02 de janeiro de 2008
Além da aparência...
Algumas coisas que acontecem nas esferas de relacionamento (pessoal, política, familiar, etc.) são passíveis de críticas, algumas ferozes. Posturas, decisões, responsabilidade, compromissos, etc. podem ser analisados à luz de Nietzsche em “Além do bem e do mal”?
Fonte: internet
Pois justamente, inspirado pela obra do filósofo alemão, que este breve e modesto exercício se inicia, tomando como base uma época em que ainda não existiam as questões morais das pessoas convivendo entre si. Com o passar do tempo estes grupos foram se distinguindo uns dos outros e um destes, aquele de pessoas que se achavam mais fortes, nobres, saudáveis, ricos, etc - atribuíram a si e às pessoas e coisas que lhes diziam respeito, a característica de ser “bom”. Em contrapartida, tudo o que fosse fraco, pobre, doente, plebeu, diferente etc., era considerado “ruim”, possuidores do “mal”, entretanto não era atribuído, a essas características, um rigor moral, apenas classificatório.
Pois bem, os “bons” com seus atributos exerciam suas capacidades plenamente, e da forma que lhes apetecia. Abusavam, pilhando, se apossando, agredindo, oprimindo, e enfrentando, porque simplesmente podiam fazer isso, já que a referência de comportamento era seu próprio grupo. Ao manifestarem estas posturas, os mesmos eram possuidores de uma “Moral de Mestre”, segundo Nietzsche.
Os pobres, sofredores, oprimidos, plebeus ou doentes quando atacados, espoliados, oprimidos, fugitivos ou agredidos desenvolviam um sentimento de rejeição, um rancor, uma espécie de ressentimento em relação aos opressores. Esses oprimidos, a partir de então, além de artifícios de ironia e crítica, formaram uma auto-imagem que buscava, inconscientemente, equilibrar o sentimento de inferioridade, a falta de coragem e determinação, passando a utilizar atributos que consideraram positivos: caridade, abnegação, obediência etc., e por conta disso sentiam-se possuidores de algo louvável (dignos até de salvação divina). Dizem que sua miséria é uma prova, uma bem-aventurança, uma eleição. É claro que, quem não possuía esses atributos louváveis seria a própria encanação do mal, seres abjetos com postura e história de vida a serem evitados, sendo esta a “Moral de Escravo” ou “moral do ressentimento” de Nietzsche, que inverte a qualidade dos atributos dos grupos.
Nas palavras de Nietzsche, vontade e poder não podem separar-se. A vontade de poder é um querer dominar, um querer afirmar-se e superar-se. Força e exteriorização da força são uma e a mesma coisa, mas a Moral do Ressentimento ou do Escravo diz que o forte tem liberdade para exteriorizar ou não sua força: e, é claro, não é nada bom quando a exterioriza.
O que não dá pra esconder, e o filósofo trata disso muito bem, é que todo aquele que tem a “Moral de Escravo” deseja no seu íntimo, um dia, ser Mestre numa verdadeira inversão de valores, e por isso criticam e contestam antigas e novas relações de mando pelos seus desmandos ou posturas. Mas o pensamento, o esforço e as esperanças do “fraco” se voltaram, muitas vezes, para o novo.
A aplicabilidade do texto de Nietzsche existe. Pode-se notar os reflexos na ascensão política, econômica, ou acadêmica daqueles outrora oprimidos em várias lutas, mas que agora podem ter uma postura diferente, quem sabe com mais força, pois, tendo os papeis trocados, intitulam-se de “bons”, ou seja, de possuidores de uma “Moral de Escravo”, passaram a detentores da “Moral de Mestre”.
Todo um conjunto de valores éticos deste novo grupo passa a vigorar, no sentido de fazer valer sua “Moral” composta desde cargos, bens ou títulos acadêmicos até a relação com os colegas, com os amigos, com a família. As relações interpessoais mudam e alguns falam com saudosismo do passado em que “todos eram iguais”, outros falam com alguma negatividade o velho jargão “Dê o poder e a caneta ...”. Tempos idos...
Então, onde o pensamento de Nietzsche se aplica na nossa Instituição? Os Servidores (Professores e Técnicos Administrativos) possuem “Moral de Escravo” ou “ Moral de Mestre”? Em relação a quem?
É neste sentido que Nietzsche recomenda que se deva ir além as aparências. Ir além do bem e do mal ...
Um bom (e verdadeiro) Ano Novo a todos.
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