23 de janeiro de 2008
Esta semana, outra colega me manda um e-mail perguntando porque estava enviando uma certa frase no rodapé de meus e-mail´s. Foi assim...
> Lamartine,> Por que tem insistido tanto em nos enviar a frase abaixo?
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>> "Todos nós nascemos originais e morremos cópias." (Carl Gustav Jung)
> abraço cordial, "Colega X"
Oi Colega X,
Você me provocou um incômodo grande, sabia? Mesmo já tendo uma idéia acerca da citada frase, sua questão me estimulou a ir mais a fundo. E eu gostei mesmo disso e agradeço seu contato e sua perspicácia, sempre me ajudando a crescer e enriquecendo meu espírito.
Esta frase para mim tem sentido e significado quando associada à expressão exemplo.
O Jung tinha uma predileção pela cultura e religiões orientais. Certamente esta expressão vem daí, em que se referia à originalidade espiritual do nascimento em que acabamos de nos separar do pai, mãe, matriz, fonte, deus ou criador. Ao morrermos, nos afastamos mais da perfeição una da criação, tornando-nos cópias, imperfeitas na maioria das vezes, não do criador, que seria muita pretensão, mas quem sabe seguindo seu caminho, tendo-o como inspiração.
Penso também que ao nascermos somos absolutamente únicos no mundo. Em termos gerais, ao crescemos, aprendemos, sentimos e nos adaptamos ao nosso meio, que por sua vez se adapta a nós também. Esta aprendizagem, maior parte do tempo, envolve um outro ser humano, ou é através de outro ser humano. Albert Bandura, psicólogo e estudioso diz que nascemos criatura e nos humanizamos pela relação com os humanos. O sentido de cópia está presente nesta aprendizagem, nos exemplos.
A primeira influencia que a criança tem é da família, os exemplos do lar, depois os da sociedade. Aos poucos também, vamos sendo exemplos para outros numa interação ou relação de troca.
Ao morrermos, independente de nossa trajetória, somos a materialização de todos com quem convivemos e onde nossa própria personalidade se encarregou de filtrar o que aprendeu.
Daí a importância de estar com as pessoas certas na hora de aprender e buscar ser um bom exemplo na hora de ensinar. No inicio de minha atividade docente, há mais de 25 anos, ainda na ETFBa, cheguei a imitar um ou outro professor até descobrir meu próprio estilo. Logo, quer queiramos ou não somos modelos para nossos alunos. Cabe, acredito, uma escolha: Que modelo queremos ser?
Quando se fala em Instituição de formação profissional, aí a coisa fica feia. Percebe-se as soluções de improviso. Tapa-se buraco em todo canto, se faz emenda, gato e gambiarra. Pois bem, o que nossos alunos vão aprender? A repetir o modelo. Tudo bem que alguns podem argumentar que é o uso da criatividade na solução de problemas. Solução emergencial, um paliativo, temporário, etc. Seja o que for, tem que se tomar muito cuidado pois, boa parte das coisas neste país começa como provisório, emergencial, enquanto se aguarda, ansiosamente pelo definitivo de qualidade. A experiência nos mostra que nem sempre isso ocorre, já que existe um grande risco do provisório vir a se tornar definitivo, como foi o caso da CPMF. A idéia e o projeto inicial na mente do projetista é original, perfeita. Mas quando vem para o real, aparece a gambiarra, a cópia. O Platão falava das formas e das idéias também. Segundo ele, no mundo das idéias tudo é perfeição e aqui, neste plano, imitações que, por mais perfeitas que achemos, são distantes do ideal. Qual, então, deve ser o pensamento do pai de aluno que nos visita, ou do provável parceiro de negócios ou do parceiro técnico quando vê as nossas próprias soluções? Inspirará confiança?
Não quero aqui assumir nenhuma posição piegas de perfeição. Quem sou eu. Mas acredito cada vez mais que existe uma cultura interna que vai absorvendo o tal “jeitinho” que nos imortaliza enquanto povo.
Então colega X, quanto ao fato de “todos nós nascemos originais e morremos cópias” é como um alerta para não deixar que a cópia nos mate antes da hora. Mate a nossa reputação e o nosso esforço.
Um excelente dia pra você e um abraço
Lamartine
2 comentários:
Caro José, como tenho dificuldade em concordar com essa frase de Jung, prefiro a de Victor Hugo(1802-1885):“Não imites nada nem ninguém.
Um leão que copia um leão torna-se um macaco.”
Caro Oduvaldo, posso também concordar com V.H. porém para atender ao seu pensamento e não imitar ninguém me pergunto até que ponto somos efetivamente inéditos?
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