Comentários do filme, por - José Lamartine Neto (2009)
Filme: Quanto vale ou é por quilo?
Direção: Sérgio Bianchi (2005)
Gênero: drama
O filme faz uma analogia entre o antigo comércio de escravos e a atual exploração da miséria pelo marketing social, com uma fachada de solidariedade.
A trama que ocorre nos nossos dias, envolve uma ONG que implanta um projeto Informática na periferia em uma comunidade carente. Dentre os vários profissionais que trabalham nesta Organização, existe uma que descobre irregularidades, que os computadores comprados foram superfaturados e, por causa disto, um dos gestores decide que ela precisa ser eliminada.
O filme retrata cenas do século XVII, registrado em documentos oficias, da relação entre senhores e escravos. Em uma delas, um capitão-do-mato sustenta a família pela captura de escravos fugitivos, recebendo o pagamento após entregá-los ao seu dono. Nos dias atuais, o personagem Candinho, um jovem desempregado cuja esposa está grávida, torna-se matador de aluguel para conseguir dinheiro para sobreviver, uma clara analogia, numa sofisticação dos métodos, adaptando-os aos instrumentos atuais.
O filme trata também da denuncia como negócio e, tematizando o uso econômico da miséria, faz da denúncia seu próprio negócio.
Com a participação da sociedade civil, neste atual jogo democrático, em prol de demandas não atendidas pelo Estado, as ONG’s, ou o terceiro setor, aparecem no filme funcionando como empresa, objetivando o lucro tendo incorporando seu discurso típico da responsabilidade social, solidariedade e sucesso.
Fazendo um paralelo com “A Violência urbana e a exclusão de jovens” de MELLO (2008) o filme mostra, de uma forma diferente a mesma violência e exclusão perversa, usando o discurso de exaltação do social ou solidariedade, usando o marketing na mídia para promover essa nova indústria, que gerencia a miséria e os miseráveis.
O uso da mídia/marketing como elemento de manipulação de uma verdade conveniente, como na seleção dos atores mirins para o comercial, aprofunda os elementos de formação de preconceitos e estereótipos, cujo objetivo é associar uma imagem de sucesso que deve ser investida.
O maior benefício que os recursos captados geram, segundo o filme, é para sustentação da “máquina”. Os jovens, beneficiários, são detalhe menor.
A participação fraudulenta nas licitações, o baixo rendimento dos recursos pelo bem que podem gerar é a denúncia do filme. Onde o Estado falta ou é ineficiente, permite o surgimento da corrupção e dos desvios com conseqüente aumento da distancia entre ricos e pobres, ampliando a exclusão social.
REFERENCIA:
MELLO, S.L. A Violência urbana e a exclusão de jovens. In SAWAIA, B. As artimanhas da exclusão – Análise psicossocial e ética da desigualdade social. 8ª. Edição. Petrópolis, RJ. Ed.Vozes, 2008
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