táticas de silenciamento como a desmoralização pública, a desqualificação, a humilhação, a injúria, a calúnia, até o extremo possível, que é a eliminação física daquele sujeito (ou subgrupo) que gerou o incômodo. É esta situação que nos interessa.
É de se supor que exista uma deformação na natureza humana deste "Um-Só-Homem..." que o leva ao cerceamento do uso da palavra e da ação política do outro usando, segundo Hannah Arendt, instrumentos como o medo, o terror, a coerção, a propaganda ideológica, etc.
Agindo assim, o totalitarismo é capaz de obter a conformidade dos comportamentos e o posicionamento passivo, além da alienação total dos indivíduos. Estes perdem sua identidade cultural e religiosa e se descaracterizam.
O sujeito/grupo que provoca o isolamento do outro, quer destruir, mesmo que inconscientemente a capacidade política dos outros homens de agir, desagregando-os de suas vidas privadas e públicas, não permitindo sua coexistência, rompendo as relações que os unem.
Referencia:
ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. 4 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
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